Textos relacionados com os 'posts' do Ponte da Pedra

outubro 22, 2007

Notícia de jornal








Caves Valdarcos falida vai vender património
2007-10-05 Jornal de Notícias Tãnia Moita
A Caves Valdarcos, empresa que labora em Anadia desde 1926, produzindo e comercializando vinhos, espumantes e licores com a marca homónima, vai mesmo avançar para a insolvência. Esta foi a proposta apresentada ontem, no tribunal de Anadia, pelo liquidatário judicial, Fernando da Silva e Sousa, e aceite pela Assembleia de Credores. A antiga gerência ainda referiu acreditar na viabilização da empresa, encerrada desde Março, mas não se opôs à deliberação da maioria de avançar já para a venda de todo o património da empresa, inclusive de activos, existências, créditos sobre clientes e direitos das marcas que comercializa. Com uma dívida global de 1,2 milhões de euros, incluindo as indemnizações aos cerca de 20 trabalhadores da empresa, alguns dos quais com mais de 10 anos de casa, o liquidatário judicial considerou não haver condições para a apresentação de um plano de insolvência, que pressuporia a recuperação da empresa. Propôs antes a venda, em carta fechada e depois da avaliação de um perito, de tudo o que pertence à Caves Valdarcos, incluindo no património alguns dos bens que haviam sido vendidos pela antiga gerência antes do pedido de falência, em Março deste ano. Nomeadamente, a antiga gerência aceitou a resolução do contrato de cessão graciosa do edifício onde está instalada a empresa a uma terceira, com gerentes comuns à Caves Valdarcos. Também a venda do parque automóvel da empresa, em Janeiro, por cerca de 45 mil euros, alegadamente com o intuito de evitar a apreensão dos veículos, poderá ser anulada. O liquidatário judicial defendeu a entrega de um valor compensatório mínimo de 15 mil euros à massa insolvente, mas a antiga gerência fez saber que se o valor definido pela Comissão de Credores for superior, optará pela resolução do contrato de venda. Maior discussão suscitou a questão levantada pelo advogado dos trabalhadores acerca da eventual venda de equipamento e maquinaria da empresa no valor de 202 mil euros antes do pedido de falência. O advogado da Caves Valdarcos negou a transacção, afirmando que, a haver documentação, só poderia ser falsa. E protestou contra o que considerou "suspeitas infundadas" sobre a insolvente. A juíza acabou por intervir e referiu que a questão, a ser levantada, seria para outra instância.

Urbano & Seabra, Lda. - O fim da história?

1.o JUÍZO DO TRIBUNAL DA COMARCA DE ANADIA
Anúncio n.o 4226/2007
Insolvência de pessoa colectiva (apresentação)
Processo n.o 648/07.2TBAND
Insolvente—Caves Valdarcos, L.da, e outro(s).
Presidente da comissão de credores—Banco Comercial Português, S. A., e outro(s).
No 1.o Juízo do Tribunal da Comarca de Anadia, no dia 23 de Maio de 2007, ao meio-dia, foi proferida sentença de declaração de insolvência do devedor Caves Valdarcos, L.da, número de identificação fiscal 500293759, com sede na Malaposta, 3780 Anadia.
É administrador do devedor Armando Adriano Ferreira Pereira, número de identificação fiscal 168003031, com domicílio em Cruzeiro, Alféloas, 3780 Anadia.
Para administrador da insolvência é nomeado António Moreira Bonifácio, com domicílio no Edifício Ordem IV-R, rés-do-chão, piso 4 C, apartado 47, 4634-909 Marco de Canaveses.
Ficam advertidos os devedores do insolvente de que as prestações a que estejam obrigados deverão ser feitas ao administrador da insolvência e não ao próprio insolvente.
Ficam advertidos os credores do insolvente de que devem comunicar de imediato ao administrador da insolvência a existência de quaisquer garantias reais de que beneficiem.
Declara-se aberto o incidente de qualificação da insolvência com carácter pleno [alínea i) do artigo 36.o do CIRE].
Para citação dos credores e demais interessados correm éditos de cinco dias.
Ficam citados todos os credores e demais interessados de tudo o que antecede e ainda de que o prazo para a reclamação de créditos foi fixado em 30 dias.
O requerimento de reclamação de créditos deve ser apresentado ou remetido por via postal registada ao administrador da insolvência nomeado, para o domicílio constante do presente edital (n.o 2 do artigo 128.o do CIRE), acompanhado dos documentos probatórios de que disponham.
Mesmo o credor que tenha o seu crédito por reconhecido por decisão definitiva, não está dispensado de o reclamar no processo de insolvência (n.o 3 do artigo 128.o do CIRE).
Do requerimento de reclamação de créditos deve constar (n.o 1 do artigo 128.o do CIRE):
A proveniência do(s) crédito(s), data de vencimento, montante de capital e de juros;
As condições a que estejam subordinados, tanto suspensivas como resolutivas;
A sua natureza comum, subordinada, privilegiada ou garantida, e, neste último caso, os bens ou direitos objecto da garantia e respectivos dados de identificação registral, se aplicável;
A existência de eventuais garantias pessoais, com identificação dos garantes;
A taxa de juros moratórios aplicável.
É designado o dia 23 de Julho de 2007, pelas 14 horas, para a realização da reunião de assembleia de credores de apreciação do relatório, podendo fazer-se representar por mandatário com poderes especiais para o efeito.
É facultada a participação de até três elementos da comissão de trabalhadores ou, na falta desta, de até três representantes dos trabalhadores por estes designados (n.o 6 do artigo 72.o do CIRE).
Da presente sentença pode ser interposto recurso, no prazo de 10 dias (artigo 42.o do CIRE), e ou deduzidos embargos, no prazo de 5 dias (artigos 40.o e 42.o do CIRE).
Com a petição de embargos devem ser oferecidos todos os meios de prova de que o embargante disponha, ficando obrigado a apresentar relatório, podendo fazer-se representar por mandatário com poderes especiais para o efeito.
É facultada a participação de até três elementos da comissão de trabalhadores ou, na falta desta, de até três representantes dos trabalhadores por estes designados (n.o 6 do artigo 72.o do CIRE).
Da presente sentença pode ser interposto recurso, no prazo de 10 dias (artigo 42.o do CIRE), e ou deduzidos embargos, no prazo de 5 dias (artigos 40.o e 42.o do CIRE).
Com a petição de embargos, devem ser oferecidos todos os meios de prova de que o embargante disponha, ficando obrigado a apresentar as testemunhas arroladas, cujo número não pode exceder os limites previstos no artigo 789.o do Código de Processo Civil (n.o 2 do artigo 25.o do CIRE).
Ficam ainda advertidos de que os prazos para recurso, embargos e reclamação de créditos só começam a correr finda a dilação e que esta se conta da publicação do último anúncio.
Os prazos são contínuos, não se suspendendo durante as férias judiciais (n.o 1 do artigo 9.o do CIRE).
Terminando o prazo em dia em que os tribunais estiverem encerrados, transfere-se o seu termo para o 1.o dia útil seguinte.
Informação — Plano de insolvência
Pode ser aprovado plano de insolvência com vista ao pagamento dos créditos sobre a insolvência, a liquidação da massa e a sua repartição pelos titulares daqueles créditos e pelo devedor (artigo 192.o do CIRE).
Podem apresentar proposta de plano de insolvência o administrador da insolvência, o devedor, qualquer pessoa responsável pelas dívidas da insolvência ou qualquer credor ou grupo de credores que representem um quinto do total dos créditos não subordinados reconhecidos na sentença de graduação de créditos ou, na falta desta, na estimativa do juiz (artigo 193.o do CIRE).
5 de Setembro de 2007.—A Juíza de Direito, Maria de Fátima
Cerveira da Cunha Lopes Furtado.—O Oficial de Justiça, Maria Gilberta Campos Vieira da Silva.

