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dezembro 29, 2005

A história do Natal

Investigação Natalícia
O Natal sempre me intrigou. Nos primeiros tempos a explicação era simples: Tratava-se de um velhinho barbudo ajoujado a um saco de presentes que descia por uma chaminé, pela calada da noite, e nos enchia os sapatinhos de prendas. As minhas dúvidas começaram quando me apercebi da largura da chaminé. Nem o Pai Natal passaria ali, a menos que fosse um anãozinho, quanto mais o saco e as barbas. As renas também não eram convincentes. Como conseguiriam sobreviver ao tráfego da 2ª Circular e chegar à nossa casa? A partir daí, ano após ano, fui aprofundando as minhas pesquisas sobre esta matéria. Não recorri à net, descredibilizada pelo erro da Wikipedia, nem aos livros, descredibilizados entre os viciados na net. Resolvi investigar in loco.
Fiz as malas, e mesmo sem esperar pelo subsídio do Plano Tecnológico, muni-me de um portátil, mas sem GPRS para evitar cair na tentação da net, e iniciei a minha jornada de investigação. Deve começar-se pelo princípio. Dirigi-me ao cume do Ararat, onde a tradição coloca a “aterragem” da arca de Noé e segui as pisadas daquele patriarca que, felizmente para nós, foi um proeminente especialista em previsões meteorológicas e na protecção da biodiversidade.
Durante horas vagabundeei rumo ao sul, pelas montanhas da Assíria, seguindo a peugada de Cam, filho de Noé. Foi uma investigação arriscada, em vista da instabilidade que reina na região. Seguindo um vale profundo, cavado por um caudaloso afluente do Tigre, dei por mim diante das ruínas de um casebre de adobe ladeado por duas árvores seculares, mais tristes que plantas crescidas na fenda de um sepulcro, erguendo a sua rama rala e sem flor. E na sombra ténue do crepúsculo, emergiam duas velhinhas descalças, desgrenhadas, com rasgões de luto nas túnicas pobres, mais velhas que as árvores seculares, mais arruinadas que o casebre de adobe, hirtas, de cabelos desmanchados, alastrados até ao chão, numa neve inesperada. Um cão, que farejava entre as ruínas, uivava sinistramente. … Enfim, o cenário ideal para veicular tradições milenares. Nem Spielberg teria concebido um cenário melhor.
Foi aí que uma das anciãs, cabeça mais lívida que o mármore, por entre os cabelos emaranhados que o suor empastara e os olhos esmoreciam, sumidos, apagados, me informou penosamente que, de acordo com as tradições daquela aldeia e de todo o Crescente Fértil, aliás coincidentes com as da Bíblia, Cam, filho de Noé, havia tido um filho chamado Cush que desposara Semiramis. Cush e Semiramis tiveram então um filho chamado Nimrod (também conhecido por Ninus). Depois da morte de seu pai, Nimrod casara com a mãe e tornara-se um rei poderoso. Nimrod fora o construtor de diversas cidades (como Nínive) e da Torre de Babel (a Semiramis também foi atribuída a construção dos jardins suspensos da Babilónia). Enfim, gente pouco conveniente, viciada em investimentos públicos e em extorquir o dinheiro dos contribuintes.
Continuando a sua narração, a anciã, por entre sons sibilados, inevitáveis face à sua idade avançada e à ausência de recursos odontológicos na região, foi acrescentando que quando Nimrod foi morto, Semiramis proclamara que Nimrod tinha subido ao céu. Mais tarde, a patrocinadora deste blog, após alguns desregramentos domésticos que a decência e os bons costumes me impedem de revelar, tivera um filho, ilegítimo, concebido “sem pecado” (como Jesus), a quem chamara Tamuz, também conhecido por Baal. Para evitar falatórios, Semiramis pôs a correr que ele era Nimrod reencarnado. Quando Tamuz morreu, num acidente de caça, Semiramis igualmente proclamou que aquele havia subido aos céus e se tornara Deus. A sinceridade que a anciã punha nas suas palavras era garante seguro da veracidade da história. Nem por um momento tive dúvidas. Aquela história era credível. Tão credível como uma promessa de Sócrates.
A mãe, Semiramis, era figurada como A Rainha dos Céus com o filho, Tamuz, nos braços. Várias religiões antigas contam este facto. Os nomes podem variar mas a história é a mesma. Esta religião, começada com Semiramis, tornou-se mãe de todas as religiões do mundo oriental. Numerosos monumentos babilónicos mostram a deusa-mãe Semiramis com o filho nos braços. O culto desta figura (mãe e filho) disseminou-se, sob diversos nomes, por todo o mundo antigo. Semiramis e Tamuz, Isis e Hórus, Maria e Jesus.
O filho era exibido apenas como uma criança nos braços da mãe, enquanto que os artistas se empenhavam em favorecer a imagem da mãe, tentando mostrar a beleza exótica atribuída a Semiramis durante a sua vida. Beleza, força, sabedoria, orgulho indomável, resolução inquebrantável e voluptuosidade eram os seus atributos principais. Por exemplo, Catarina II da Rússia, talvez menos pela sua energia política que pela sua vida íntima, turbulenta e lasciva, foi rotulada como a Semiramis do Norte.
Foi então que veio a revelação que eu esperava, tremendo de emoção e de frio, que esta época torna as montanhas da Assíria um local inóspito e gelado. O 25 de Dezembro era celebrado como nascimento de Tamuz! Na antiguidade caldaica, 25 de Dezembro era conhecido pelo dia da criança, o dia do nascimento de Tamuz, o deus do sol. A noite anterior era a “noite da mãe”, em honra de Semiramis, hoje “véspera de Natal” e o Natal seria pois o dia do filho da mãe.
Continuando a ouvir o sussurro sibilado das velhinhas (não haveria um protésico na região?), soube que o nome Semiramis é a forma helenizada do nome sumério "Sammur-amat", ou "dádiva do mar." Também era conhecida por Ishtar que deu a palavra "Easter" (Páscoa) e Este (onde nasce o Sol). Os ritos da Primavera, 9 meses antes do nascimento do Sol do Inverno, foram os precursores da Páscoa cristã. Os Romanos chamavam-na Astarte e os Fenícios usavam Asher. Aquelas velhinhas tinham mais ciência sobre esta matéria que a Filomena Mónica sobre o D. Pedro V.
Em Israel era conhecida por Ashtaroth. A religião judaica, muito circunspecta e pouco dada a tratos de carnes, votava um ódio de morte à religião criada por Semiramis. Ao longo da sua história milenar centenas de vezes o povo de Israel caiu nas tentações idólatras atraído pelo suave e lascivo perfume da religião de Semiramis. E como é doce cair em tentações ... se foi para isso que elas foram concebidas!
Deixei as anciãs no seu tugúrio, após lhes ter dado um óbulo modesto, mas que as comoveu de satisfação (alguns dólares fazem jeito naquela terra de escassez e miséria), pensando na linha contínua que une a nossa história às remotas tradições daquelas terras.
A gestação do cristianismo foi um fenómeno longo no tempo e no espaço. Se os seus ensinamentos morais eram a resposta que os deserdados pretendiam face à crise social e de valores do mundo antigo, o seu ritual e os aspectos lúdicos da sua liturgia entroncam nas religiões do médio oriente, transplantadas para Roma após as conquistas.
Os Romans tinham a "Festa da Saturnalia" em honra de Saturno. Este festival era celebrado entre 17 e 23 de Dezembro. Nos últimos dois dias trocavam-se presentes em honra de Saturno. Em 25 de Dezembro era a celebração do nascimento do sol invencível (Natalis Solis Invicti). Posteriormente, à medida que as tradições romanas iam sendo suplantadas pelas tradições orientais importadas, os maiores festejos realizavam-se em honra do deus Mitra, cujo nascimento se comemorava a 25 de Dezembro. O culto de Mitra, o deus do sol, da luz e da rectidão, penetrou em Roma no 1º século AC. Mitra era o correspondente iraniano do babilónico Tamuz.
A data entrou no calendário civil romano em 274, quando o Imperador Aureliano declarou aquele dia o maior feriado em Roma. A data assinalava a festa mitraista do Natalis Solis Invicti. Com a quantidade enorme de feriados que então havia em Roma, ser considerado o maior feriado era uma proeza notável.
Aureliano ao acabar com a insurreição de Palmira e do Oriente e trazer a sua rainha Zenóbia para Roma, enterrou, em contrapartida e definitivamente, as tradições romanas do culto da família e das virtudes que haviam feito a grandeza da república, mas que foram perdendo influência à medida que o poder de Roma se estendia ao mundo conhecido. E ao ter destruído Palmira, permitiu que Volney, 15 séculos depois, invocasse aquelas ruínas (Je vous salue, ruines solitaires, tombeaux saints, murs silencieux!) para início das suas belíssimas meditações sobre a condição humana e a origem e o destino das sociedades, dos governos e das leis.
A escolha do dia 25 de Dezembro como data de comemoração do nascimento de Cristo nada teve, portanto, de arbitrária. Ao colocar, de uma vez por todas, o nascimento de Cristo a meio das antiquíssimas festividades pagãs do solstício do Inverno, a Igreja Cristã tinha a esperança de as absorver e de as converter, o que veio efectivamente a acontecer. Mas se a Igreja ganhou ao transformar aquela festividade na comemoração mais importante da liturgia cristã, teve que aceitar a aculturação resultante da importação de muitos símbolos das religiões antigas.
Foi assim que no século IV, o 25 de Dezembro passou a ser a festa do "Dies Natalis Domini", por decreto papal. A partir daí não há dúvidas e a história está tranquila.
E assim terminei a minha investigação e regressei a penates. E enquanto crepitava a lareira no conchego do lar, fui pensando no fio oculto que nos liga ao início da história da humanidade. Quando se fala da tradição judaico-cristã da nossa cultura eu penso menos nessa tradição como fé religiosa do que como matriz cultural. A gestação do cristianismo durou vários séculos num meio político que o hostilizava. A religião cristã acabou por incorporar na sua liturgia imensos símbolos das religiões que a precederam – a Virgem e o menino, o Natal, a Páscoa, o halo que se perfila por detrás da cabeça de Cristo (posteriormente alargado às representações dos santos), que representa uma reminiscência simbólica do sol invencível, etc..
O Natal, assim como outros eventos da liturgia cristã, começou há muitos milénios, no seio das primeiras religiões do médio oriente, ligado ao culto solar sob diversas formas e sentimentos. Continuou, adaptando-se ao sabor das alterações políticas e religiosas, incorporando ou rejeitando símbolos e conceitos, mas comemorando sempre o 25 de Dezembro e a sua véspera.
(Retirado, com a devida reverência, do semiramis.weblog.com.pt)

