Textos relacionados com os 'posts' do Ponte da Pedra

dezembro 16, 2009

Kéraban o cabeçudo

1883. Kéraban le Têtu (Kéraban the Inflexible) [ 2 volumes ]
Jan Van Mitten and his valet Bruno (both of Rotterdam, Holland) are in Constantinople, Turkey. The pair is going to meet with Van Mitten's tobacco business associate, a headstrong man named Kéraban. At Van Mitten's meeting Kéraban decides to take them to dinner at his home in Scutari on the other side of the Bosphorus Strait. Just before they are going to cross the Strait a tax is imposed on all vessels that can be used to cross the strait. Enraged by this new tax, Kéraban decides to take his associates to Scutari by traveling seven hundred leagues around the perimeter of the Black Sea so that he won't have to pay the paltry 10 paras tax. Kéraban, this man of principle, and his reluctant traveling companions begin the journey; the only deadline for Kéraban is that he must be back in 6 weeks time so that he may depart in time to arrange for his nephew's wedding to a young woman who must be married before she turns seventeen. If she doesn't meet that deadline, she won't inherit 100,000 Turkish pounds. Unfortunately for Kéraban and friends the villains Yarhud, Scarpante and the man they work for Seigneur Saffar have plans to ensure that the young woman gets married to Saffar before the deadline.

dezembro 15, 2009

Da terra do espumante

Produção de espumante da Bairrada aumenta 10%
por Lusa, publicado em 15 de Dezembro de 2009

A produção de espumante certificado da Bairrada deverá atingir este ano 1,4 milhões de garrafas, um crescimento de cerca de 10% em relação ao ano passado, segundo dados fornecidos à Lusa pela Comissão Vitivinícola.
A região da Bairrada representa mais de metade da produção de espumante do país - cerca de seis milhões das 11 milhões de garrafas - se tivermos em conta não apenas o certificado mas todo o espumante, proveniente de produtores individuais, adegas cooperativas e caves.
A Bairrada é, por isso, a “principal produtora de espumante do País, apesar de só uma parcela da produção ter denominação de origem da região”, disse à Lusa José Pedro Corte Real, secretário-geral da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), sedeada em Anadia.
“Mesmo em cenários de crise, o espumante da Bairrada sempre teve um comportamento honroso e, paulatinamente, tem aumentado todos os anos”, sublinhou.
O espumante da Bairrada é consumido sobretudo em Portugal mas é também exportado para Brasil, Espanha, Canadá e Angola, este último um mercado que começa a ter uma “grande apetência” sobretudo para os meio-secos.
Angola é, de resto, o principal mercado de exportação dos vinhos tranquilos (não espumosos) da região da Bairrada (40 por cento ultrapassa a fronteira) e “poderá vir a ter uma grande importância no consumo dos espumantes”, na opinião do responsável pela Comissão Vitivinícola.
Canadá e Estados Unidos são outros “mercados de interesse” para o espumante da Bairrada e que, durante os próximos três anos, estarão também no centro das campanhas de promoção do produto no exterior.
"São mercados com grandes potencialidades e para onde esperamos que as exportações possam subir”, disse José Pedro Corte Real.
Em Portugal, o consumo de espumante “está a alterar-se”, deixando de estar associado apenas a festividades, como o Natal, Ano Novo, Páscoa ou aniversários.
“O espumante tem uma capacidade quase universal de casar bem com todo o tipo de pratos gastronómicos, incluindo os avinagrados”, afirmou Corte Real, acrescentando que “em cada casa da Bairrada há sempre uma garrafa no frigorífico”, pronta para ser aberta.
Espera-se que o espumante venha a ter “um papel mais importante” na Região Vitivinícola da Bairrada, assumindo-se como um “embaixador da região, aliado ao leitão”, disse aquele responsável.
Com uma área de 9.500 hectares de vinha, a Bairrada é apontada como a região do País onde a produção de espumante terá começado, no final do século XIX, mantendo até hoje a “técnica mais nobre”, também chamado método clássico, de fermentação em garrafa.
Dos cerca de 90 produtores/engarrafadores da região, 50 são também de espumante, que para ter denominação de origem certificada terá de ser submetido a um estágio mínimo de nove meses e produzido com castas da região, sendo utilizadas a tinta Baga e as regionais brancas Bical e Cercial, bem como as brancas Arinto e Fernão-Pires (designada na Bairrada por “Maria-Gomes”).

novembro 23, 2009

http://malaposta.blogspot.com/

"Malaposta na História"
Modelo português da Malaposta de 1854[Photo]A descrição inserida no título do blog é necessariamente resumida.Malaposta será, em rigor, uma palavra composta ou hifenizada: Mala-Posta. Mas, como acontece com muitas outras palavras (quem não se lembra, por exemplo, de cincoenta que passou a cinquenta e quatorze a catorze), a Mala-Posta "modernizou-se" e passou a ser Malaposta. Quem circula pela IC2/N1 no sentido norte-sul, 200 metros antes de entrar para o parque automóvel do restaurante "Pompeu dos Frangos", muito perto da primeira (onde se situa o "Pedro dos Leitões") das dez polémicas rotundas seguidas da Mealhada, existe um marco sinalizador de localidade, onde se lê: Malaposta. Assim, sem hífen. É evidente que, no sentido sul-norte e à mesma distância do "Pompeu", num cruzamento semaforizado, lá se encontra idêntica placa.O Pompeu dos Frangos ocupou, há mais de 44 anos, as instalações que foram uma importante estação da Malaposta, adaptando-as a restaurante. Parte do grande edifício, na entrada e nos anexos do parque, ainda é possível descortinar sinais de antiguidade. Nas paredes encontram-se vários paineis em azulejo, com gravuras das diligências, cenas da lavagem dos cavalos, os passageiros e suas bagagens, as malas do correio e, numa das gravuras, a descrição mais sucinta (em letra da época, floreada): A Jornada, A Ceia, A Muda, A Pernoita. Possuo mais material que me foi disponibilizado pelo actual proprietário do Pompeu dos Frangos, Carlos Aires (desde há 44 anos, tendo sucedido a seu pai), material esse que, com outro recolhido da Internet, servirá para ir alternando a descrição do blog.Já me dei ao trabalho de consultar a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, cuja descrição é muita extensa mas também complexa, no sentido em que "diz-se que diz-se", nomeadamente quanto a datas. Por outro lado, não faltarão publicações históricas sobre o primeiro "veículo" que conseguiu a proeza de ligar Lisboa ao Porto. Entretanto, por mero acaso (e já não estou seguro de ter sido a partir do Letras Com Garfos) encontrei um post intitulado A Chegada da Malaposta (ao Porto), posted by Joaquim, titular do blog Debaixo da Ponte. Tal post insere uma reconstituição a óleo dum modelo português da Malaposta de 1798 e uma peça histórica, "A Chegada da Malaposta" por José Manuel Lopes Cordeiro, datada de Domingo, 10 de Outubro de 1999. Haverá outras versões, as datas não são rigorosas (foram os romanos que começaram a construir a estrada, a Malaposta ia acompanhando o ritmo, houve paragens na obra, só de Lisboa a Coimbra demorou 9 anos, mais 6 até chegar ao Porto e os assaltos à mão armada sucediam-se, pelo Guedelhas, Zé Pequeno, João Brandão, Zé do Telhado e outros, de tal modo que os passageiros mais previdentes não enfrentavam a viagem sem deixarem testamento!...)A imagem supra corresponde ao modelo português da Malaposta de 1854. Possuo em arquivo modelos das Malapostas francesas, belgas e inglesas - mas não são aqui chamadas, não só porque não querem entrar juntamente com as portuguesas, mas, essencialmente, porque o que nos interessa é a nossa Malaposta!
publicada por a.castro às 0:12 a 15/Set/2009