abril 13, 2007

D. Maria II

D. Maria II
Contava apenas 7 anos, quando seu pai, D. Pedro IV, abdicou do trono de Portugal em seu favor, em Abril de 1826.
Devia casar, logo que tivesse idade, com o tio, D. Miguel, nomeado regente e lugar-tenente do reino, o que foi aceite pelo Infante, em Julho de 1826, assumindo a regência, ao chegar a Lisboa, em Janeiro de 1828, após ter jurado fidelidade à rainha e à Carta Constitucional.
D. Maria foi enviada para a Europa em Julho de 1828, para defender os seus direitos ao trono, tendo ficado a residir em Londres, e a partir de 1831 em França.
Só em 24 de Setembro de 1834, com o fim da Guerra Civil, tendo quinze anos de idade, assumiu o governo do País.
Casou em 1835 com Augusto de Leuchtenberg, filho de Eugénio de Beauharnais, e neto da Imperatriz Josefina, primeira mulher de Napoleão Bonaparte, irmão mais velho da segunda mulher de D. Pedro IV, mas que morreu logo em Março desse ano.
Neste ano pôs-se à venda todos os bens de raiz nacionais, pertencentes à Igreja Patriarcal, às Casas das Rainhas e do Infantado, das corporações religiosas já extintas e das capelas reais.
D. Maria casou segunda vez com Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, irmão do rei dos Belgas, Leopoldo I, e primo do marido da rainha Vitória da Inglaterra, o príncipe Alberto. O casamento realizou-se em 9 de Abril de 1836.
Durante o seu curto reinado, passado num dos mais conturbados períodos da nossa história, o das lutas entre liberais e absolutistas, vários acontecimentos históricos se passaram: a Guerra Civil, a revolução de Setembro, a Belenzada, Revolta dos Marechais, a Maria da Fonte, a Patuleia.
Sucedeu-lhe o seu filho mais velho, D. Pedro V.

Ficha genealógica:
D. Maria II nasceu no Rio de Janeiro, no Palácio de S. Cristóvão, a 4 de Abril de 1819, recebendo o nome de Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga. Morreu no Palácio das Necessidades, a 15 de Novembro de 1853, em consequência de parto.
Casou em primeiras núpcias com D. Augusto de Leuchtenberg, nascido em Munique a 9 de Dezembro de 1810, tendo morrido em Lisboa a 28 de Março de 1835, duque e príncipe de Leuchtenberg e de Santa Cruz, filho de Eugénio de Beauharnais, então vice-rei de Itália, e da princesa Augusta Amélia, filha de Maximiliano José I da Baviera. Não tendo havido descendência.
Voltou a casar em Lisboa, a 9 de Abril de 1836, com D. Fernando Augusto, nascido em Coburgo a 29 de Outubro de 1816, e falecido em Lisboa, a 15 de Dezembro de 1885, filho de Fernando Augusto, príncipe e duque de Saxe Coburgo Gotha e de sua mulher Maria Antonieta Gabriela, princesa de Koari.
Do casamento nasceram:
1.
D. Pedro V , que sucedeu no trono;
2.
D. Luís, duque do Porto, que em 1861 sucedeu a seu irmão;
3. D. Maria. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 4 de Outubro de 1840, tendo falecido no mesmo dia;
4. D. João. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 16 de Março de 1842, e faleceu no Palácio de Belém em 27 de Dezembro de 1861. Era Duque de Beja e de Saxe Coburgo Gotha;
5. D. Maria Ana. Nasceu no Palácio das Necessidades, a 21 de Agosto de 1843, e faleceu em Dresda, a 5 de Fevereiro de 1884. Casou em Lisboa, a 11 de Maio de 1859, com Frederico Augusto (1832-1904) que foi rei da Saxónia, com o nome de Jorge III. Com descendência;
6. D. Antónia. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 17 de Fevereiro de 1845, e morreu em Sigmarinen, a 27 de Dezembro de 1913. Casou em Lisboa, a 12 de Setembro de 1861, com Leopoldo Estevão Carlos (1835-1905), príincipe de Hohenzollern. Com descendência;
7. D. Fernando. Nasceu em Lisboa, no Palácio de Belém, em 23 de Julho de 1846, e faleceu no Palácio das Necessidades, a 6 de Novembro de 1861, estando sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora.
8. D. Augusto. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 4 de Novembro de 1847, e faleceu no mesmo local a 26 de Setembro de 1889.Está sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora. Foi duque de Caminha e de Saxe Coburgo Gotha;
9. D. Leopoldo. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 7 de Maio de 1849, tendo falecido no mesmo dia;
10. D. Maria. Nasceu no Palácio das Necessidades, em 3 de Fevereiro de 1851, e morreu no mesmo dia.
11. D. Eugénio. Nasceu no palácio das Necessidades, a 15 de Novembro de 1853, e faleceu no mesmo dia.

