Debaixo da Ponte

Textos relacionados com os 'posts' do Ponte da Pedra

novembro 28, 2013

Conversa de Santiago

Camaradas:
É tal como o guião para reforma do Estado! Quatro candidatas datas, qual preferem? Esta, aquela, aqueloutra e ainda uma outra. Solução referendada, tal como nas verdadeiras democracias. Pensa bem, consulta o oráculo, testa o feng-shoi, então e o compromisso com a sogra ou a audição de piano do neto. Como vamos de meteorologia, joga o Sporting, fala o Sócrates ou o Marcelo, há greve na restauração, onde janta a Intersindical?
Segue-se a votação, claramente livre. Apuramento dos resultados, expectativa, tratamento estatístico, média, mediana, desvio padrâo, segunda derivada, margem de erro.
Finalmente resultados! Surpresa, desolação, revolta, vocifera o Soares, manda-se ao Tribunal Constitucional, uma quinta candidata data prevaleceu! Porquê, quem, qual, onde, quando, donde????
Conferência de imprensa às 08.08 da matina de quinta feira: fala o chefe rodeado dos acólitos do costume "como resultado blá, blá,........blá", a data escolhida é 18 por causa da troika! 
Há que aplaudir e dar os parabéns para um tão imaginativo chefe.
Saudações
Santiago

fevereiro 20, 2013

Grândola, a caminhada de um poema


Zeca Afonso deslumbrou-se com Grândola, onde conheceu Carlos Paredes e fez um poema à terra.

Domingo, 17 de Maio de 1964. A Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, na continuação dos festejos do seu 52.º aniversário, promove "um espectáculo de fino gosto musical com que deliciará o público". Na primeira parte, o guitarrista Carlos Paredes, acompanhado à viola por Fernando Alvim, e não, como anunciado no cartaz, pelo ciclista Júlio Abreu. Depois dele, o "Dr. Zeca Afonso", descrito como um "inovador" com "belas e estranhas baladas".
Era impossível sabê-lo então, mas aquele concerto em Grândola foi uma data marcante para José Afonso. Foi ali que conheceu Carlos Paredes e se impressionou com o seu talento. E foi o contacto com a colectividade e o convívio com os grandolenses que o inspirou a escrever um poema de homenagem à cidade. Quatro dias depois do concerto, remeteu-o a um dos dirigentes da colectividade. Tratava-se, como não será difícil adivinhar, de “Grândola Vila Morena”.
Passos no saibro do castelo
Sete anos depois, o poema vagueava pela Normandia, um entre os que seriam seleccionados para o novo álbum de José Afonso. No Strawberry Studio, montado num castelo em Herouville e por onde tinham passado os Pink Floyd e os Rolling Stones, José Afonso, que contava pela primeira vez com a direcção musical de José Mário Branco, gravava “Cantigas do Maio”.
Disco maior na história da música portuguesa, abrindo-a a novas influências e nova instrumentação, teve no seu centro uma canção despojada a nada mais que vozes e ritmo marcado por passos arrastados.

“Grândola Vila Morena”, que desde 1964 tinha perdido uma estrofe ("Capital da cortesia / Não se teme de oferecer / Quem for a Grândola um dia / Muita coisa há-de trazer") e ganho outra ("À sombra de uma azinheira / Que já não sabia a idade / Jurei ter por companheira / Grândola, a tua vontade"), transpôs para som a homenagem do poema.

Como descrito no livro “José Afonso - O Rosto da Utopia”, de José A. Salvador, José Mário Branco sugeriu que fosse cantada à moda dos coros masculinos alentejanos, com cada quadra repetida por ordem inversa dos versos. Como acompanhamento, o som de pés arrastando-se pelo chão, aquele que os membros dos coros produziam no balanço que lhes marca o cantar.

Eis então, numa madrugada de Outubro de 1971, José Afonso, José Mário Branco, o guitarrista Carlos Correia (Bóris), Francisco Fanhais e restante equipa, "armados" com oito microfones, caminhando sobre o saibro que rodeava o castelo.

O poema tornava-se canção e, três anos depois, a canção tornava-se senha. Os passos gravados num castelo francês já eram outra coisa. A marcha dos militares no dia 25 de Abril.
A letra
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Texto publicado na edição impressa de 25 de Abril de 2010 do Público

dezembro 07, 2012

Roteiro de viagens da família


Paris/Eurodisney - Março/Abril 2007
Salvador  - Março 2008
Madeira - Junho 2008
Douro - Setembro 2008
Guimarães/Santiago de Compostela - Dezembro 2008
Cuba (Havana/Varadero) - Abril 2009
Roma - Outubro 2009
Istambul - Dezembro 2009/Janeiro 2010
Barcelona/Port Aventura - Abril 2010


dezembro 05, 2012

Até ao Verão - a letra


Até ao Verão

Deixei
na Primavera o cheiro a cravo
rosa e quimera que me encravam na memória que inventei

e andei
como quem espera
pelo fracasso
contra mazela em corpo de aço
nas ruelas do desdém

e a mim que importa
se é bem ou mal
se me falha a cor da chama a vida toda
é-me igual

vi sem volta
queira eu ou não
que me calhe a vida
insane e vossa em boda
até ao verão

deixei na primavera o som do encanto
riça promessa e sono santo
já não sei o que é dormir bem

e andei pelas favelas
do que eu faço
ora tropeço em erros crassos
ora esqueço onde errei

e a mim que importa
se é bem ou mal
se me falha a cor da chama a vida toda
é-me igual

vi sem volta
queira eu ou não
que me calhe a vida
insane e vossa em boda
até ao verão

Marcia Santos