novembro 17, 2009

outubro 28, 2009

Paixão da vinha

Vinha é nova paixão de empresário português que fez fortuna na relojoaria

O toque de modernidade da adega das Colinas de São Lourenço, tida como uma das mais avançadas a nível tecnológico, quase que poderia ser suficiente para perceber o que atraiu o fundador da Roger Dubuis, Carlos Dias (na foto, em baixo), para a aquisição daquela marca de vinhos.
Afinal, a aposta na inovação parece ter sido uma regra de ouro no percurso trilhado por este empresário português na firma suíça de relógios de luxo. Mas não terá sido esta a verdadeira ou única razão que levou Carlos Dias a comprar esta propriedade e marca da Bairrada a Sílvio Cerveira, antigo autarca de Anadia. Quem o conhece garante que a a sua paixão pelos vinhos é de longa data. A aquisição da Colinas de São Lourenço pelo empresário foi confirmada ao PÚBLICO por Custódio Dias, irmão de Carlos Dias, e também ele administrador da marca e adega da região bairradina. Apesar de se ter escusado a revelar os valores que estiveram envolvidos na aquisição, Custódio Dias afirmou que este terá sido apenas o primeiro de vários investimentos no sector. Segundo concretizou, Carlos Dias acaba de adquirir também uma adega na zona do Minho. Esta entrada do empresário no mercado da produção nacional de vinhos acontece depois de, em Agosto do ano passado, ter vendido a sua posição maioritária da Roger Dubuis à Richemont (que engloba as marcas de luxo Cartier e Montblanc, entre outras). "Os vinhos sempre foram uma das suas paixões, e não há paixão sem razão", relatou o irmão do empresário, ao mesmo tempo que especificava que Carlos Dias sempre apostou em ter "uma garrafeira notável". A escolha da Bairrada para primeiro investimento não será alheia ao facto do empresário de sucesso, nascido em 1956, ser natural do concelho de Águeda, em plena região bairradina. Face ao caminho e sucesso traçados pelo empresário Carlos Dias no mundo da relojoaria - criou a Roger Dubuis em 1995 e, em poucos anos, transformou-a numa das maiores referências mundiais do sector -, entre os produtores da Bairrada, há quem olhe para esta entrada do investidor no sector local com bom olhos, augurando um maior reconhecimento dos vinhos desta região no país e no mundo. "Apesar de não o conhecer pessoalmente, acredito que irá, certamente, valorizar os vinhos da região da Bairrada", confessou ao PÚBLICO Luís Pato, um dos mais reconhecidos produtores. "Se produzia relógios de luxo, apostará também em produzir vinhos de grande qualidade", declarou ainda Luis Pato, a propósito do novo proprietário das Colinas de São Lourenço. Já Carlos Campolargo, outro dos produtores da Bairrada, escusou-se a comentar a aquisição das Colinas de São Lourenço pelo empresário do mundo da relojoaria, bem como a perspectivar se a entrada de Carlos Dias para o grupo de produtores locais poderá trazer mais valias para a região. Campolargo limitou-se apenas a reconhecer que "provavelmente, para quem dispõe de meios, este é um belíssimo momento para investir no sector". (ver caixa) Uma aposta na excelência A Sociedade Agrícola Colinas de São Lourenço, que há cerca de dois meses passou para as mãos de Carlos Dias, foi criada em 2001, por Sílvio Cerveira, antigo presidente da câmara municipal de Anadia e descendente de uma família com tradição na produção de vinho na região. O investimento partiu de uma quinta familiar situada em São Lourenço do Bairro, expandindo-se com a aquisição de mais hectares de vinha (80 hectares no total) e a construção de uma adega moderna. A produção teve início em 2002 e não foi necessário muito tempo para a marca se afirmar no mercado nacional e também a nível internacional, com alguns dos seus vinhos a serem distinguidos além fronteiras. Desde o primeiro momento que a marca Colinas de São Lourenço assumiu o objectivo de apostar na procura da excelência. Contudo, e segundo dados recolhidos pelo PÚBLICO, a sociedade agrícola acabou por registar prejuízos, entre 2004 e 2007. Só neste último ano, os resultados líquidos foram negativos em cerca de 400 mil euros. No início de 2007, a empresa fez um aumento de capital, injectando um total de 1,8 milhões de euros. Após esta operação, que permitiu maior liquidez, o capital social passou de 500 mil euros para 2,3 milhões de euros. Já este ano, em finais de Março, Sílvio Cerveira, que era o maior accionista (com 50 por cento do capital) e a mulher, Maria Helena Cerveira, que detinha 30 por cento do capital - os restantes 20 eram detidos por Nuno Cerveira -, cessaram funções de gerência. E é precisamente nesta altura que Custódio Dias e Fernanda Marques entram como gerentes, tal como Carlos Dias, que tem maior preponderância em termos de decisão na gestão. *com Luís Villalobos
2009-05-08 09:10
Maria José Santana*, Público

outubro 10, 2009

Recordando o Dr. Andrade

Amigo do meu avô e médico na Malaposta, a propósito do revivalismo do fenómeno Amália, sobre quem ouvia histórias em surdina à mesa do café.

César Seabra - Engenheiro mecânico formado em Coimbra, é a principal relação amorosa da vida de Amália, tendo ficado conhecido, até ao casamento em 1961, no Brasil, como o «noivo brasileiro». Apesar de ter namorado todas as misses do Brasil – e, de quando se conheceram, tivesse existido uma paixão inicial – César traz estabilidade à vida emocional de Amália, depois do período conturbado com Eduardo Ricciardi: um homem sorridente, bem vestido, muito simpático, muito carismático, com quem Amália casa por companhia e amizade - é com ele que vai viver para o Brasil, deixando de cantar durante dois anos.
Tratam-se por «você» e têm uma intimidade familiar e confortável. César tem imenso sentido de humor e é isso que cativa Amália. Mais tarde, os dois terão amantes e dormirão em quartos separados. Mas o entendimento acaba por ser longo.