Fontes: Joel Serrão (dir.) Pequeno Dicionário de História de Portugal, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976
Joaquim Veríssimo Serrão História de Portugal, Volume VII: A Instauração do Liberalismo (1807-1832), e História de Portugal, Volume VIII: Do Mindelo à Regeneração (1832-1851) Lisboa, Verbo, 1984 e 1986

março 08, 2007

Tintin

Portugueses nas aventuras de Tintin

Portugal marca presença na obra de Tintin. O nosso mais ilustre representante os livros de Tintin é, indiscutivelmente, o lisboeta Oliveira da Figueira, vendedor nato e “fala barato” que Hergé integrou em três álbuns (em “Os Charutos do Faraó”, “Tintin no País do Ouro Negro” e “Carvão no Porão”).
Oliveira da Figueira, que se estreia nos álbuns de Tintin em “Os Charutos do Faraó” e que chega a salvar Tintin em apuros na aventura “Carvão no Porão” (oferecendo não somente a Tintin mas a também a Haddock os disfarces que lhes permitirão sair da cidade e ir ao encontro do Emir Bem Kalish Ezab), é um comerciante conhecido por vender tudo e mais alguma coisa, designadamente, objectos inúteis ou não necessários para os seus compradores. Os seus dotes de persuasão são tais que nem as “vítimas/clientes” notam, Tintin, incluído! Basta olhar para esta prancha extraída de um álbum editado em língua espanhola: “Felizmente não me deixei ir na conversa dele. A tipos como este, acaba-se, sempre por comprar uma data de coisas inúteis”.
Na verdade, sempre apetrechado com tecnologia para vendas, Oliveira de Figueira até no deserto venderia areia!!


Hospitaleiro, Oliveira da Figueira logo que reconhece Tintin afirma que é preciso celebrar o acontecimento e serve “um copo de vinho de Portugal, do sol do meu país”, nas suas próprias palavras.
Oliveira da Figueira é ainda um óptimo contador de histórias, aspecto que se revelará decisivo para Tintin lograr entrar na casa do professor Smith (que não é outro senão o Dr. Müller, vilão de “A Ilha Negra”) enquanto Oliveira da Figueira delicia os presentes com a narrativa de uma tragédia inventada in loco sobre o seu pseudo irmão que gostava de caracóis.

Portugal surge ainda na rota de Tintin através de um professor de Física da Universidade de Coimbra de seu nome Pedro João dos Santos (mencionado em “A Estrela Misteriosa” como membro da expedição científica composta por eminentes sábios europeus parta a exploração de um aerólito nos mares árcticos). Outra referência portuguesa em Tintin é o jornal “Diário de Lisboa” (entretanto extinto), cujo representante (in “Tintin no Congo”) procura, ainda que sem êxito, disputar o jovem repórter à tutela do “Vingtième Siècle”.
(http://www.c7nema.ws/bd97/modules.php?name=Sections&op=printpage&artid=37)

fevereiro 07, 2007

O pote aqui tão perto









O pote com as moedas de ouro deve estar aqui muito perto, ou de um lado ou do outro.

agosto 29, 2006

Tibério Antunes

Esta menina também não nasceu sem complicações: a placenta ficou aderente à costura da antiga cesariana (de 1970, na dramática estadia na Cruz Vermelha).
O que valeu é que na jogada estava um antigo guarda redes da Académica (vencedor da 1ª Taça de Portugal em 1939) que com “boas mãos” se encarregou de resolver o problema à moda antiga. Já o filho dele se haveria de atrasar, uns anos mais tarde, a um encontro no Particular. Felizmente não houve consequências.

agosto 18, 2006

O Pompeu dos frangos

In “Diário de Noticias”, 30 de Julho, 2006
João Fonseca, Tiago Lourenço (foto)



'Estação de muda' de leitão para frango

Na terra do leitão, o frango também faz história. Na Malaposta, meia dúzia de quilómetros a norte da Mealhada, nas instalações da 16.ª "estação de muda" da primeira estrada que ligou Lisboa e Porto. Nesta antiga mala--posta, restaurante há mais de 40 anos, há bom leitão, naturalmente. Mas não é ele, o bácoro assado à moda da Bairrada, que faz com que muitos automobilistas abandonem a auto-estrada e regressem, alguns minutos, à velha Nacional 1 (EN1/IC2). O motivo do desvio é o frango de churrasco do Pompeu.