outubro 12, 2005

Anadia Cidade

PROJECTO DE LEI N.º 530/ IX

ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE DA VILA DE ANADIA E POVOAÇÕES CONTÍGUAS (ALFÉLOAS, ARCOS, CANHA, FAMALICÃO, MALAPOSTA E VENDAS DA PEDREIRA, DA FREGUESIA DE ARCOS, E PÓVOA DO PEREIRO, DA FREGUESIA DA MOITA)

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

I. NOTA PRELIMINAR

É na região Centro (NUT II), no distrito de Aveiro e na sub-região do Baixo-Vouga (NUT III), que se localiza o município de Anadia, com os seus 217,13 km2 e 15 freguesias, onde residem 31.545 habitantes (Censos 2001), dos quais 26.629 são eleitores.

No contexto regional da Bairrada, onde é concelho rural de 1ª ordem, Anadia detém uma posição privilegiada de centralidade, confrontando com os concelhos de Águeda (a Norte), de Mortágua (a Este), da Mealhada (a Sul), de Cantanhede (a Sudoeste) e de Oliveira do Bairro (a Noroeste).

A sede deste concelho é a vila de Anadia, que se situa na freguesia de Arcos.

II. A VILA DE ANADIA: ANTECEDENTES / RAZÕES HISTÓRICAS

Foi Joaquim da Silveira quem veio esclarecer o significado do topónimo Nadia, que terá como étimo o latim nativa, e que, aplicado a aqua ou a fons, tomaria o significado de nascente. A história encarregou-se de deixar os mais diversos testemunhos sobre esta povoação, desde achados arqueológicos a menções registadas sobre pergaminho.

Prospecções arqueológicas realizadas no âmbito de trabalhos académicos conduziram à detecção de vestígios que poderão ser atribuídos ao Paleolítico e ao Neolítico. São menores as dúvidas no que respeita aos vestígios das Idades do Bronze e do Ferro: o Monte Crasto, em Anadia, poderá ter sido ocupado por um povoado fortificado, tendo-lhe sido associados alguns achados.

Claramente documentado está o período de domínio romano, que, neste território, se iniciou por volta de 50 a 40 a.C., com os esforços de conquista. Realizada esta, havia que consolidá-la, concorrendo para tal a construção de vias que facilitassem as deslocações entre locais estratégicos. Assim surgia a estrada Olisipo – Bracara Augusta (Lisboa – Braga), que, nesta região, assumiu um traçado paralelo ao do Rio Cértima. No caso específico de Anadia, esta via atravessava os campos situados entre a margem direita daquele rio e o Monte Crasto, vindo o seu traçado a perpetuar-se, mais tarde, no da chamada Estrada Real, a que, grosso modo, se sobrepõe hoje o da actual EN1/IC2.

Nos séculos seguintes, o povoamento desta zona ter-se-á mantido, mesmo nos anos conturbados das invasões muçulmanas e da posterior reconquista cristã. Os avanços e recuos da linha de fronteira foram aqui flagrantes, mas tal não impediu um esforço de ocupação efectiva do território, patente em diversas cartas que atestam a existência das povoações de Arcos (uilla de Arcus – 943), Anadia (illa Nadia – 1082), Alféloas (Almaphala de Rei – 1101) e do lugar do Montouro (Montem Aurem – 1140).