agosto 28, 2009

Carlos Paião

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Carlos Manuel de Marques Paião (Coimbra, 1 de Novembro de 1957 — Rio Maior, 26 de Agosto de 1988) foi um cantor e compositor português.
Nasceu acidentalmente em Coimbra, passando toda a sua infância e juventude entre Ílhavo (terra natal dos pais) e Lisboa. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa (1983), acabando por se dedicar exclusivamente à música. Desde muito cedo Carlos Paião demonstrou ser um compositor prolífico, sendo que no ano de 1978 tinha já escritas mais de duzentas canções. Nesse ano obteve o primeiro reconhecimento público ao vencer o Festival da Canção do Illiabum Clube, com o tema Play-Back.
Em 1981 decide enviar algumas delas ao Festival RTP da Canção, numa altura em que este certame representava uma plataforma para o sucesso e a fama no mundo da música portuguesa. Playback ganhou o Festival RTP da Canção de 1981 com a esmagadora pontuação de 203 pontos, deixando para trás concorrentes tão fortes como as Doce. A canção, uma crítica divertida, mas contundente, aos artistas que cantam em play-back, ficou em penúltimo lugar no Festival da Eurovisão de 1981, que se realizou nesse ano em Dublin, na República da Irlanda. Tal classificação não "beliscou" minimamente a popularidade do cantor e compositor, pois Carlos Paião, ainda nesse ano, editou outro single de sucesso e que mantém a sua popularidade até hoje: Pó de Arroz. O êxito que se seguiu foi a Marcha do Pião das Nicas, canção na qual o cantor voltava a deixar patente o seu lado satírico.
Algarismos (1982) foi o seu primeiro LP, que não obteve, no entanto, o reconhecimento desejado. Surgiu entretanto a oportunidade de participar no programa de televisão Foguete, com António Sala e Luís Arriaga. Num outro programa, Hermanias (1984), Carlos Paião compôs a totalidade das músicas e letras de Serafim Saudade, uma caricatura criada por Herman José, já então uma das figuras mais populares da televisão portuguesa.
Em 1983, cantava ao lado de Cândida Branca Flor, com quem interpretou um dueto muito patriótico intitulado Vinho do Porto, Vinho de Portugal, que ficou em 3.º lugar no Festival RTP da canção.
Em 1985, concorreu ao Festival Mundial de Música Popular de Tóquio (World Popular Song Festival of Tokio), tendo a sua canção sido uma das 18 seleccionadas em mais de 2000 representativas de 58 países.
A editora EMI - Valentim de Carvalho tinha inclusive chegado a encomendar a Carlos Paião canções para outros artistas, entre os quais o próprio Herman José, que viria a alcançar grande êxito com A Canção do Beijinho, e Amália Rodrigues, para quem escreveu O Senhor Extra-Terrestre (1982), cuja letra chegou mesmo a constar dum manual para alunos de escola primária.
A 26 de Agosto de 1988, a caminho de um espectáculo em Penalva do Castelo, morre em um violento acidente de automóvel, na antiga estrada EN1, actual IC2. Na altura, surgiu o boato de que na ocasião de seu funeral não estaria morto, mas sim em coma, porém a violência do acidente por si nega o boato, pois a sobrevivência a este seria impossível. No entanto, o boato sobre o artista ter sido sepultado vivo permanece até os dias actuais. Por ter morrido, no dia seguinte ao incêndio do Chiado, a sua morte passou de certa forma despercebida. Nesta altura, estava a preparar um novo álbum intitulado Intervalo, que acabou por ser editado em Setembro desse ano, e cujo tema de maior sucesso foi Quando as nuvens chorarem.
Compositor, intérprete e instrumentista, Carlos Paião produziu mais de quinhentas canções, tendo sido homenageado em 2003, com um CD comemorativo dos 15 anos do seu desaparecimento - Carlos Paião: Letra e Música - 15 anos depois (Valentim de Carvalho).
Em 2008, por altura da comemoração dos 20 anos do desaparecimento do músico, vários músicos e bandas reintrepretam alguns temas do autor na edição de um albúm de tributo, "Tributo a Carlos Paião"[1][2].
Discografia
Álbuns
Algarismos - LP (EMI, 1982)
O Melhor de Carlos Paião - Compilação (EMI, 1985)
Intervalo - LP (EMI, 1988)
O Melhor de Carlos Paião - Compilação 2CD (EMI, 1991)
Os Singles - Compilação (EMI, 1993)
Pó de Arroz - Colecção Caravela - Compilação (EMI, 1996)
Cinderela - Colecção Caravela - Compilação (EMI, 1997)
Letra e Música: 15 anos depois - Compilação (EMI, 2003)
Play-Back - Colecção Caravelas - Compilação (EMI, 2004)
Perfil - Compilação (Som Livre, 2007)
Compactos
Souvenir de Portugal / Eu Não Sou Poeta (EMI, 1981)
Play Back (EMI, 1981)
Pó de Arroz / Gá-gago (EMI, 1981)
Marcha do Pião das Nicas / Telefonia Nas Ondas do Ar (EMI, 1982)
Zero a Zero / Meia Dúzia (EMI, 1982)
Vinho do Porto, Vinho de Portugal - com Cândida Branca Flor (1983)
O Foguete (1983)
Versos de Amor (EMI, 1985)
Arco Íris (EMI, 1985)
Discoteca (EMI, 198?)
Cinderela (EMI, 198?)
Cegonha (EMI, 1986)
Quando as Nuvens Chorarem (EMI, 1988)

junho 19, 2009

Morreu ontem

BREVE MANIFESTO ANTI-PORTAS EM PORTUGUÊS SUAVE.
"Real Senhor ía passando... Encostado à bananeira, diz o preto para preta: está bonita a brincadeira."
1.- Estava eu 'posto em sossego' - aprestando o barquito da família para umas passeatas na Ria -, quando soube que vinham albergar em Aveiro nada menos que 2-intelectuais-2 de Lisboa, apostados em trocar a missanga de meia-dúzia de refervidas ideias por um açafate cheio do marfim eleitoral deste Distrito.De pronto apostado em estragar-lhes o negócio, ainda ponderei então a conveniência de dar um salto algarvio à Praia dos Tomates - para um tonificante estágio 'à la minuta', junto da elite bem-pensante e vegetariana da Capital em férias.Todavia, depressa desisti desse passeio para o sul - confiado em que a singela funda-de-David, que sempre me acompanha, bastaria para atingir e abater essas aves de arribação.Não é que não goste de pássaros. Gosto. Mas detesto os cucos políticos - que usurpam e se instalam com à-vontade nos ninhos feitos por outros companheiros (ía a escrever 'camaradas' - expressão regional caída em desuso, mas recuperável).

2.- Deixando os eufemismos, a verdade é que venho lutando desde há muitos anos (frustradamente embora) contra o latrocínio institucional de que a região de Aveiro vem sendo vítima: designadamente, tiraram-nos o Centro Tecnológico da Cerâmica; o Centro de Desportos Náuticos foi também para Coimbra; o discreto porto da Figueira da Foz vem sendo privilegiado em relação ao porto-de-mar de Aveiro; a nossa Universidade só começou a receber dotações decentes depois de saturada a Universidade do Minho; as questões da bacia do Vouga são tratadas na Hidráulica do Mondego; a Direcção dos Serviços da Segurança Social de Aveiro foi transferida para Coimbra; os nossos Serviços de Saúde foram degradados para 'sub-regionais'; a Agricultura do Distrito passou a ser dirigida pela Lusa Atenas e por Braga (!); e a supervisão da Educação na região foi repartida entre o Porto e a dita Coimbra.

3.- Só nos faltava agora mais essa: sermos doravante representados no Parlamento por dois intelectuais da Capital!Era o cúmulo passarem os Deputados por Aveiro a ser gente de fora - 'estrangeiros' para aqui impontados por Lisboa, como 'comissários políticos para zona subdesenvolvida' ou 'tutores de indígenas carecidos de enquadramento'.Tinha que reagir - e reagi !

4.- Na verdade, o Distrito de Aveiro sempre foi terra de franco acolhimento para quem vem de fora - para aqui trabalhar e viver, valorizando a região (que se torna também sua). Aliás, é esse um dos segredos do nosso crescimento e desenvolvimento. É esta uma das características da nossa identidade: somos gente aberta e hospitaleira, tolerante e liberal, civilizada, moderna, culta e progressiva; todavia - até por isso - nunca tolerámos que nos impontassem mentores!

5.- Disposto a barrar a promoção (à nossa custa) a tais intrusos, procurei apurar quem realmente sejam.

6.- Quanto ao Dr. Pacheco Pereira, foi-me fácil saber que, antes e depois do '25 de Abril', foi comunista radical - daqueles que (aos gritos de "nem mais um soldado para as colónias") impediram designadamente que Portugal pudesse ter evitado a guerra civil em Timor (e a subsequente invasão indonésia - com os dramas e horrores tão sobejamente conhecidos).Com sólida formação marxista-leninista, o Dr. Pacheco Pereira tem vários livros publicados sobre o movimento operário e os conflitos sociais em Portugal no início do século.Constou-me ter agora no prelo um longo escrito sobre as motivações íntimas que o terão levado a renegar o comunismo - opção ideológica que (a manter-se) não lhe teria permitido 'fazer carreira' no PSD, como é evidente...Todavia, segundo notícias de certo semanário, o Dr. Pacheco Pereira recusa o jogo de equipa que a social-democracia pressupõe: ditadorzinho, não quer na campanha eleitoral em curso a companhia do Dr. Gilberto Madail - que limita às vulgares tarefas de motorista: guiá-lo pelo Distrito (que mal conhece). Realmente, o Dr. Pacheco Pereira ainda carece de alguma reciclagem democrática...