O emblemático prato do Pompeu dos Frangos faz, frequentemente, esquecer as suas outras especialidades maiores: o arroz de miúdos e a costeleta bovina. Uma injustiça, reconhecem mesmo os incondicionais apreciadores do frango de churrasco. Como pouco justo será reduzir o res- taurante à cozinha. O acolhedor espaço, feito a partir dos aposentos da que terá sido a maior mala-posta (inaugurada em 1857) ao longo dos 300 quilómetros entre as já então duas maiores cidades do país, também é responsável pela fama da casa.

As suas salas, contando, em painéis de azulejos (fiéis cópias dos expostos no Museu dos CTT), a história das "estações de muda", também explicam a projecção do restaurante. E de espaço de tertúlia, cada vez, porém, menos cultivado, apesar da fidelidade que mantém ao seu ambiente, de granito e madeira, de amplas portas e janelas. Faltam Miguel Torga ou Fernando Valle, entre muitos outros. Mas felizmente ainda há quem continue a apreciar boa mesa em ambiente agradável.

O molho que tempera os frangos já não tem o dedo do Pompeu (1920-1992). Mas continua igual, garantem os clientes mais antigos e fiéis, lembrando que o filho do fundador do restaurante desde muito novo substituía o pai nessa e outras tarefas. O crescimento e decoração da casa, aliás, foram - sempre com o apoio do pai -, obra de Carlos Aires, que desde cedo revelou ter herdado do pai a extraordinária sensibilidade para a gerir.

Carlos Aires, 59 anos - embora lamentando não ter estudado, "pelo menos mais dois anos", no então emblemático Colégio de Nun'Álvares, em Tomar -, reconhece que a sua vida se confunde com a do pai, no restaurante, inaugurado em 20 de Novembro de 1963. "Mas na véspera, pressionados por alguns clientes, já servimos", recorda. Clientes antes de a casa abrir? Isso mesmo. A história do Pompeu dos Frangos começou antes, em Bustos, a 14 quilómetros da Malaposta.

O Pompeu "nunca gostou muito da agricultura e, assim que pôde, mudou de vida". Abriu um café na aldeia, que, então, tinha três médicos e era, por isso, bastante visitada pelos na altura designados delegados de propaganda médica. Uns e outros frequentavam o café, mas lamentavam não ter uns petisquinhos. O proprietário fez--lhes a vontade e o café acentuou a vocação de ponto de encontro de amigos. Um deles, uma noite, apareceu lá, com "um frango roubado", desafiando o dono da casa a assá-lo, no fogareiro doméstico, e a temperá-la com molhos africanos. Pela sua origem ou tempero, "o frango não ficou bom nem mau", mas Pompeu ficou com a certeza de que, corrigindo métodos e temperos, conseguiria melhor. E conseguiu. De tal modo que o frango, apesar de confeccionado artesanalmente, passou a ser referência do café.

O sucesso do churrasco foi tal que Pompeu teve mesmo de ceder à pressão dos amigos e deslocar-se para junto da Nacional 1, para a "estação de muda" (então completamente abandonada) que dá o nome à povoação da Malaposta.

Dona Nina, sua mulher (recentemente falecida), resolveu, entretanto, dar utilidade aos miúdos que, em quantidades crescentes, sobravam. E nasceu o arroz de miúdos, melhor ainda, segundo algumas bocas, que os frangos que o sugeriram.

1.8.06

POMPEU SIMÕES AIRES. TOPONÍMIA DE BUSTOS EM FALTA

Em 9.10.1985 os CTT reconstituíram – com rigor histórico – o chamado ‘correio a cavalo’ no percurso Ponte Pedra – Aveiro. Numa sala do Restaurante ‘Pompeu dos Frangos’, (antiga Mala-Posta) funcionou a estação de correio, tendo sido posto à venda diverso material alusivo à XIV Exposição Filatélica Nacional. A correspondência aí recolhida foi transportada até Aveiro por «carteiro» montado em cavalo, estando equipados a rigor.
As terras de Oliveira do Bairro foram transpostas num ápice galopado até Aveiro.
A televisão recolheu imagens do evento ocorrido no «Pompeu», que devem constar em arquivo da memória da RTP e que poderiam constar em arquivo local ...
O Pompeu, ‘dos Frangos’, apesar da Fama o querer tratar por tu, manteve as raízes do seu chão sempre adubadas pelo convívio natural, franco e baerto, estivesse em que salão estivesse.
A qualidade de vida para o Pompeu não era palavra de discurso de circunstância ou de «banha de cobra». Quando preparou o parque de estacionamento do restaurante teve a preocupação de mandar adornar o espaço com vegetação. [ainda hoje aquela área é um exemplo vivo de qualidade de vida].
A memória das diligências e da mala-posta foi preservada e refrescada com os painéis de azulejo da Fábrica do Outeiro de Águeda (alguns assinados pelo Mestre Breda). E só o Pompeu sabe as voltas que teve de dar para conseguir reproduzir o cenário da época. Em «meia dúzia» de gravuras está a síntese da ligação terrestre entre Lisboa e Porto.
E quando Bustos batia à porta do Pompeu a solicitar ajuda?
Estava sempre disponível.
O Pompeu foi um Embaixador de Bustos por excelência e nunca desvirtuou o nome da sua terra.
O Pompeu tem direito e merece ter nome de praça, busto ou rua.
Senhores “manda-chuva” ou seus promitentes, o Pompeu Simões Aires nasceu em Bustos e deu lonjura a Bustos, por bons motivos.
No meu pv, tentar fazer esquecer o Pompeu é a forma mais comezinha de o perseguir. Só que o Pompeu não deixará de continuar a ser uma das prestigiadas Figuras de Bustos.