Ainda medievais, embora um pouco mais tardias, são as referências a Famalicão (Familicam – 1226), Pedreira (Vale d’ Aalen da Pedreira – 1329), Vale da Escura (monte que chaman Val d’ Escura – 1332) e Vale de Azar (poboa do Val do Azar – 1332). Posteriormente, a documentação revela-nos Três Arcos (1514), Póvoa de Roupeiro (1514), Fontela (Fatella – 1514), Canha (Vemdas de Canha – 1527) e Barrosa (1577). A Malaposta tem uma origem mais recente, associada à criação das carreiras de “mala-postas” que tinham, justamente neste lugar, uma das casas de muda (esta zona seria antes conhecida como Ponte da Pedra).
As cartas medievais devolvem-nos a preocupação de gestão dos bens aqui situados, sendo disso exemplo o aforamento outorgado, em 1333, pelo prior do convento do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra aos “nossos vassalos do nosso lugar de Anadia, daqueles casais que nós aí havemos”. Mas só em 21 de Agosto de 1514 este espaço será dotado dos mecanismos que lhe permitem ascender à condição de concelho “de jure“ (sendo plausível que já antes vivesse na condição de concelho “de facto”).

Anadia pertencia ainda ao mesmo mosteiro, mas é el-rei D. Manuel I quem lhe concede estatuto concelhio, na sequência da reforma da administração do reino. Saliente-se, no entanto, que o âmbito geográfico deste concelho de Anadia não corresponde ao da actual freguesia de Arcos – o foral apenas menciona os lugares de Anadia, Fontela e Alféloas. Por outro lado, 16 casais reguengos situados em Arcos e Três Arcos e 10 casais reguengos de Famalicão pertenciam ao vizinho concelho de Avelãs de Cima, enquanto uns moinhos de Alféloas eram mencionados no foral de Mogofores.

O concelho de Anadia, tal como a maioria dos concelhos portugueses, sofre transformações significativas durante o século XIX: em 1833, passa a pertencer ao de Avelãs de Cima, juntamente com os de Paredes do Bairro e do Pereiro; em 1835, desaparecem os concelhos de Aguim, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Ferreiros, Mogofores, Óis do Bairro, Sangalhos, Vilarinho do Bairro e Vila Nova de Monsarros, renascendo o de Anadia (com as freguesias de Arcos, Moita, Mogofores, Avelãs de Cima e Avelãs de Caminho) e mantendo-se o de S. Lourenço do Bairro (agora com as freguesias de S. Lourenço, Sangalhos, Óis do Bairro, Vilarinho do Bairro e Troviscal).

O concelho de Anadia cresce novamente em 1837, ano em que integra a freguesia de Vila Nova de Monsarros, e em 1853, quando se lhe juntam a freguesia de Tamengos e o extinto concelho de S. Lourenço do Bairro (que, entretanto, perde a freguesia do Troviscal, mas traz consigo a de Ancas). O século XX encarrega-se de introduzir as mais recentes alterações, com a criação das freguesias de Amoreira da Gândara, Paredes do Bairro e de Aguim.

III. BREVE CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA E DEMOGRÁFICA

As características do espaço onde se situa a vila de Anadia justificam claramente o respectivo povoamento: trata-se de uma área de transição do ponto de vista geográfico, que marca a passagem de uma zona plana (a Oeste) para uma zona acidentada (a Este), percorrida pelo Rio Cértima, no sentido Sul-Norte, pelo Rio da Serra (afluente daquele), no sentido Sudeste-Noroeste, e por outros cursos de água de menor dimensão.

Aliás, esta área de confluência dos dois rios corresponde basicamente à da freguesia de Arcos, que, ocupando a zona central do concelho, confina com as freguesias de Tamengos, Óis do Bairro, S. Lourenço do Bairro, Mogofores, Sangalhos, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Moita e Vila Nova de Monsarros.

Estamos, pois, perante uma área plana, situada entre a margem direita do Cértima e a margem esquerda do Serra, e que se prolonga um pouco para Norte do ponto onde estes rios se encontram.

Porque reúne, naturalmente, condições propícias à fixação humana, nela surgiram diversas povoações que, nos nossos dias, acabariam por originar um aglomerado populacional contínuo constituído por Canha, Malaposta, Famalicão, Alféloas, Arcos, Anadia, Vendas da Pedreira e Póvoa do Pereiro. Esta última pertence à freguesia da Moita, mas representa a principal área de expansão urbana de Anadia, juntamente com o Montouro, numa lógica de crescimento para Sul e Sudoeste. Ou seja, uma área urbana contínua com um total de cerca de 6,5 km2, onde residem mais de seis mil habitantes.

Está já dotada de todas as infra-estruturas básicas que garantem a qualidade de vida de um núcleo urbano desta dimensão e, dada a sua centralidade, encontra-se servida por algumas das principais vias terrestres regionais e nacionais: a auto-estrada A1, a estrada EN1/IC2, as estradas ENs 235, 333-1 e 334, bem como a Linha do Norte (cujo traçado foi, no século XIX, retirado da proximidade imediata da vila de Anadia para não prejudicar a povoação).

IV. PATRIMÓNIO HISTÓRICO-CULTURAL

A existência de património classificado é uma realidade neste aglomerado urbano, tendo ascendido à categoria de imóvel de interesse público o impressionante Palácio da Graciosa, em Alféloas (finais do século XVIII) e à de imóvel de interesse concelhio a Capela de S. Sebastião (século XVIII) e a Casa Sampaio (que pertenceu ao pintor Fausto Sampaio), ambas em Anadia.

No entanto, o valor artístico do património de Anadia está igualmente patente na Igreja de S. Paio (Arcos, século XVIII), na Capela de Nossa Senhora das Febres (Anadia, séculos XVII-XVIII), na Capela de S. Mamede (Famalicão, século XVII?), no edifício da Mala-Posta da Ponte da Pedra (Malaposta, c. 1859), e nos cruzeiros de Arcos (1716), de Famalicão (1670) e da Póvoa do Pereiro (1677). Destaque ainda para os Paços do Município de Anadia e para os Palacetes dos Seabras de Castro (Anadia), da Condessa de Vinhais (Anadia) e dos Condes de Foz de Arouce (Famalicão).

No âmbito da arquitectura contemporânea, merecem realce a fachada arte nova do antigo estabelecimento comercial de Justino Sampaio Alegre (1908), bem como a Estação Vitivinícola de Anadia, o Palácio da Justiça de Anadia (projectado por Rodrigues Lima e com baixos-relevos de Leopoldo de Almeida, concluído em 1966), o novo edifício da Caixa Geral de Depósitos (projectado por Carrilho da Graça, entre 1983 e 1988) e as instalações do Museu do Vinho (um projecto de André Santos em co-autoria com Manuela Lara e António Lousa).