7.- Quanto ao Dr. Portas, esfalfei-me a correr bibliotecas e alfarrabistas - à procura dos livros que tivesse dado à luz, donde pudesse inferir qual seja afinal a corrente de pensamento que o norteia. Baldadamente. De facto, o Dr. Paulo Portas apenas publicou um 'folheto de cordel' (que me custou 750$00) sobre os malefícios da integração do nosso país na Comunidade Europeia - opúsculo sem qualquer novidade em relação aos numerosos bilhetes-postais que vem subscrevendo no seu jornal (sem erros ortográficos, mas com pouco fôlego - valha a verdade).Digamos que tais escritos estão para o 'ensaio' como as quadras populares para o 'poema' - na forma e no conteúdo.Trata-se de breves crónicas fúteis (embora não tanto como as do MEC, que aliás lhe leva a palma no sentido de humor e imaginação). Espremidas - pingam apenas cinco ou seis ideias, que não chegam sequer para conformar o anarco-conservadorismo (?) que se arroga ser a sua actual matriz ideológica.

8.- Certo é porém ter sido com essas 'quadras soltas' que o Dr. Portas concorreu aos jogos florais da política recente - ganhando (por 'menção honrosa') a viagem turística ao círculo eleitoral de Aveiro, que o Partido Popular oferecia como prémio para o melhor trabalho apresentado por amadores sobre o tema do 'antieuropeísmo primário'.Tenho-me esforçado por lhe estragar tal passeio - com algum êxito.

9.- Julgavam o Dr. Portas e o enfadado Pacheco Pereira (outro excurcionista) que as respectivas candidaturas a deputado por Aveiro eram 'favas contadas'. Não nos conhecendo, supunham que os aveirenses ('provincianos' como nos chamam) ficaríamos enlevados e até agradecidos pela sorte (grande) de passarmos a ser representados no Parlamento por 'lisboetas de tão alto gabarito' (a expressão não é minha, evidentemente).Terão assim ficado surpreendidos pelo 'impedimento' que - logo após a 1ª anunciação - eu próprio (parente muito chegado da noiva) entendi opôr firmemente ao casamento-de-conveniência que pretendiam contraír com a minha querida região de Aveiro (num escandaloso golpe-de-baú eleitoral - para usar linguagem de telenovela).Como consequência imediata, eles - que tencionavam 'casar por procuração' (que é como quem diz sem-sequer-cá-pôr-os-pés) - tiveram que se dar ao incómodo inesperado de interromper as regaladas férias que gozavam e vir mesmo mostrar-nos os seus dotes.Estraguei-lhes o arranjinho!

10.- O primeiro a comparecer foi o Dr. Portas.Chegou de fato novo e ideias velhas.E instalou-se num hotel da região - escolhido pela mãezinha (no Guia Michelin).Desde então, quase não tem feito outra coisa senão passar a 'cassete' - que gravou contra a participação de Portugal na Comunidade Europeia.Tão desenvolto como qualquer vendedor de banha-da-cobra, impinge a quem se acerca as suas críticas à integração (aliás com a mesma monotonia com que o Marco Paulo repete ter dois amores).E confunde deliberadamente os erros crassos cometidos pelo cavaquismo (nas negociações internacionais e no desenvolvimento interno das políticas sectoriais da integração) com a própria integração - o que constitui uma desonestidade intelectual inaceitável.Pior é quando reclama que seja submetida a referendo a nossa entrada na União Europeia - depois de já termos entrado (e... recebido os milhões e milhões que essa opção facultou aos incompetentes governos do PSD) ! Aliás, o Portas não explica sequer que mirífica alternativa à comparticipação na CE teríamos podido escolher.

11.- Confrontado com questões políticas mais comezinhas (como a regionalização e o tratamento dos resíduos tóxicos), não tem opinião própria ou não sabe para que lado lhe convém cair - e refugia-se então na evasiva: reclama um plebiscito 'adequado'.

12.- Fundamentalista e vaidoso, o Dr. Portas parece estar convencido de que não existe mais nenhum português inteligente e verdadeiramente patriota - além dele e do Dr. Manuel Monteiro.Aliás, o Portas tem o nosso povo em fraquíssima conta...Não obstante, messias da restauração, reclama 'missionários' (sic) para o seu ridículo sebastianismo - sem revelar de que Alcácer Quibir pretende afinal a reconquista.

13.- Inseguro, o jovem Portas sublima os seus problemas existenciais numa catarse de legitimidade duvidosa: exacerba as opiniões políticas que defende a um grau de intolerância que excede manifestamente o radicalismo aceitável de quem se move apenas por convicções arreigadas - tornando-se injusto, maledicente e agressivo.Aliás, o frenesim que reveste a sua militância é bem um indício dessa terapêutica (praticada que foi, também, por 'chefes' cujos nomes a História registou - mal comparando...).

14.- Políticamente, o Portas é um 'bluff' - produto acabado de certos meios intelectualóides da Capital, que funcionam em circuito fechado: por convites mútuos, elogios recíprocos e esquemas de sobrevivência imediata.Entre muitos outros, fazem parte de tal 'entourage' o avinagrado Vasco Pulido Valente ('avinagrado' de vinagre - entenda-se) e sua piedosa esposa, D. Constança Cunha e Sá - ambos comungando os chorudos ordenados que "O Independente" (assim chamado) do Dr. Portas lhes paga, pelas crónicas de mal-dizer que semanalmente ali escrevinham, no cómodo formato A4.Também o inefável Miguel Esteves Cardoso colabora no endeusamento do Portas, rebuscando a favor do patrão os trocadilhos que lhe deram notoriedade há mais de 20 anos - aquando era uma espécie de menino-prodígio da escrita fútil.Pena que tenha deixado de ser prodígio e se mantenha menino; pena que desperdice agora o seu inegável talento juvenil a produzir romances pornográficos - ainda que muito apreciados pelas pegas e pederastas do Intendente e pelo crítico Henrique Monteiro, que os reputa (o termo é adequado) como peças exemplares da literatura moderna.

15.- O Portas é elitista. Mas simula demagogicamente interessar-se pelos problemas daqueles a quem, no seu milieu, é uso chamar 'as classes baixas' - como aconteceu recentemente na Bairrada, quando fingiu participar na vindima que gente simples e autêntica da terra levava a cabo (por castigo andando agora, há já várias noites, a pôr 'creme nívea' na sua mãozinha mimosa, nunca antes maltratada por qualquer alfaia agrícola).

16.- O Portas é dissimulado: esconde da opinião pública parte da sua verdadeira identidade.Concretamente, oculta que é monárquico - opção que, sendo embora legítima, tinha obrigação de revelar àqueles a quem pede o voto para deputado da República !É a tal 'falta de transparência política' que critica - nos outros, claro...

17.- O Portas é um democrata precário: por falta de formação ou informação, por carência de convicções ou por incoerência, rejeita a aplicabilidade universal da regra '"um homem-um voto" - verdadeiro axioma da Democracia essencial.Assim sendo, não me admiraria nada que o Dr. Portas resvalasse a curto prazo para a defesa de soluções autoritárias para a governação dos portugueses, que (no seu entender) revelam "uma estranha tendência para o precipício".