sérgio micaelo ferreira,
rossio da póvoa
in
http://noticiasdebustos.blogspot.com/2006/08/pompeu-simes-aires-toponmia-de-bustos.html

agosto 16, 2006

A água do rio

Segundo Platão (Crátilo), Heráclito teria dito que uma pessoa não se poderia banhar duas vezes no mesmo rio. Querendo com isto significar um movimento geral de todas as coisas, numa mudança permanente da própria matéria. Tudo se apresentando em perpétuo devir. Raramente se utiliza a frase nesta acepção. Pelo contrário, ficou a ideia da passagem do tempo, expressa na imagem de um rio. Numa visão trivial do fluxo temporal. Não se sabe ao certo o que queria Heráclito dizer, mas podemos considerar que estamos perante uma visualização da oposição entre o material e o imaginado. Como escrevem Kirk e Raven "a imagem do rio esclarece o género de unidade que depende da conservação da medida e do equilíbrio na mudança." Assim, pode Crátilo afirmar que nem sequer uma vez nos podemos banhar no rio. Pois tal acção implica, por si só, mudança. Recorro a esta proposição para clarificar que a presença irremediável não refere o estático, mas antes um perpétuo devir. Sendo que, para o que aqui nos interessa, o rio indica, não o imaginário, mas o social. O corpo ao banhar-se no social, provoca nesse simples acto, uma transformação radical do preexistente. Em rigor, é esse o sentido da palavra irremediável.

maio 31, 2006

José Cid

Uma Biografia de José Cid
A primeira fase da carreira de José Cid é pioneira na busca de soluções musicais, em ruptura com as correntes estéticas dominantes.
Enquanto líder e inspirador musical do Quarteto 1111, José Cid prima pela originalidade dos seus arranjos, próximos do psicadelismo do movimento hippye, e pela ousadia social das letras das canções. A Lenda de El Rei D. Sebastião e Os Faunos são alguns dos temas que geram polémica a par de um êxito indiscutível.
Quando o grupo lançou A Lenda de Nambuangongo, a censura não lhe perdoou e Cid chegou a ser proibido de entrar em território angolano.
"Ao Norte de Angola
rajadas de vento
tingiram o céu
de sangue cinzento"
eram algumas das palavras proibidas.
O Quarteto 1111, permanecerá em actividade até 1973, com o número recorde de 28 canções censuradas pelo regime.
José Cid iniciara uma carreira a solo em 1969, com Lisboa Camarada, igualmente censurado, e, em 1971, com José Cid, onde, qual homem dos sete instrumentos, toca órgão, baixo, guitarras, piano e faz diferentes vozes.
Utiliza pela primeira vez sons electroacústicos. Com o enorme êxito do tema 20 Anos, gravado já com os Green Windows, Cid abandona a fase mais interventiva da sua obra e envereda pelos lados mais ligeiros da música.
A partir de então, sucedem-se as participações nos Festivais da Canção RTP. Na memória de todos ficam ainda canções como No Dia em que o Rei Fez Anos e A Rosa Que Eu Te Dei, entre dezenas de outros discos.
Marcos principais da carreira:
1956 Funda Os Babies, um grupo especializado em cantar covers de rock´n´roll.
1960 Com José Niza, Proença de Carvalho e Rui Ressureição funda o Conjunto do Orfeão.
1967 Nasce o Quarteto 1111 e, com ele, um tema para a história: A Lenda de El Rei D. Sebastião.
1968 Balada para D. Inês classifica-se em terceiro lugar no Festival RTP da Canção.
1969 O primeiro disco a solo, Lisboa Camarada, é proibido pela Censura.
1973 Grava 20 Anos, com os Green Windows, a sua nova formação.
1974 Leva ao Festival RTP A Rosa que Eu te Dei e No Dia em Que o Rei Fez Anos, duas canções que se vão tornar, de imediato, enormes êxitos.
1978 Edição de A Minha Música.
1980 Triunfa no Festival RTP com o tema Um Grande, Grande , Amor. Classifica-se em 7° lugar no Eurofestival, a melhor classificação portuguesa até à data.
1981 A canção Morrer de Amor por Ti classifica-se em 2° lugar no Festival RTP.
1983 Conhece, de novo, o êxito, com as canções Como o Macaco Gosta de Banana e O Rock dos Bons Velhos Tempos.
1994 Edita Vendedor de Sonhos.