Finalmente, uma referência às artes plásticas, onde pontuam um fresco de Júlio Resende (Tribunal de Anadia, 1966) e vários quadros de Fausto Sampaio (pertença de diversos proprietários), peças de escultura religiosa (imagens em pedra dos séculos XV e XVI e figuras de madeira dos séculos XVII e XVIII), escultura funerária, retábulos (século XVIII), escultura comemorativa (Monumento aos Mortos da Grande Guerra e monumentos de homenagem ao Visconde de Seabra, a Fausto Sampaio e a Manuel Rodrigues Lapa) e azulejaria (referência especial aos painéis de azulejos da Igreja de Arcos, datados de 1747), entre outras.

V. ACTIVIDADES ECONÓMICAS

O sector primário ainda detém no concelho algum do seu peso tradicional (sendo a viticultura a principal actividade agrícola). Mas cabe demonstrar que no aglomerado de Anadia ganha preponderância o sector terciário por força da localização, neste centro urbano do concelho, de serviços relevantes. Cabe também admitir a importância da instalação, dentro e nas imediações do seu perímetro, de indústrias diversas bem como de estabelecimentos ligados à actividade turística.

A indústria remete-nos para duas vertentes principais. Por um lado, o sector vinícola (com a existência de cerca de uma dezena de caves e de um número considerável de produtores/engarrafadores de excelência) e, por outro lado, empresas ligadas à indústria cerâmica e dos materiais de construção, que tem aqui um peso considerável. Paralelamente, e com alguma tradição, encontramos actividades relacionadas com as artes gráficas, panificação e pastelaria, madeiras, carpintaria e mobiliário.

No que respeita ao comércio, há que reconhecer um predomínio da vertente tradicional, embora existam já diversas estruturas com dinâmicas e dimensões substancialmente diferentes, designadamente grandes superfícies pertença de importantes grupos económicos. O aglomerado conta, assim, com uma grande diversidade de estabelecimentos comerciais que suprem, no plano local, um vastíssimo leque de necessidades.

Também na área dos serviços há uma resposta eficaz e adequada às exigências do aglomerado, proporcionada por entidades ligadas à saúde, à justiça, à segurança e protecção civil, à educação, à administração, à banca, aos seguros, à construção civil e à contabilidade, entre outros.

No domínio do turismo, e apesar de ser na Curia que se concentram as grandes unidades hoteleiras do concelho, não poderemos deixar de mencionar a existência, em Anadia, de um moderno hotel de três estrelas, bem como de diversos restaurantes, pastelarias, cafés e agências de viagens.

VI. EQUIPAMENTOS E ACTIVIDADE SOCIAL, CULTURAL E DESPORTIVA

É em Anadia que se situam as principais infra-estruturas ao nível de:

· administração local: Câmara Municipal de Anadia, Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Anadia e Junta de Freguesia de Arcos;
· administração pública: Repartição de Finanças e Tesouraria da Fazenda Pública, Conservatórias dos Registos Civil e Predial e Cartório Notarial;
· justiça: Tribunal Judicial da Comarca de Anadia, Julgados de Paz e Instituto de Reinserção Social, para além de numerosos escritórios de advogados;
· segurança: Quartel da Guarda Nacional Republicana (Destacamento Territorial e Posto);
· protecção civil: Serviço Municipal de Protecção Civil e Bombeiros Voluntários de Anadia;
· saúde: Hospital Distrital, Centro de Saúde, clínicas e consultórios médicos com especialidades muito diversas, farmácias, laboratórios de análises e centros de reabilitação física, entre outros;
· educação: creches, jardins de infância (redes pública e privada), quatro escolas EB 1 (rede pública), uma escola EB 2/3, uma escola profissional, uma escola secundária (com 3º ciclo) e um colégio (com todos os graus de ensino); existem ainda escolas particulares para ensino de línguas, dança, expressão musical e artes plásticas;
· acção social: Serviço Local da Segurança Social, Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, Núcleo de Intervenção Precoce, Rede Social, Agrupamento n.º 221 de Anadia do Corpo Nacional de Escutas, Santa Casa da Misericórdia de Anadia, APPACDM de Anadia e outras instituições particulares com intervenção neste domínio;
· transportes e comunicações: estação de correios, praça de táxis e carreiras de transportes públicos;
· apoio aos sectores económicos: Comissão Vitivinícola da Bairrada, Estação Vitivinícola da Bairrada, Farmácia Agrícola, Cooperativa Agrícola, veterinários, delegações de associações comerciais e industriais e mercado municipal (encontrando-se um moderno e completo equipamento em adiantada fase de conclusão);
· comunicação social: um semanário regional, um quinzenário regional, uma delegação de semanário regional e uma rádio local;
· novas tecnologias: Fundação para as Novas Tecnologias da Informação e Espaço Internet;
· cultura: Biblioteca Municipal (encontra-se em construção um novo edifício, no âmbito da Rede de Leitura Pública), Centro Cultural (com Galeria Municipal de Exposições e Sala de Formação), Casa e Biblioteca Rodrigues Lapa, Museu do Vinho Bairrada, Museu José Luciano de Castro, Cine-Teatro (em construção), auditórios e anfiteatros (dando ênfase especial ao Anfiteatro do Vale Santo, na encosta nascente do Monte Crasto, que tem servido como espaço multidisciplinar, albergando variadíssimos eventos de carácter cultural, social, tempos livres e lazer, bem como de desenvolvimento económico, nomeadamente a Feira da Vinha e do Vinho); são numerosas as associações que desenvolvem iniciativas culturais da mais diversa índole (espectáculos musicais e teatrais, exposições, seminários e edição de publicações, entre outras);
· desporto: Complexo Desportivo (Estádio, Piscinas, Courts de Ténis, Campo Sintético, e um novo Pavilhão de Desportos, actualmente em construção), Pavilhão Gimno-Desportivo de Anadia, Campo de Futebol Pequito Rebelo (Anadia), Campo de Futebol José Mariz da Silva (Famalicão), polidesportivos descobertos (Anadia e Póvoa do Pereiro) e espaços desportivos enquadrados em recintos escolares; a prática desportiva é promovida por várias colectividades, algumas delas em actividade há longas décadas, sendo de destacar o Anadia Futebol Clube (futebol, basquetebol e hóquei em patins) e o Atlético Clube de Famalicão;
· espaços verdes: jardins públicos e privados (palacetes), Monte Crasto e Choupal, entre outros.

VII. NOTA FINAL
A importância deste espaço foi reconhecida ao longo dos séculos por todos quantos aqui interagiram, num esforço contínuo de investimento em prol do progresso e da qualidade de vida dos seus habitantes.

A presente caracterização revela a existência da dinâmica que tem sido o suporte do crescimento e desenvolvimento integrado que Anadia consolidou e vem ampliando.

Face ao exposto, considera-se demonstrado que o aglomerado urbano contínuo constituído pela vila de Anadia e povoações contíguas (Alféloas, Arcos, Canha, Famalicão, Malaposta e Vendas da Pedreira, da freguesia de Arcos, e Póvoa do Pereiro, da freguesia da Moita), reúne as condições necessárias à sua elevação a cidade.