18.- Eleitoralmente, o Portas é desleal: vicia as regras do jogo. Na verdade, tendo-se feito substituir formalmente na direcção d' "O Independente" (assim chamado), usa agora tal semanário como jornal-de-campanha privativo, aí publicitando escandalosamente os seus palpites e auto-elogios e atacando e denegrindo os adversários - com a cumplicidade na batota do respectivo 'conselho editoral' !Porque não sou 'queixinhas', não vou lamentar-me nem reclamar contra tão anómalo procedimento - junto da comissão-de-ética do Sindicato dos Jornalistas, junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social ou mesmo junto da Comissão Nacional de Eleições.Não vou sequer queixar-me à mãezinha do Dr. Paulo Portas. Tão-pouco protestarei junto do Dr. Nobre Guedes - tido por 'dono do jornal' -, até porque sei que anda absorvidíssimo por visitas diárias a feiras e mercados e pelas demais tarefas da sua própria 'candidatura a sanguessuga' (também pelo PP), sem que lhe reste tempo para se preocupar com subtilezas e ninharias éticas.Aliás, provavelmente não será especialista em 'deontologia profissional do jornalismo'.Assim sendo, remeto a apreciação da chocante conduta do Dr. Portas e d' "O Independente" para a opinião pública e para os jornalistas Daniel Reis, Cáceres Monteiro, César Principe e José Carlos de Vasconcelos - tidos por profissionais honestos, competentes e livres (aliás como muitos outros). Concretamente, permito-me perguntar-lhes se acham que o comportamento daquele semanário e do Dr. Portas (que usa fazer a apologia dos valores morais sociais) seja éticamente aceitável.

19.- De facto, não é fácil ser-se coerente e sério em política !

20.- Particularmente difícil é porém 'fazer carreira política' em Portugal - sobretudo quando não se dispõe do apoio de qualquer dos 'lobbies' que condicionam quase toda a nossa actual vida pública. Estou a referir-me à 'solidariedade corporativa' na promoção individual de que beneficiam os membros da Maçonaria, os confrades da Opus Dei, os agentes dos grupos económicos e - mais recentemente - os parceiros da comunidade 'gay'. Trata-se de organizações ou agregados que mantêm intervenção (directa ou indirecta) praticamente em todas as estruturas da nossa vida colectiva - também nos partidos políticos e na comunicação social.Agindo concertada ou avulsamente,os membros de tais 'lobbies' têm grande influência sobre muitas tomadas de posição de quem-de-direito e sobre a formação da opinião pública.Podem designadamente ajudar ao aparecimento de pretensos génios artísticos, 'heróis sociais' ou ídolos-de-pés-de-barro (como são muitos dos políticos de sucesso).

21.- Por definição, as interferências do género são discretas ou mesmo subliminares - e passam geralmente desapercebidas aos cidadãos influenciáveis.Na verdade, quem é que, de manhã, ao acompanhar a torrada e o galão do dejejum com a leitura do 'Público', pondera que esse jornal tem dono - e que o editorialista Vicente Jorge Silva é capataz dos respectivos interesses (mesmo quando - agora instalado - escreve considerações que fazem lembrar os tempos remotos e diferentes em que foi considerado pelos situacionistas de então como um jovem rasca da 'geração de 60') ?E quem perceberá que está a ser condicionado na formação da sua opinião, quando escuta na rádio uma análise ou critica - injustamente lisonjeira - da acção de um diplomata, do trabalho de um artista ou da capacidade de um político homossexual proferida por outro homossexual, se não souber que tal apreciação reporta afinal a solidariedade de pessoas da mesma minoria ?

22.- A acção de todos ou alguns desses 'lobbies' perpassa de facto os principais partidos - transversalmente.E, por vezes, é no espírito-de-corpo ou jogo de conveniências dos respectivos protagonistas que se encontra explicação para surpreendentes convívios gastronómicos no 'Gambrinus' ou na província e para inesperados apoios ou solidariedades espúrias ocasionalmente detectáveis nos mais variados campos da nossa vida colectiva.

23.- Republicano convicto, socialista humanista e democrata sem transigências, tenho feito o meu discreto percurso de político-não-profissional apenas com a ajuda dos activistas locais do PS e o firme apoio da gente bairrista da região de Aveiro - sem compromissos em relação a qualquer daquelas estruturas ou 'forças de pressão'. Livre e independente como sempre, enfrento a presente conjuntura eleitoral com justificada confiança.Estrêla de 3ª grandeza nos céus confinados do meu Distrito, nada me ofusca o brilho fugaz do citado Dr. Portas - cometa ocasional, que desaparecerá deste firmamento tão depressa como apareceu (e... sem deixar rasto).Tão-pouco me perturba a dimensão aparente do Dr. Pacheco Pereira - lua nova doutras galáxias, que (perdido o fulgor militante que o marxismo-leninismo lhe emprestava) agora só é visível quando reflecte a claridade frouxa dessa extensa nebulosa que se chama PSD.

24.- Na minha terra, sou mais forte do que eles !

25.- Na noite do próximo dia 1 de Outubro, espero poder pendurar no meu cinto de caça política as tais duas aves de arribação - espécies exóticas lisboetas pouco apreciadas na região cinegética de Aveiro: um garnisé-cantante e um pavão-de-monco-caído.Esses troféus servirão de espantalho a futuras transmigrações para esta 'zona demarcada entre o Douro e o Buçaco' !