De: http://www.cantodaterra.net


Outra Biografia
Nasceu na Chamusca a 4 de Fevereiro de 1942.
A fama chegou-lhe inicialmente através da sua participação como teclista e vocalista no Quarteto 1111, onde obteve grande êxito com a canção "A lenda de El-Rei D.Sebastião". Esta canção, inovadora para a época, apresentava sons diferentes daqueles a que o público estava habituado, com reflexos psicadélicos. Ainda com o quarteto, concorreu ao festival da canção de 1968, com "Balada para D.Inês".
Em 1973, a banda adopta o nome Green Windows, numa tentativa de internacionalização.
Uma das suas composições mais conhecidas, "Ontem, Hoje e Amanhã", recebe o prémio "outstanding composition" no Festival Yamaha de Tóquio, em 1975, certame a que tinha concorrido já em 1971 com "Ficou para Tia".
Em 1978 publica o álbum 10,000 anos depois entre Vénus e Marte, um marco na história do rock progressivo, que vem a obter mais tarde reconhecimento a nível internacional.
José Cid concorreu ao Festival da Canção de 1978 com três composições, alcançando o 2º lugar com "O meu piano". Em 1980, com a canção "Um grande, grande amor", vence este certame com 93 pontos.
No eurofestival da canção de 1980, José Cid conquista um honroso 7º lugar com 80 pontos entre 19 concorrentes.
É o autor de outros grandes êxitos, como "Olá vampiro bom", "A Rosa que te dei", "Como o macaco gosta de banana", "Mosca Superstar" ou "Cai neve em Nova York".
É monárquico e vive actualmente em
Anadia.
Em 2004, José Cid participou em anúncios de uma conhecida marca de chás gelados, nos quais se interpretou a si próprio, cantando e vindo do espaço, enquanto proferia a frase: "Olá malta! Tudo bem? Tá-se?"
Discos (selecção)
Com o Quarteto 1111
EP's
1967 - A Lenda de El-Rei D.Sebastião
1967 - Balada para D. Inês
1968 - Dona Victória
Singles
1968 - Meu Irmão
1969 - Nas Terras do Fim do Mundo
1969 - Génese / Monstros Sagrados
1970 - Todo o Mundo e Ninguém
1970 - Back to the Country
1971 - Ode to the Beatles
1972 - Sabor a Povo
LP's
1970 - Quarteto 1111
1973 - Bruma Azul do Desejado (com Frei Hermano da Câmara)
1974 - Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas - Obra-Ensaio de José Cid
Com Green Windows
1974 - No dia em que o rei fez anos (LP DECCA slpdx 538)
A solo
EP's
1971 - Lisboa Perto e Longe
1971 - História Verdadeira de Natal
1972 - Camarada
1977 - Vida (Sons do Quotidiano)
LP's
1971 - José Cid
1978 - 10,000 Anos Depois Entre Venus e Marte
1980 - My Music
1991 - Camões, as Descobertas e Nós
2003 - Nasci p'ra música (Antologia)
Citações
Frases interessantes proferidas por José Cid.
"Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu." in Pública, 2003
"Tentaram e conseguiram pôr-me na prateleira. Mas a verdade é que os outros artistas estão na prateleira e eu estou cá." in Pública, 2003
"A nova geração tem de descobrir qual é o seu dinossauro Todos os países têm o seu dinossauro. Os franceses têm o Johnny Halliday, os espanhóis o Miguel Rios. Ambos são uma porcaria ao pé de mim. Sou infinitamente melhor do que eles e tenho uma melhor estética." in Pública, 2003
"Usem e abusem de mim. Estou cá, canto e bem ao vivo. Façam de mim o que quiserem. Estou com uma grande voz." in Pública, 2003
"Adoro o «Cantor da TV», a canção menos comercial daquele álbum [Nasci prà música]. Dificilmente conseguiria escrever [outro] tema daquela maneira. É muito bem esgalhado e muito bem tocado." in Pública, 2003
"Essa canção [Como o macaco gosta de banana] foi um escândalo. As pessoas julgaram que era uma canção ordinária. (...) Divirto-me à brava quando a oiço, porque é uma canção que não se pode levar a sério. Tem um sentido de humor de abandalhar o sistema." in Pública, 2003
"Olá malta! Tudo bem? Tá-se?" in anúncio Lipton, 2004
"Dá-me favas com chouriço." in Cabaré da Coxa, 2004
"Se o Rui Veloso é o pai do rock português, eu sou a mãe." in Queima das Fitas do Porto, 2004
Retirado de: Wikipédia

fevereiro 10, 2006

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA BATALHA DO BUSSACO









A Batalha do Buçaco, numa gravura desenhada pelo major St.Clair


A batalha de Buçaco teve uma importância capital para o resultado da campanha pela acção moral que exerceu nos dois exércitos contrários.
O exército anglo-luso perdeu o medo às águias napoleónicas, que ameaçavam dilacerar a Península.
Os ingleses reconheceram que os soldados portugueses eram dignos émulos no valor e brio militar, com os quais podiam e deviam contar. O moral do exército dos aliados foi exaltado.
Os franceses reconheceram que não eram invencíveis ao medirem-se com as tropas inimigas, que até então tinham em pouca conta.
As desinteligências que lavravam entre os generais franceses mais se acentuaram, e a incapacidade de Massena, já apontada por Ney antes da batalha do Buçaco, tornou-se frisante.
Massena sentiu-se golpeado no seu amor próprio: a Vitória abandonava o seu filho querido.
E, quando este julgava fazer calar os descontentes e insofridos por um estrondoso triunfo, viu que, ao contrário, a sua derrota mais ia insuflar a indisciplina dos generais seus subordinados.
Não estava de todo perdido o exército, podia haver ainda probabilidades de uma vitória; mas era preciso proceder com ponderação.
No Buçaco vira ele quanto Wellington se soubera aproveitar das propriedades defensivas do terreno.
Atacar novamente em terreno análogo seria uma temeridade, porque uma nova derrota poderia trazer consigo uma capitulação, mancha vergonhosa que viria empalidecer e murchar os verdejantes louros do herói de Rivoli, de Zurique, de Génova, de Caldiero e de Essling.
Era necessário ser-se prudente, ponderado.
A derrota do Buçaco cortou as asas a Massena e impediu que voasse até aos cerros de Alhandra, do Sobral de Monte Agraço, de Torres.
Se não fora a derrota do Buçaco, Massena teria sido mais ousado em frente das Linhas de Torres, e quem sabe, se não teria saído vitorioso.
A vitória do Buçaco teve, portanto, consequências imediatas e materiais, e mais ainda, consequências morais e futuras.
Apreciando agora a batalha em si, vamos fazer algumas considerações relativamente aos dois partidos.
Os reconhecimentos mandados executar por Massena foram muito incompletos. Os oficiais que os realizaram não souberam desempenhar-se da sua missão.
Daí resultou o erro de Massena. Julgando o flanco esquerdo do exército anglo-luso em Sula, e ignorando que se prolongava até ao ninho de Águia, adoptara os dispositivos para envolver a posição de Sula, o que não sucedeu.