Nestes termos, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis e atendendo ao facto de estarem reunidos os requisitos previstos na Lei n.º 11/82 de 2 de Junho, o Deputado do Grupo Parlamentar do PSD abaixo assinado, apresenta o seguinte Projecto de Lei:

Artigo único

É elevada à categoria de cidade a vila de Anadia e povoações contíguas (Alféloas, Arcos, Canha, Famalicão, Malaposta e Vendas da Pedreira, da freguesia de Arcos, e Póvoa do Pereiro, da freguesia da Moita).

Assembleia da República, 25 de Novembro de 2004.

O Deputado do PSD,
José Manuel Ferreira Nunes Ribeiro

julho 07, 2005

Bucintoro


Return of the Bucintoro to the Molo on Ascension Day 1732

Bucintoro
State barge. L/B/D: 143.7 × 23.9 × 27.6 (43.8m × 7.3m × 8.4m). Hull: wood. Comp.: 168 oarsmen. Built: Arsenale, Venice; 1728.
In 1100, the Venetian Doge Pietro Orseolo began the consolidation of Venetian power with the defeat of Dalmatian pirates who had long infested the Adriatic trade routes. As the power of the Most Serene Republic grew, her annual rite of the blessing of the sea evolved into a more complex and elaborate ceremony by which Venice was spiritually wed to the Adriatic. The sposalizia—literally, the wedding—annually took place on Ascension Day, the anniversary of the departure of Orseolo's fleet. The Doge, his retainers, members of the clergy, and the various ambassadors to Venice would put out in the Bucintoro, rowed by 168 oarsmen pulling on 42 oars. After the blessing of the ring by the Patriarch of San Elena, the Bucintoro would continue past the Lido, and the Doge would drop the marriage ring into the Adriatic with the words: "Disponsamus te, Mare, in signum veri perpetuique dominii" (We wed thee, Adriatic, as a sign of our true and perpetual dominion). The presence of ambassadors ensured that this was no idle covenant, and indeed the Holy Roman Emperor Frederick III, among others, sought permission for his ships to pass through the Adriatic.
Just when the sposalizia formally began is unknown. There was a ritual blessing of the Adriatic in Orseolo's time, and this would have taken on added importance following his victory over the pirates. Two centuries later, in 1177, the stature of Venice was further enlarged with Pope Alexander III's official recognition of her role in mediating a long-standing dispute between the papacy and the Holy Roman Empire. "Bucintoro" is also of uncertain origin. One theory is that it refers to a figurehead combining elements of a cow and a centaur. It may also be a corruption for either ducentorum, meaning a boat carrying 200 men, or cinto d'oro, meaning girdled with gold, as the later vessels certainly were. The last of the state barges to bear the name Bucintoro was built in 1728. In addition to the sposalizia, she was also used for important ceremonies of state. Her end came in 1797 when the French seized the Republic of Venice. In a rite of ritualistic humiliation, General Napoleon Bonaparte ordered his troops to melt down the gold decoration and destroy the barge's adornments. The hull was spared and fitted out as a floating battery in the Austrian Navy. The renamed Hydra may have remained in service until 1824.
Senior, "Bucentaur."

junho 03, 2005

O pormaior


Jan Brueghel I - Latona and the Lycian Peasants 1605

Quanto tempo terá levado este quadro a fazer? E em que estaria a pensar o autor? E nós vamos viver para debaixo da ponte?

abril 11, 2005

História do Afrikaans

The language Afrikaans has its roots in seventeenth century Dutch but it has been influenced by many languages including: English, Malay, German, Portuguese, French and some African languages. Up until the 19th century Afrikaans acted only as the spoken language and Dutch was used as the formal and written language. On 14 August 1875 the GRA, an organization that promoted the Afrikaans language, was formed by Rev. S.J. Du Toit. The first complete translation of the Bible into Afrikaans was made in 1933. According to Act 8 of 1925 of South Africa it became the official language (incorporated into Dutch) together with English. The language was promoted alongside Afrikaner nationalism after 1948 and played an important role in minority white rule in Apartheid South Africa. With the new constitution of South Africa (1996) it was again accepted as one of the official languages of South Africa.
It is important to note that Afrikaans is spoken by all races and ethnic groups in South Africa and much has been done in recent years to promote varieties of this language that were suppressed during the years of Apartheid.
CLASSIFICATION:
Family: Indo-European
Group: Germanic
Subgroup: West Germanic
VARIETIES:
Eastern Cape Afrikaans (Oosgrensafrikaans - which became Standard Afrikaans), Cape Afrikaans (Kaapse Afrikaans) and Orange River Afrikaans (Oranjerivierafrikaans).
SPEAKERS:
Around 5 811 547 people use Afrikaans as their home language in South Africa. The language is also spoken in the Republic of Namibia.

março 15, 2005

A Chegada da Malaposta (ao Porto)


Mala-Posta de Lisboa a Coimbra, 1798.
(Reconstituição a óleo por J. Pedro Roque, 1968) Posted by Hello

A Chegada da Malaposta
Por JOSÉ MANUEL LOPES CORDEIRO, Domingo, 10 de Outubro de 1999