Carlos Candal, Setembro 1995

abril 23, 2009

Mais Gente de Anadia

Zita Seabra
por FERNANDO MADAÍL 16 Junho 2007
Queria ser bailarina e acabou política.
'Foi Assim' é o título do livro em que Zita Seabra, ex-dirigente do PCP e actual parlamentar do PSD, irá contar a sua biografia. Até ao lançamento, a 5 de Julho, remeteu-se ao silêncio e nada se sabe acerca do teor da obra. O DN resolveu traçar-lhe o perfil. A sua vida terá sido assim?
Da coreografia elegante feita sobre a música de Villa-Lobos Bachianas Bra sileiras, na Academia de Bailado do Porto, então dirigida pelo basco Pirmin Treku, até à perigosa dança das falsas identidades, entre 1966 e 1974, virou-se uma página da vida que lhe moldou o futuro.
Aos 17 anos, Zita Maria de Seabra Roseiro, que andava em pontas desde os nove e tinha chegado a pisar o palco do Teatro S. João, abandonava o sonho de menina - ser bailarina. Abraçava, então, a utopia romântica de ser uma nova Mariana, a heroína desse romance proibido que uns amigos lhe tinham emprestado, Os Subterrâneos da Liberdade, em que Jorge Amado descreve, em três volumes, a história dos comunistas brasileiros.
Figura de proa do movimento comunista português nas últimas décadas - pela ortodoxia de que foi guardiã, pelo pioneirismo na crítica interna, por ter trocado o PCP pelo PSD -, Zita Seabra vai lançar um livro, no próximo dia 5 de Julho, a explicar Como Foi - o título da obra, de que apenas se sabe que tem 300 páginas e chancela da sua editora, a Alêtheia.
Mesmo que não tenha o recorte literário de Eça de Queirós ou de Bruce Chatwin, para citar dois dos escritores que aprecia, o livro pode revelar as suas conversas com Cunhal ou com Cavaco, mas dificilmente terá o mesmo impacto de O Nome das Coisas, que selou a sua cisão com o PCP. Nesse livro de 1988 avisava: "Ninguém busque, nestas páginas, escandalosas revelações sobre segredos partidários nem ataques ou vindictas pessoais." Agora, nada se sabe.
Mas quem é, afinal, esta mulher que, em Maio de 1988, quando foi entregar as chaves do Renault azul metalizado a que até então tinha direito, como membro da Comissão Política (em Novembro, seria expulsa do Comité Central e, em Janeiro de 1990, do partido), ouviu Cunhal dizer-lhe "nunca mais serás nada na vida"?
Quem é esta política que, contrariando o anátema do seu líder durante 23 anos, aceitou o cargo de coordenadora do Secretariado Nacional do Audiovisual (que se fundiu com o Instituto Português de Cinema, originando o Instituto Português de Artes Cinematográficas e Audiovisuais, de que seria a presidente), sendo fotografada a sorrir quando cumprimentava, em 1993, o (então) primeiro-ministro Cavaco Silva?
Quem é a deputada que se celebrizou na bancada comunista a defender, de forma entusiástica, a primeira lei de interrupção voluntária da gravidez e se pronunciou, embora de forma discreta, na bancada social-democrata, de que é vice-presidente, pelo "não" no último referendo?
Apreciadora de Mozart e de fado, a filha única do engenheiro Mário Ramos Carvalho Roseiro e da doméstica Zita Marques Moreira Seabra, que moravam em Sangalhos, foi nascer a Coimbra, a 25 de Maio de 1949, que era onde havia uma boa maternidade.
Aos dois anos, a família muda-se para Castelo Branco, mas quando a menina que pensou seguir Medicina entrou na primária passaram a viver no Porto. No Carolina Michaelis, a primeira tomada de posição daquela figura magra que seria eleita presidente da Comissão Pró-Associação dos Liceus do Porto foi manifestar-se contra a proibição de as alunas usarem calças. E, aos 15 anos, era aliciada para entrar no PCP.
Apenas com o 6.º ano (equivalente ao actual 10.º) concluído, entra na clandestinidade, com uma passagem de nove meses por Paris, em casa de Carlos Antunes (que iria fundar, em 1970, o PRP-BR), para despistar a polícia política. E, no entanto, Maria Helena Sá da Costa, como garantia o seu falso Bilhete de Identidade, ainda se alojou no Porto em casa de um ex-elemento da PIDE, de onde saiu ao receber um telegrama, enviado por um camarada, a dizer: "Tua mãe à morte."
Regressou de Coimbra, de onde tinha sido enviada a mensagem, vestida de negro e em lágrimas, como quem esteve num funeral, explicando que tinha de mudar de cidade, sem que o ex-pide percebesse que tinha alojado a controleira no Porto da Organização dos Estudantes do PCP - que iria originar a UEC (União dos Estudantes Comunistas).
Em casas sucessivas onde só se mantinha um poster com o poema de Cesário Verde "De Tarde" (o que começa com o verso "Naquele 'pic-nic' de burguesas"), tanto abria a porta na Páscoa a um padre que era irmão de Rosa Casaco (o pide que fotografava Salazar e chefiou a brigada que matou Humberto Delgado) na aldeia de Cete como se fazia passar por hospedeira da TAP em Lisboa.
Nesses anos de sombra, passou a odiar frango assado, que era o que lhe levavam quando tinha fome, e conheceu Carlos Brito, com quem esteve casada até 1986 e que é o pai das suas filhas Ana e Rita. Passaria a viver, depois, com o médico João Guimarães, com quem teve o filho Francisco.
O resto da história é mais conhecida. Ortodoxa comunista, como é recordada desde os tempos em que estava à frente da UEC, foi logo eleita para a Assembleia Constituinte e, depois, até 1987, seria deputada pelo PCP - regressaria ao Parlamento, em 2002, nas listas do PSD. Acerca das suas relações com o fraccionista Grupo dos Seis (Vital Moreira, Veiga de Oliveira, Silva Graça, Sousa Marques, Vítor Louro e Dulce Martins) e a Terceira Via (onde estavam figuras que ficaram, como Saramago, e outras que saíram, como Canotilho), as expulsões dos órgãos partidários - "caiu-me a alma aos pés", diria, anos mais tarde (DNA, 10/04/1999) - deve vir tudo explicado em Como Foi.
Nessa altura, sem nunca ter tido profissão fora do partido, foi convidada pelos fundadores da Quetzal, Maria da Piedade Ferreira e Rogério Petinga, a trabalhar com eles - no ano seguinte, ofereciam-lhe mesmo uma quota de 25% da sociedade. A leitora de Agatha Christie e Leão Tolstoi, Vergílio Ferreira e Maria Velho da Costa, quando a pequena editora foi comprada pela Bertrand, passou a ser directora comercial de ambas. E, em 2005, fundava a sua Alêtheia. Mas - foi repetindo em várias entrevistas - o seu grande sonho era mesmo ter sido bailarina.
Hemiciclo. Passou da esquerda, onde era uma famosa deputada do PCP, para a direita, onde é vice-presidente da bancada do PSD. "Não admito", diria ao Expresso (15/05/1993), "que uma pessoa (...) traga uma cruz às costas só por ter pertencido ao PCP".
Ortodoxa. "Dissidentes [na URSS]? Quais dissidentes? Fascistas como o Soljenitsin, que apoiam o Chile de Pinochet?" Numa entrevista ao DN (24/11/1979) era assim que via o mundo, estava ainda Brejnev no poder em Moscovo. Antigos camaradas do Comité Central, sob a capa do anonimato, confidenciavam ao Expresso (22/05/1993) que Zita tinha sido uma "estalinista de aparelho, fundamentalista, excessiva e primária" e que, ainda nos tempos da UEC, só promovia os "puros e duros como ela".