Cena alegórica alusiva às invasões francesas



O ponto escolhido para o ataque, do 2.º Corpo - a portela de Santo António do Cântaro - era judicioso e de uma grande importância, pois a posse daquela parte da serra separaria as forças anglo-lusas. Uma parte do exército seria lançado sobre o Mondego e retiraria nas mais precárias circunstâncias, a outra parte seria cortada da estrada do Botão a Coimbra, sendo obrigada a efectuar uma retirada excêntrica, e permitindo aos franceses chegarem primeiro àquela cidade que o exército anglo-luso.
Destas considerações resulta que o ataque a Santo António do Cântaro deveria ter sido o principal, porque era o decisivo, e para isso Massena deveria ter empregado o 6." corpo e não o 2.°, visto que aquele tinha três divisões e este duas.
O ataque a Sula seria secundário. Mas estes dois ataques deveriam ter sido simultâneos para deixar o inimigo na indecisão. Não sucedeu, porém, assim.
Ney atacou 1h 30 m depois de Reynier, e quando este já tinha sido derrotado.
Esta falta de coordenação de esforços resultou da falta de ligação entre os dois corpos de exército.
É certo que Massena ordenara que esses ataques fossem simultâneos; mas não bastava ordenar, seria necessário tomar as disposições necessárias para garantir a execução dessa ordem.
Reynier cometeu também a falta de só empregar uma divisão na 1.ª linha, deixando uma outra como reserva; e quando esta foi chamada a intervir, apenas uma brigada avançou.
No 6.° corpo a divisão, que servia de reserva geral não chegou a enviar força alguma a apoiar as outras duas. As reservas parciais das duas divisões avançadas também. não foram judiciosamente empregadas.
Houve, pois, da parte dos franceses: má preparação, boa concepção e má execução.













General britânico


Examinando agora o que se passou do lado do exército anglo-luso, vemos que Wellington, ainda que vencedor, não pôde efectuar a perseguição, última, mas imprescindível fase de uma batalha, para se tirar todo o proveito da vitória. Isto era consequência da posição ocupada; pois a posição do Buçaco não permitia tomar a ofensiva.
Por isso na própria Inglaterra se disse «que a batalha do Buçaco fora uma batalha política e não uma batalha militar».
Mas se Wellington não pôde efectuar a perseguição, ainda pior foi o deixar-se surpreender tacticamente, visto que foi forçado a abandonar a posição duma maneira precipitada, tendo de efectuar a retirada sem ordem, e vendo-se obrigado a abandonar grande parte das suas munições, fardamentos, víveres e feridos.
E incompreensível que um exército vitorioso não tivesse a energia suficiente para se ir opor nos desfiladeiros do Boialvo a um inimigo derrotado!
Enquanto que o exército de Massena retirava para Mortágua pelo mau caminho de Boialvo, o exército anglo-luso podia, por um caminho mais curto, ir ocupar o Boialvo e deter, se não aniquilar, o exército francês que ousava fazer uma marcha de flanco em presença dum inimigo vitorioso.
Wellington não julgava que Massena efectuasse a retirada pelo Boialvo e confiava que Trant com os seus milicianos tivesse ocupado aqueles desfiladeiros, como ele determinara. Trant, porém, só pôde chegar ao Sardão no dia 28 à tarde e apenas com 1.600 a 1.700 homens.
Wellington, porém, devia com a sua cavalaria, que estava sobre a estrada da Mealhada, procurar informar-se do que se passava para aqueles lados.
Na guerra devem ser previstas e prevenidas todas as hipóteses.
A retirada do exército anglo-luso fez-se sem consequências graves, porque o exército francês perdeu por várias vezes o contacto, em virtude da lentidão da marcha. As tropas francesas careciam de calçado, de fardamento, de víveres e tinham poucas munições.
Quando teve lugar a batalha do Buçaco, havia três ou quatro dias que o exército francês não comia pão. «N'avons pas de pain depuis quatre jours» dizia Junot em uma carta enviada no dia 28 de Setembro a sua mulher.
Há quem tenha também atribuído o triunfo do exército anglo-luso no Buçaco à superioridade da táctica inglesa sobre a táctica francesa, o que já se tinha evidenciado na batalha do Vimeiro.
De facto, o exército inglês tinha passado por uma grande transformação, desde que o duque de York fora nomeado comandante em chefe. O regulamento táctico mandado publicar em 1798, e que era o resultado dum profundo estudo do regulamento francês de 1791 e dos regulamentos alemães, era muito superior àquele.
Além disso tinham sido criados campos de instrução para se ministrar o ensino prático, tendo já muitos regimentos recebido essa instrução.
Enquanto a infantaria francesa formava ainda em três fileiras, a infantaria inglesa adoptou a formação em duas fileiras, o que permitia maior rapidez nos movimentos e aumento da reserva, quando se não queria aumentar as frentes de combate, ou cobrir a frente principal com fortes postos avançados.
Foi até este último dispositivo o adoptado por Wellington, que mandara ocupar os grupos de árvores e casas ou depressões de terrenos, ao alcance da artilharia, com postos avançados que sustentaram um fogo enérgico contra as colunas francesas, obrigando-as prematuramente a desenvolver-se e tornando mais difícil e perigoso o avanço pelas ásperas encostas da serra.
A artilharia, ocupando os salientes, cooperou de uma maneira activa e judiciosa com .a infantaria, o que não sucedeu aos franceses, cuja artilharia não pôde sustentar as colunas de ataque.
A artilharia anglo-lusa representou um papel importante na batalha do Buçaco.
A infantaria, coberta como dissemos, por postos avançados, formava à retaguarda da crista do terreno, sustentada nalguns pontos por artilharia, que ocupava os intervalos, ou os flancos.
Em geral, os postos. avançados eram constituídos pelas 2 companhias extremas dos batalhões (1.ª e 10.ª) que eram formadas de atiradores de elite - granadeiros e caçadores. Como cada batalhão tinha 10 companhias, segue-se que 1/5 do seu efectivo era empregado nos postos avançados da posição.
Foi com este dispositivo táctico que o exército anglo-luso teve uma manifesta superioridade sobre o exército francês. As colunas francesas, precedidas por atiradores, chegavam exaustas à crista, tendo consumido os atiradores as suas munições no combate contra os postos avançados, e, quando se julgavam senhores do terreno, eis que surgia a linha principal dos defensores, executando uma descarga a 20 ou 35 metros e carregando imediatamente à baioneta. As colunas francesas não podiam resistir a esse choque, desapoiadas como estavam da sua artilharia, que não podia tomar posição na zona de terreno batida pelos fogos dos postos avançados e da artilharia avançada que ocupava os salientes.
Enquanto as forças atacantes chegavam cansadas e desunidas, as tropas anglo-lusas que ocupavam a linha principal, estavam frescas, sob a completa acção . dos chefes, e não desmoralizadas pelo fogo, nem pela vista do campo de batalha, pois se conservavam até ao último momento a coberto das vistas e do fogo inimigo.
As cargas à baioneta eram violentas, especialmente as realizadas pelas tropas portuguesas, tornando-se surpreendentes as que foram executadas pelos nossos regimentos de infantaria n.°5 8 e 19, que ali se cobriram de glória.
Têm, pois, razão os que atribuem à táctica de combate do exército anglo-luso uma parte considerável para o seu triunfo.
Todas as tropas portuguesas que tomaram parte activa na batalha se comportaram com grande valentia. Wellington e Beresford assim o reconheceram e manifestaram nas suas ordens do dia. Foram especialmente elogiados os regimentos de infantaria n.º 9 e 21, que formavam a brigada do coronel Champalimaud, infantaria n.º 8, comandada pelo tenente-coronel Douglas; os regimentos de infantaria n.os 7 e 19 e o batalhão de caçadores n.º 2, formando a brigada do brigadeiro Colleman, os regimentos de infantaria n.os 1 e 16 e o batalhão de caçadores n.º 4, formando a brigada Pack, os batalhões de caçadores n.os 1 e 3, que faziam parte da divisão Craufurd, o batalhão de caçadores n.º 6, que entrara na composição da brigada Campbell, as brigadas de artilharia, sob o comando do major Arentichild, a brigada de artilharia, anexa à divisão Spencer e a brigada de artilharia de montanha.
Mereceram ser citados em especial os nomes dos coronéis Champalimaud, Xavier Palmeirim e Souto Maior, dos tenentes-coronéis Sulton, José Maria Bacelar, Douglas, Jorge de Avilez, Nixan, Luís do Rêgo Barreto, Sebastião Pinto de Araújo, Elder, etc.
Beresford, na sua ordem do dia 28 de Setembro, e Wellington na ordem do dia 30, elogiam e mostram-se reconhecidos para com as tropas portuguesas que tomaram parte na batalha do Buçaco.
A sua manifestação era um justo preito à bravura dos nossos soldados.