A inexistência de estradas capazes de garantir a regular comunicação entre as principais localidades do país constituiu um problema que só a partir de meados do século XIX começou a ser solucionado. A ligação por estrada entre as duas principais cidades, por exemplo, era ainda no final do primeiro quartel de Oitocentos um objectivo a alcançar. No século XVIII tinha-se iniciado a construção, a partir de Lisboa, da ligação entre estes dois centros urbanos, a qual, contudo, acabou por se quedar por Coimbra. Não obstante várias tentativas para alcançar o Porto, esse objectivo acabou por não ser concretizado, continuando-se a utilizar a antiga via - alvo de reparações constantes -, o que tornava a viagem longa, incómoda e onerosa.
Em 1835, após a vitória definitiva do liberalismo, foi projectada uma nova estrada que estabelecesse a ligação entre a capital e a Cidade Invicta e, finalmente, dois anos mais tarde, é celebrado o contrato para a construção da ambicionada via, assim como das correspondentes obras de arte, adoptando, sempre que conveniente, o então revolucionário método do engenheiro escocês John MacAdam para a construção de estradas, divulgado em 1820. Entre as obras de arte incluídas no contrato constava uma ponte sobre o Douro - a construir segundo o sistema de suspensão - a ponte pênsil.
Apesar das obras de construção da principal estrada do Reino avançarem com alguma regularidade, e da ponte pênsil ter sido aberta ao trânsito em 7 de Janeiro de 1843, foi necessário aguardar pela segunda metade do século XIX para que a nova estrada Lisboa-Porto fosse, definitivamente, uma realidade.
Para além de se procurar resolver o problema da ligação por estrada entre as duas principais cidades do país, um dos objectivos igualmente subjacentes à sua construção dizia respeito à possibilidade de se estabelecer o sistema de comunicações postais, tanto mais que Portugal vinha tomando importantes decisões nesta matéria: em 1844, celebrara uma Convenção Postal com a França; em 1852, tinha introduzido uma reforma postal que alterou profundamente a organização dos Serviços de Correios; e, em 1853, adoptara o selo postal adesivo. Impunha-se, portanto, garantir o funcionamento de um serviço de transporte regular de correio e, obviamente, de passageiros, então vulgarmente conhecido por Mala-Posta.
Importa sublinhar que, naquela época, a Mala-Posta portuguesa não constituía propriamente uma novidade. Embora com algum atraso relativamente a outros países europeus, tinha sido introduzida em Portugal nos finais do século XVIII, mais propriamente em 1798. Contudo, em especial nos seus primeiros anos de funcionamento, registou uma existência muito atribulada, com inúmeras interrupções, as quais também se deveram à instabilidade política por que o país passou ao longo da primeira metade do século XIX. Se exceptuarmos o curto período de 1798 a 1804, que correspondeu à primeira experiência da Mala-Posta entre Lisboa e Coimbra, praticamente só entre 1852 e 1871 - quando desapareceu o serviço da Mala-Posta, definitivamente substituído pelo caminho-de-ferro -, é que se pode afirmar, com propriedade, a existência entre nós daquele serviço de transporte regular de correio e de passageiros.
Em 1852, com a estrada Lisboa-Porto finalmente passível de ser utilizada sem grandes problemas - ainda em 1842, já com a nova estrada em construção, existiam troços "aonde a água chegava à barriga das cavalgaduras, por espaço de muitas braças" (uma braça correspondia a 2,2 metros) -, foi possível iniciar o serviço de Mala-Posta entre as duas principais cidades do Reino. Inicia-se assim, em 1855, a carreira da Mala-Posta entre Lisboa e o Porto, a única cuja exploração proporcionou, de facto, resultados proveitosos do ponto de vista económico.
No entanto, perante a incerteza do investimento, o concurso para a exploração de carreiras diárias em diligência, aberto em 1855, ficou deserto - na realidade, chegaram a apresentar-se dois concorrentes, mas, por motivos que não foi possível apurar, não lhes foi concedido o alvará - , tendo sido o Estado a encarregar-se do reatamento da exploração da carreira, inaugurando-se, em 21 de Maio daquele ano, o novo serviço de Mala-Posta, entre o Carregado e Coimbra. O correio e os passageiros saíam de barco de Lisboa, subindo o Tejo até ao Carregado, onde tomavam a diligência com destino à cidade do Mondego. Porém, no ano seguinte, este troço inicial até ao Carregado passou a ser efectuado de comboio, em virtude da inauguração do caminho-de-ferro ocorrida nesse ano de 1856. O trajecto entre Lisboa e Coimbra, de cerca de 180 quilómetros, efectuado em imponentes veículos de quatro cavalos, era então percorrido em aproximadamente 23 horas, ou seja, com a estonteante velocidade média de 7,8 quilómetros por hora.
No entanto, a ligação ao Porto continuava a constituir um problema, e a data inicialmente prevista (1856) era sucessivamente adiada. Refira-se, a propósito, que as diligências da Mala-Posta eram construídas em Inglaterra e dispunham de sete lugares, quatro no interior, correspondentes à 1ª classe, e três no exterior, consagrados à 2ª classe. Ao longo do percurso até Coimbra, paravam em 14 estações de muda - onde procediam a uma rápida troca de cavalos durante cerca de, mais ou menos, dez minutos, embora nas Caldas da Rainha e Leiria as paragens fossem mais demoradas, a fim de os viajantes poderem tomar breves refeições.
Durante a viagem, os cocheiros e os sotas - a parelha da frente - eram também substituídos em determinadas partes do percurso. O postilhão - o empregado dos Correios que acompanhava os cavalos da Mala-Posta - era o único que efectuava toda a viagem, cabendo-lhe a responsabilidade de zelar pela segurança do correio. Com a crescente procura do serviço da Mala-Posta e, consequentemente, com o aumento do número dos passageiros, foi necessário adquirir novas carruagens, de 12 lugares, mais o condutor, construídas na Carrosserie du Chemin Vert, em Paris.
A partir de 1857, ultimam-se as obras do troço da estrada entre Coimbra e Porto e, em 1859, a Mala-Posta passa a servir também a Cidade Invicta, mais propriamente o Alto da Bandeira, em Vila Nova de Gaia, onde se estabeleceu a estação "terminus" da carreira. A viagem era efectuada de uma forma ininterrupta, descontando as já referidas paragens nas estações de muda - agora em número de 23 - para troca de cavalos, descanso do pessoal e tomada de refeições, num total de 34 horas para vencer os cerca de 300 quilómetros que então separavam Lisboa da capital do Norte, aumentando a velocidade média para uns fulgurantes 8,8 quilómetros por hora.
O acontecimento foi efusivamente saudado pela população nortenha, embora também se ouvissem algumas vozes mais comedidas, como se constata na leitura de "O Comércio do Porto" de 17 de Maio de 1859, quando refere: "Chegou ontem finalmente a Mala-Posta ao Alto da Bandeira e partiu de tarde levando quatro passageiros. Consta-nos que percorrera toda a estrada desde o Pinheiro da Bemposta até àquele sítio sem o menor inconveniente. Gozamos pois de mais este melhoramento. Agora poder-se-á fazer a viagem entre Lisboa e o Porto sem interrupção e com a maior comodidade. É preciso, porém, que a estação seja no Porto e não no Alto da Bandeira e para isso não se deve deixar de empregar toda a actividade, para que no menor espaço de tempo possível se consiga a conclusão da estrada até à ponte pênsil", desiderato que só foi alcançado em 16 de Outubro de 1861.
Entre 1859 e 1864 - quando o caminho-de-ferro chegou às Devesas - a Mala-Posta serviu o Correio e os passageiros sem grandes problemas, embora os viajantes mais endinheirados preferissem efectuar a viagem servindo-se de um outro meio de transporte, o barco a vapor. Apesar destas "conquistas da civilização" nos parecerem hoje irrisórias, para a época constituíram um significativo melhoramento, que só o caminho-de-ferro, um pouco mais tarde, veio ultrapassar. Como sublinhou Fontes Pereira de Melo, num discurso em 18 de Janeiro de 1875, "acima do cavalo da diligência está o trâmuei, acima deste a locomotiva e acima de tudo o progresso".