Gente de Anadia

O VELHO CAVALO QUE VOLTA À CORRIDA
por
FERNANDA CÂNCIO 07 Março 2009

Vital Moreira. Diz-se 'freelancer': do PS como, assegura, foi do PCP onde chegou a desafiar Cunhal a abandonar a direcção antes de sair ele próprio, em 1990. Jurista, político e opinador, mantém quase secretas as suas outras vidas: o amor da fotografia, da literatura e da música e, dizem amigos, do vinho
Brilhante, arrogante, distante. E o resto? "Uma armadura", diz um amigo
"Ele não tem nada a ganhar, só tem a perder". A apreciação sobre o cabeça de lista do PS às eleições europeias vem de José Miguel Júdice, do outro lado da barricada ideológica coimbrã dos anos 60, quando a academia se ergueu contra o regime. "Não só porque é evidente que o ordenado de um mês como eurodeputado ele ganhava num só parecer, como porque vai ser enxovalhado. É o que sucede a quem se mete na política. Podia estar tranquilamente a ganhar dinheiro e a ter fins de semana e vai para aquilo... Fiquei surpreendido. Coloco-me no lugar dele, se alguém me convidasse eu não aceitava. É um acto de grande generosidade."
Apesar de se terem conhecido "no meio de polémicas violentíssimas", é alguém que Júdice garante "respeitar muito". "Eu era o líder da direita estudantil e ele era um dos líderes da esquerda. Estávamos de relações cortadas e fui trabalhar com ele na cadeira de Direito Corporativo - curioso, que o regime permitisse a um comunista ser regente de uma cadeira daquelas - sem nos falarmos." Vital, que só se filiaria no PCP em 1974, havia de ser expulso da Universidade em 1969, era já assistente, pelo então ministro da Educação José Hermano Saraiva, e reintegrado por Veiga Simão um ano depois, graças ao concurso de Afonso Queiró, director da faculdade e destacado líder da Acção Nacional Popular (o partido do regime) a quem agradece a carreira académica. Júdice saiu de Coimbra depois de 1974 ("Senti que fui lá maltratado") e não voltaram encontrar-se senão muitos anos depois, quando o advogado e empresário tinha já "feito o hotel da Quinta das Lágrimas". "Tão bonito o que fizeste", disse-me ele, "É tão bom passear lá com o vento a bater nos canaviais". Não ficaram propriamente amigos, mas há afecto na voz do advogado. "É uma pessoa muito sincera, com o coração ao pé da boca. E tem uma grande qualidade que também creio ter - o de não ter medo de ir à luta por aquilo em que acredita. Deixou o PCP, por exemplo, que é uma coisa terrível, sucedeu com o meu pai, o nome nunca mais é pronunciado... E é um homem muito emocional."
Muito emocional, Vital Moreira? Dir-se-ia o contrário. A imagem é a de um sobranceiro professor, de resposta sibilina e ironia subtil, o rosto fixado num semi sorriso. Arrogante, vaidoso, de uma insuportável presunção de sapiência, dizem os menos apreciadores, frio e distante, dizem os menos próximos. Não simpático, decerto, mesmo se todos, mesmo os supostos inimigos, lhe reconhecem o brilho: fantástico orador, com a "necessária demagogia", como aquilata Júdice, ouviu e leu muitas vezes de si, nos tempos de deputado do PCP: "Que pena ser comunista".
O deputado do PS Osvaldo Castro, amigo muito próximo que o conhece desde os tempos do PCP e o acompanhou na dissidência, di-lo "ensimesmado", alguém que "se esconde um pouco" e cuja exposição pública, por exemplo no programa da TVI24, onde só participou num debate, "tem de ser arrancada a ferros". Albano da Silva Pereira, director dos Encontros de Fotografia de Coimbra e notório bon vivant, vê-lhe "uma armadura". A armadura que guarda do público o outro Vital. Por exemplo "o amante da fotografia", que chegou a ter (ainda terá?) um laboratório em casa e que desde os anos 80, quando Albano o conheceu, se aperfeiçoou numa arte cujo amor terá "apanhado" do irmão da actual mulher, Maria Manuel Leitão Marques. "O António Leitão Marques, irmão da Maria Manuel, médico aqui de Coimbra, já fazia fotografia. Creio que foi com ele que a coisa começou." Vital, que costuma postar fotos suas no blogue Causa Nossa (causa-nossa.blogspot.com) - que criou em 2003 com Ana Gomes, Vicente Jorge Silva, Luís Nazaré, Luís Osório e Maria Manuel como prolongamento de uma tertúlia que reunia em jantares no restaurante Casa Nostra - sob o título "lugares de encanto" já expôs no Centro, numa colectiva. "Creio que eram fotos de Angola, a preto e branco. Ele trabalha muito as coisas, estuda muito. É um perfeccionista na fotografia como em tudo. Há nisso uma certa rigidez que tem a ver com a linha ortodoxa, cristalizada, da militância comunista. Pelo menos é o que eu acho."
Quase insuspeito este Vital, que só em perfis - poucos - do final dos anos 80 assumiu a paixão pela fotografia, que escreveu um livro sobre a paisagem na obra do romancista e poeta Carlos de Oliveira (Paisagem povoada: a Gândara na obra de Carlos de Oliveira, 2003) , que fez a sua tese de doutoramento, em 1996, sobre a casa do vinho do Porto (e que os amigos garantem um grande apreciador de vinho, sobretudo da Bairrada, e do leitão da mesma zona - a sua) e cujo fascínio por Shakespeare e pelos clássicos anglo-saxónicos o fez decidir, no fim do liceu, seguir Germânicas. O Vital que, ao avesso da caracterização monolítica, foi capaz de mudar de ideias e se inscrever em Direito por causa de uma conversa. "Sou um jurista acidental. Estava na fila de inscrição na faculdade, em Setembro de 1962, e ao meu lado estava o Manuel Alberto Valente (hoje na Porto Editora). Começámos a falar, e como não fomos atendidos nesse dia fomos jantar e acabámos por arranjar um quarto para ficar. E ele convenceu-me a ir para Direito. Comecei a estudar literatura inglesa mas acabei jurista..." Seria o outro que não faria Direito: ele acabaria um dos mais notáveis juristas portugueses. Sorri. "Os acasos acertam."
Ou isso ou um penchant pelo jogo, pelos instantes decisivos. Capaz de arriscar tudo num momento mas também de mandar tudo ao ar pelas suas convicções - como quando após a revisão constitucional de 1982, não se revendo nas opções do partido, largou o lugar de deputado comunista e voltou à academia, para ser pouco depois escolhido para o elenco do Tribunal Constitucional. Como quando desafiou Cunhal abandonar a direcção do partido, em 1990 ou, asseveram os amigos Osvaldo e Raimundo Narciso (outro dissidente), "dirigiu" as dissidências dos anos oitenta e noventa, incluindo a de Zita Seabra, em 1988 ("A Zita era uma criatura dele. Enquanto no PCP e na saída"). Como quando na revisão constitucional de 1997, convidado por Guterres para dirigir os trabalhos da bancada socialista (tinha sido o primeiro suplente por Coimbra às legislativas de 1995) mas sentindo que o processo não estava a ser transparente, mandou o PS às urtigas, para romper definitivamente com a direcção guterrista devido à sua posição no aborto e dizer hoje "o guterrismo foi um grande falhanço com pequenas excepções".
"Sou como o jogador de xadrez que não consegue estar diante do tabuleiro: ou joga ou vai-se embora! Eu joguei". A frase tem 29 anos mas encaixa no momento em que o autodenominado freelancer aceitou o convite para cabeça de lista do PS às europeias. "Foi-me apresentado um argumento convincente: o de deixar de passar de treinador de bancada para o campo." A decisão, tomada menos de um dia antes do anúncio, foi segredo até ao fim. Osvaldo Castro esperava outro nome e até saiu do congresso mais cedo. "Tinha um jantar no Porto, deram-me a notícia pelo telefone."
A frase é, pois, antiga - de um homem então com 37 anos, franja densa como hoje (então escura) e grandes óculos de massa, nascido em 1944 em Vilarinho do Bairro, Anadia, um de três filhos de uma agricultora "que acabaria doméstica" e de um comerciante ambulante. O homem que confessa ter sentido muito tempo "falta de atracção pela política concreta", realizando-se naquilo que chama "acção política intelectual", inciada nos anos 60 como colaborador da revista Vértice; que recusou dois convites para o Comité Central do PCP mas aceitou ser cabeça de lista por Aveiro às legislativas, fazendo campanha sozinho, de megafone no seu carro, e arrebatando o primeiro lugar para o PC no distrito ("um one man show", diz). O homem que o 25 de Abril surpreendeu em Londres, a fazer o doutoramento (só terminado 22 anos depois) e que diz não fazer normalmente inimizades políticas por "nunca atacar as pessoas, mas sim as ideias"; que acumulou funções de grande dignidade jurídica (desde a direcção de um mestrado em Direitos Humanos, em Veneza, à integração numa comissão de peritos independentes para a Carta dos Direitos Fundamentais daUE) e dá aulas em várias universidades, mas recusa usar as insígnias dos catedráticos, os chamados " capelo e borla" por as achar "ultrapassadas e ridículas" - e a quem o amigo Osvaldo pergunta: "Vale a pena andares nessa guerra?"
Vital Martins Moreira, 64 anos, acha que sim. Essa, a do capelo e borla, e muitas outras. O velho cavalo, como se apelidou em 1982 no regresso ao parlamento, voltou à corrida. Veremos se, como na altura ajuizou, dará de novo "boa conta de si".

abril 15, 2009

El Grito de Yara

En la noche del 9 al 10 de octubre de 1868, en el ingenio La Demajagua, se inició la Guerra de los Diez Años. Allí Carlos Manuel de Céspedes y del Castillo dio a conocer, en el "Manifiesto de la Junta Revolucionaria de la Isla de Cuba", las ideas y los fines del movimiento revolucionario que buscaba la independencia de Cuba basado en la igualdad de todos los hombres, blancos o negros, cubanos o españoles, mantenida por el Padre Félix Varela al defender la abolición de la esclavitud.
La bandera que enarboló Carlos Manuel de Céspedes estaba inspirada en la de
Chile. Fue confeccionada por Candelaria Acosta (Cambula), pero la estrella fue dibujada por Emilio Tamayo. Esta bandera fue utilizada en Oriente como la bandera de la nueva República en Armas hasta que en la Asamblea de Guáimaro se adoptó la de Narciso López.
La idea inicial de Carlos M. de Céspedes, desde ese momento ya Padre de la Patria, era tomar la ciudad de
Manzanillo, no sólo por la cercanía al lugar del pronunciamiento, sino, por la importancia de la plaza; sin embargo, la pérdida del factor sorpresa, la falta de experiencia marcial de los complotados y la carencia de armas de fuego, le hicieron desistir de la idea. No obstante, como prueba irrecusable de la intención queda para la historia la composición por parte del mismo Céspedes de la Marcha a Manzanillo, himno patriótico con el cual pensaba soliviantar el espíritu público de los manzanilleros cuando tomara la plaza y la firma del Manifiesto de la Revolución, rubricado en Manzanillo y no en el lugar donde ciertamente se verificó y juró: el ingenio Demajagua.
Después de terminada la reunión convocada por Carlos Manuel de Céspedes en La Demajagua y ante la imposibilidad de tomar la portuaria ciudad de Manzanillo, los revolucionarios -en un número aproximado de 600-, deciden marchar hacia Sierra de Naguas con el objeto de aumentar las fuerzas insurgentes; sin embargo, a su paso por el poblado de
Yara son dispersados por una columna española proveniente de Bayamo. El comienzo de la Guerra de los Diez Años se ha identificado con Yara debido precisamente a que mientras la reunión y planteamientos realizados en La Demajagua pasaron inadvertidos inicialmente, la derrota de los insurrectos en el asalto al pueblo de Yara al serle comunicada al Capitán General fue lo que recogió la prensa de La Habana y Madrid.



Bandera de la Demajagua, usada por primera vez durante el grito de Yara

Pôr do Sol em Cuba (Varadero)















março 12, 2009

Van Morrison

"La gente como yo debe andarse con cuidado con las discográficas"
"Sólo me gusta la música. El resto es pura mierda"
Van Morrison critica ácidamente a la industria musical durante una entrevista en EL PAÍS
En una de sus escasas entrevistas, el León de Belfast critica ácidamente a la industria musical, viaja a los orígenes y explica por qué ha rehecho tema por tema el mítico 'Astral weeks'
Astral weeks está considerado como uno de los mejores discos de la historia del pop. Un monumento a los arreglos grandes y las historias pequeñas, se grabó en régimen de comuna jazzística durante dos días de 1968, bajo la dirección y con las composiciones, extensas, inagotables, de Van Morrison (Belfast, 1945).
El músico irlandés nunca tocó aquel material en directo. Hasta noviembre pasado, cuando interpretó (y registró) en dos conciertos en Los Ángeles las ocho canciones en el mismo orden en que se publicaron. Estos meses, 41 años después, Morrison viaja con aquel material por el mundo (el 18 y 19 de abril, en Londres).
Pregunta. ¿Por qué ha elegido este momento para salir de gira?
Respuesta. Hay muchas razones. No he tocado con ninguno de aquellos músicos desde entonces. En esa época nadie me daba dinero para hacerlo. El público llevaba décadas pidiéndolo. Y a mí en realidad me basta con eso.
P. ¿Qué recuerda de las sesiones de grabación?
R. No hubo muchas tomas. Se grabó como un disco de jazz, que es como a mí me gusta hacerlo. Lo más importante era la espontaneidad de lo que estaba sucediendo.
P. Sé que todavía hoy le gusta grabar así, sin sobreproducirlas.
R. Provengo del jazz. Eso es todo.
P. A lo largo de su carrera ha ido consiguiendo control sobre lo que hace. Con esta grabación inaugura un nuevo sello discográfico, Listen to the Lion.
R. Acabo de abandonar Universal porque no hacían más que aprovecharse de mí. EMI distribuirá mi sello.
P. ¿La forma en que escribe ha cambiado en estos 40 años?
R. Es como lo que Jung decía sobre el proceso creativo, que es hacer que lo inconsciente se vuelva consciente. Astral Weeks venía del subconsciente. Mis últimas canciones proceden más bien de la reflexión. Sobre ellas hay más revisión.
P. ¿Sigue siendo una guerra tratar con los ejecutivos de los sellos, como insinúa en algunas de sus canciones, por ejemplo, Showbusiness y Drumshanbo Hustle?
R. Los negocios sólo son negocios y, a fin de cuentas, son despiadados. Esas personas no son amigos míos. No las conozco. No es como en los viejos tiempos, cuando había productores y sellos discográficos de verdad; gente que realmente sabía algo de música. El principio del fin fue cuando muchos de esos tipos vendieron sus sellos. Probablemente hayamos dejado atrás el final de la historia de la verdadera industria discográfica...
P. Que está paralizada por el pánico...
R. Dicen que la industria está acabada, pero yo he vendido más de dos millones de copias el año pasado. Es como si pensasen con el culo. Hay mucha hipocresía. Yo no voy a meterme en el negocio de las descargas porque no soy un artista de descargas. Puede que algunos lo sean y, ya sabe, es el futuro; pero yo prefiero algo que pueda sostener.
P. Al parecer, en el reproductor de iTunes, su música se clasifica como algo distinto cada vez. Como pop, como rock, como músicas del mundo...
R. Yo la definiría como soul.
P. Pero luego es capaz de hacer un disco de jazz o de skiffle o de country...
R. A ver, si fuera un río tendría afluentes. Todo tipo de afluentes. Pero todo está conectado con mi origen.
P. Hay una especie de cliché entre los artistas, que siempre están intentando escapar de su pasado o de reinventarse. Pero usted vuelve a él constantemente.
R. Es de donde saqué la palabra. Y tuve la suerte de conocer a gente como John Lee Hooker, que fue muy buen amigo mío durante años, y conectar con lo que quiera que eso sea, no sé, algún tipo de energía.
P. ¿Tiene pensado sacar algo de su material inédito?
R. Depende, porque la situación con las discográficas se está convirtiendo en algo así como darse cabezazos contra una pared. No tienen ni idea de adónde se dirigen. Coges un periódico y siempre están con lo mismo. Sólo transmiten pesimismo. Así que, ¿por qué diablos ibas a querer firmar con alguien que te dice que el fin del mundo está a la vuelta de la esquina? La gente como yo debería andarse con cuidado.
P. ¿Se mantiene informado sobre pop actual?
R. Nunca me ha interesado realmente la música pop. Me aburría y me sigue aburriendo.
P. Teniendo en cuenta todo eso de que el final está cerca... ¿Le parece irónico haber sacado el disco que ha llegado más alto en las listas en toda su carrera precisamente ahora?
R. Sí, pero ellos ni siquiera se dieron cuenta. Pasaron de él. No hubo nada, ni promoción, ni seguimiento.
P. Pero aun así, se le ve muy entusiasmado.
R. La mitología fue inventada, supongo, por gente como Bill Graham, él es uno de ellos. Él inventó el gran espectáculo del rock. Ésa fue probablemente la última mitología, aunque quizá ha habido más desde entonces. Y antes de eso estaba el mito de The Beatles. Y antes de eso, no sé, el mito de Elvis Presley. Siempre ha habido mitologías, y la gente siempre ha encontrado la manera de aprovecharse de ello. Supongo que es esto de los grandes espectáculos de rock y de abarrotarlos de gente, que está basado principalmente en la codicia pura y dura.
P. Pero sigue motivándole...
R. Lo único que me encanta es la música. El resto es pura mierda. El tipo de mierda que la fama atrae es muy oscura. Es muy oscura. Me gusta la música, eso es todo.
Scott Foundas / Village Voice Media