março 04, 2005

A história da Ópera


Letra e Música de Chico Buarque, 1979 Posted by Hello

A história da Ópera
Mas como resistiu ao tempo esta elegia a uma boémia carioca perdida, misturada com uma mensagem política em tempos de ditadura? CharlesMöeller , o encenador-prodígio do momento, disse à VISÃO que deu «uma enxugada» no texto, com a aprovação de Chico: «Quando o musical estreou, vivia-se uma ditadura.
O texto e as canções tinham muito cheiro de entrelinhas, de intervenção. Sentia-se muito o peso de Brecht , os microfones junto ao palco, os actores a interromperem a acção para cantarem... O que eu fiz tem mais a ver com a tradição do musical americano, onde as canções comentam ou fazem avançar a acção.» Realmente, os tempos eram outros: Chico já tinha sentido o peso da censura aquando da estreia da peça musical Calabar – O Elogio da Traição. Estava-se em 1973, no auge da ditadura militar brasileira, e o regime tudo fez para adiar ou anular a sua estreia. O 25 de Abril em Portugal tornou as coisas ainda mais complicadas, e Calabar (que incluía canções como Bárbara ou Ana de Amesterdão) apenas estreou em 1977. Com a Ópera do Malandro, o episódio repetiu-se, com a censura a proibir a versão original da canção
O Meu Amor, por ter a palavra «sexo» num dos versos – Chico foi obrigado a substituí-la por «ventre». Mas a produção foi em frente, e logo nessa altura conheceu um êxito desmedido: inspirada na Ópera dos Três Vinténs, de Brecht e KurtWeill , e na Ópera do Mendigo, do autor inglês do século XVIII JohnGay , o elenco original contava com Marieta Severo, então casada com Chico Buarque , e Tânia Alves, para além de uma jovem actriz e cantora chamada Elba Ramalho. Logo no ano da sua estreia conquistou o prémio Molière para o melhor espectáculo. Um ano depois surge o álbum duplo com a banda sonora, que contém excelentes interpretações de ZiziPossi , MPB4, Elba Ramalho, Moreira da Silva e do próprio Chico Buarque . Em 1986, surge o filme de Ruy Guerra, com EdsonCellulari no papel principal e com novas canções do autor. A Ópera do Malandro teve ainda outras encenações, incluindo uma bizarra adaptação de Gabriel Villela , em 2000, que trouxe elementos do faroeste americano para a Lapa carioca dos anos 40.
Em Portugal, o libreto completo da Ópera foi publicado logo em 1981 (a edição original é de 1978) pelas Edições O Jornal, com um longo e precioso prefácio do maestro João de Freitas Branco.

Dupla de perfeccionistas
O enredo do musical é simples, como convém: Max Overseas (interpretado nesta produção por Alexandre Schumacher ) é o arquétipo do antigo malandro carioca: um pequeno marginal, mulherengo e contrabandista, que vive um amor proibido com Teresinha, filha de um dono de bordel, e se vê encurralado por um casamento forçado. Toda a acção se situa no bairro boémio da Lapa, entre prostitutas e demais personagens de vida duvidosa. Pelo meio, surgem figuras inesquecíveis como a de Geni .
O encenador quis reforçar esse hino a um mundo perdido, onde havia inocência e romantismo: «A boémia perdeu-se.
O malandro foi assassinado culturalmente pela violência mundial, que passa pelas guerras, a Internet ou as multinacionais. Não existe já esse mulherengo marginal que faz toda a gente feliz.»
O actor Alexandre Schumacher concorda: «Já não existe essa poesia do malandro, a não ser na música, no samba. O malandro, hoje, é mais estético do que outra coisa, porque os verdadeiros marginais dedicam-se ao tráfico e ao assassínio», disse à VISÃO. Então o que move o Max Overseas de 2005? «Desejo», responde prontamente Schumacher , «desejo e nada mais. Acaba por ser, aliás, o seu próprio calvário, porque a sua gula de desejo vai aumentando.» CharlesMöeller vai mais longe: «A Ópera, vista nos dias de hoje, tem a ver com o poder e com a guerra pelo poder, e como toda a gente se transforma quando lá chega. Há uma gravura de Escher em que um tubarão está a comer uma sardinha, que por sua vez come outro peixe e por aí fora, sem fim. É assim que eu vejo este texto: uma luta em que o mais fraco exerce o poder sobre o ainda mais fraco.»
Quem tenha assistido à versão de 1978 vai ficar surpreendido com o que é, agora, uma megaprodução . O que era antes uma estética da pobreza brechtiana constitui, agora, uma encenação digna de qualquer palco da Broadway . Alguns factos e números, só para impressionar: três palcos giratórios, uma orquestra de 12 músicos que toca ao vivo, um equipa de cerca de 70 elementos e 75 figurinos especialmente concebidos para este espectáculo. A dupla Möeller e Botelho – que literalmente revitalizaram o musical brasileiro, assinando êxitos de bilheteira como Cole Porter , Ele Nunca Disse Que Me Amava (2000) – é perfeccionista e por isso não é de espantar que tenham sido gastos quase 800 metros de tecidos para os figurinos, de crepes a veludos, passando por linho e cetim. Todas as peças foram recriadas rigorosamente à maneira dos anos 40. Os dois auto-intitulados « buarquemaníacos » escolheram judiciosamente o elenco, baseados na excelência das vozes e na capacidade de representação. É essa extraordinária harmonia que faz a diferença ao longo das 20 canções que o espectáculo contém. Infelizmente para nós, um membro do elenco original não pode vir a Portugal por razões de trabalho: é Lucinha Lins, que os portugueses conhecem bem das novelas e que dava voz e vida a Vitória, mãe de Terezinha . Para os que quiserem prolongar o palco até casa, existe já o CD da banda sonora desta produção.

Um homem feliz
No meio de tudo isto, Chico Buarque é um homem feliz. Möeller e Botelho tiveram a aprovação total do autor para esta versão, e até mais: «O Chico, hoje, é aquele tipo meio recluso, que raramente sai. Mas ele foi a um ensaio e adorou», conta o encenador. «No final estava muito emocionado, chegou mesmo a chorar. Não veio à estreia, mas veio depois e esteve com o elenco antes e depois do espectáculo. Veio ao camarim antes de começar e rezou connosco, foi incrível!» O único pedido que Chico fez foi o da utilização da versão original de O Meu Amor, o que naturalmente foi atendido. O resultado foi o que já aqui se relatou e que agora nos preparamos para confirmar. Percebe-se que o espectáculo só pode ser um sucesso quando se ouve a emoção na voz de Möeller : «Eu nunca pensei que viria a dirigir a Ópera do Malandro. Já me posso aposentar.»

© Copyright VISÃO / Edição nº 624

fevereiro 16, 2005

O País está a crescer


Situação em 5 de Fevereiro de 2005 Posted by Hello

Parece que tal crescimento está mesmo a provocar já algum afastamento entre as casas...
Não, não é verdade, trata-se apenas de uma consequência das obras de construção de um edifício, ao lado do que está ao lado deste.
As escavações para execução das fundações desse prédio provocaram um assentamento das fundações do prédio contíguo, que se inclinou ligeiramente para Norte, "descolando" deste prédio.
Este movimento começou a ser detectado em Novembro de 2004. Agora na zona superior há já mais de um dedo de afastamento.
Nas fotos vê-se que a abertura já provocou o desligamento das telas asfálticas de isolamento na zona da cobertura.

janeiro 05, 2005

Lin Piao (Lin Biao)

1907-1971, Chinese Communist General
Lin Piao, one of the three or four outstanding generals who fought for the Communist cause in China, was a superior practitioner of guerrilla warfare. Lin grew up near the city of Wuhan on the Yangtze River in central China as the son of a well-to-do factory owner. He became involved in radical student circles in the late 1910s and early 1920s, when he joined the Communists and entered the Whampoa Military Academy. Though the academy was officially Nationalist, Russian advisers taught there, and many Communists studied there until the breakdown of the United Front in 1927.
Using guerrilla tactics, Lin scored several crucial victories to secure the Kiangsi Soviet (1931-1934), the first sizable piece of territory under Communist control. It was also Lin who in 1934 led the famed Communist breakout from Chiang Kai-shek's encirclement that began the Long March, and who scored a famous victory over the Japanese at the Ping-hsing Pass near the Great Wall in September 1937.
Lin knew, however, that guerrilla warfare was the weapon of the weak. Close to Mao Tse tung and with a reputation for tactical and strategic brilliance, in 1945 he was appointed the commander of all Communist forces in Manchuria, where the fate of China was decided in the Chinese Civil War (1945-1949). Although initially forced to adopt guerrilla tactics, Lin gradually welded guerrilla units together into large armies capable of conventional warfare. Taking the offensive in 1947, he isolated Chiang Kai-shek's forces in the cities and put them out of action during the Liao-shen campaign of 1948. This was one of the great battles of the civil war period in which Lin showed off his tactical skills. His forces subsequently marched south, first taking Tien-tsin in a bloody battle and then securing the surrender of Peking. By the end of 1949, Lin's armies had marched through central China and taken the last major city in the south, Canton. Lin was only forty-two years old.
Lin today is much reviled. His reputation has suffered, perhaps because bouts of mental and physical illness kept him out of action during the Anti-Japanese and Korean wars. During the first, Lin was in Moscow between late 1938 or early 1939 and 1942, perhaps to recuperate from battle wounds, perhaps for other reasons. Between 1942 and 1945 Lin taught at the Resistance University at the Communist capital of Yan-an. In 1959 he became minister of defense and sought to strengthen Maoist principles in the army. He is famed for editing Mao's Little Red Book, requiring soldiers to study it endlessly, and he helped bring about the Cultural Revolution. In 1971 Lin attempted a coup d'état. Fleeing the country, he died when his plane crashed or was shot down over Mongolia.
Hans J. Van De Ven

Mao Tsé-tung (Mao Zedong)

1893-1976, Chinese Revolutionary War leader
Unlike Napoleon, Mao Tse-tung never directly commanded a decisive battle, and he therefore cannot be classed as one of the world's great generals. Nonetheless, if Mao's contributions to Marxist theory and his performance as ruler have been disparaged, his reputation as a thinker about military affairs has remained intact. It was Mao who elaborated the principles of revolutionary war and provided the Chinese Communist Party with a strategy to seize power.
Mao's awakening to the importance of military power came in the late 1920s. Having grown up in comfortable rural circumstances, Mao attended a modern school in Changsha, the provincial capital of his native province of Hunan in south-central China. He became involved in radical student activities in the late 1910s and 1920s and was present at the founding of the Chinese Communist Party in 1921. Like all early Chinese Communists, he initially did not question that revolutions were brought about by uprisings in urban centers, as was true for the October Revolution in Russia. In 1926 and 1927, at the closure of a period of large-scale civil war when Chiang Kai-shek, who had succeeded Sun Yat-sen as Nationalist leader, had deployed modern armies to seize power and crush the Communists with whom he had first cooperated, Mao first concluded that China's countryside, and not its cities, was where China's revolution should begin. He also decided that "power comes out of the barrel of a gun." This opened the door to a strategy of Communist revolution integrated with military conquest.
The most salient aspects of revolutionary war are as follows. The party had to be in control over the military. Although the relation between the army and the party was never simply one of subordination, party control over the army was real. As soon as Mao set up guerrilla forces, he also instituted a commissar system. Soldiers were required to manifest Communist ideology in their behavior. The party always was the final arbiter over policy and military strategy.
From the fate of past peasant rebellions, Mao drew the conclusion that a band of guerrillas roaming the country could not secure revolutionary success. Base areas not only provided Communist armies with places for rest and the party leadership with a safe haven; at these locations, much of the population was drawn into a three-tiered system of local self-defense forces, militias, and regular armies, thus providing the military with an ample supply of personnel. Also, at base areas the movement's revolutionary social, economic, and political policies were put into effect. In Mao's words, base areas were "the buttocks of the revolution."
Revolutionary war also embraces a varied set of strategic and tactical principles for combat. Mao's principles stipulated that the goal of warfare was not the defense of territory, but the preservation of Communist forces and the collapse of those of the opponent. If a territory could not be held, it would be given up. Communists attacked only when they had significant superiority of troops, when they had the initiative, and when technical superiority could be nullified by close combat. Even though revolutionary war has been closely associated with guerrilla war, Mao Tse-tung always placed it in the context of mobile and conventional warfare.
Mao, for instance, argued in 1938 in "On Protracted War" that the fight against the Japanese would go through three phases. In the first phase of fighting the Japanese would advance to a standstill. Guerrilla warfare would be most important during the second phase of stalemate, after Japanese supply lines became stretched out and manpower scarce and when Chinese forces were building up their strength. Large armies fighting conventionally would destroy the enemy in the final offensive phase.
These ideas flowed naturally out of Communist experiences with Nationalist attacks on the Kiangsi Soviet in central China in the first half of the 1930s. The first attacks had been defeated by Mao's policy of mobile warfare and "luring the enemy in deep." Positional defense, however, was attempted. Even though other reasons contributed to the Communists' defeat, the Nationalists did force the Communists to leave the Soviet and begin the Long March in the autumn of 1934. Because Mao had led the Soviet's military during the first attacks but not the last, the defeat did give Mao the opportunity to oust his opponents and take charge again of military affairs at the Zunyi Conference of 1935. Mao then led the Communists to the safety of north China. It was a turning point in the history of Chinese Communism and the life of Mao.
Though developed specifically with reference to the Japanese invasion of China, Mao's principles could be applied also to the problems the Communists faced in the Civil War period ( 1945-1949) (q.v.). In broad terms, Communist warfare did develop along the lines indicated by Mao. But his military thinking did not defeat the Japanese; rather, the many campaigns fought by the Nationalists in China and, of course, by the Americans in the Pacific war did so. The Nationalists themselves had been exhausted during the war against the Japanese and were overwhelmed by the difficulties of taking charge once more of a vast country wrecked by decades of war and rebellion.
Mao Tse-tung was not only a military theoretician. He was the chairman of the party's military committee and deeply involved himself in military decision making. He was responsible for, or at least assented to, all the major strategic shifts that the Communists took on their way to power, including the decision to build base areas in north China, to conclude a second United Front with the Nationalists during the Anti-Japanese War (1937-1945), and to give priority to Manchuria during the Chinese Civil War (1945-1949). Manchuria's industry had been developed by the Japanese, and it was close to the Soviet Union. Sometimes Mao disregarded the advice of the military, as he did when he decided that China should join in the Korean War. That decision was likely informed by the belief that the United States might drop a nuclear bomb on north China and Chiang Kai-shek use the Korean War to order his armies back to mainland China from Taiwan. Whether or not Mao's preemptive action prevented the occurrence of these events cannot be known. Mao, in short, was the revolution's chief of staff.
Hans J. Van De Ven