A Sopa de Arroios em 1810


Fonte:
Vitoriano José César,Batalha do Buçaco, 3.ª Ed., Lisboa, Imprensa da Armada, 1930, págs. 28 a 35 (1.ª Ed., Ferin, 1910)

dezembro 29, 2005

A história do Natal

Investigação Natalícia
O Natal sempre me intrigou. Nos primeiros tempos a explicação era simples: Tratava-se de um velhinho barbudo ajoujado a um saco de presentes que descia por uma chaminé, pela calada da noite, e nos enchia os sapatinhos de prendas. As minhas dúvidas começaram quando me apercebi da largura da chaminé. Nem o Pai Natal passaria ali, a menos que fosse um anãozinho, quanto mais o saco e as barbas. As renas também não eram convincentes. Como conseguiriam sobreviver ao tráfego da 2ª Circular e chegar à nossa casa? A partir daí, ano após ano, fui aprofundando as minhas pesquisas sobre esta matéria. Não recorri à net, descredibilizada pelo erro da Wikipedia, nem aos livros, descredibilizados entre os viciados na net. Resolvi investigar in loco.
Fiz as malas, e mesmo sem esperar pelo subsídio do Plano Tecnológico, muni-me de um portátil, mas sem GPRS para evitar cair na tentação da net, e iniciei a minha jornada de investigação. Deve começar-se pelo princípio. Dirigi-me ao cume do Ararat, onde a tradição coloca a “aterragem” da arca de Noé e segui as pisadas daquele patriarca que, felizmente para nós, foi um proeminente especialista em previsões meteorológicas e na protecção da biodiversidade.
Durante horas vagabundeei rumo ao sul, pelas montanhas da Assíria, seguindo a peugada de Cam, filho de Noé. Foi uma investigação arriscada, em vista da instabilidade que reina na região. Seguindo um vale profundo, cavado por um caudaloso afluente do Tigre, dei por mim diante das ruínas de um casebre de adobe ladeado por duas árvores seculares, mais tristes que plantas crescidas na fenda de um sepulcro, erguendo a sua rama rala e sem flor. E na sombra ténue do crepúsculo, emergiam duas velhinhas descalças, desgrenhadas, com rasgões de luto nas túnicas pobres, mais velhas que as árvores seculares, mais arruinadas que o casebre de adobe, hirtas, de cabelos desmanchados, alastrados até ao chão, numa neve inesperada. Um cão, que farejava entre as ruínas, uivava sinistramente. … Enfim, o cenário ideal para veicular tradições milenares. Nem Spielberg teria concebido um cenário melhor.
Foi aí que uma das anciãs, cabeça mais lívida que o mármore, por entre os cabelos emaranhados que o suor empastara e os olhos esmoreciam, sumidos, apagados, me informou penosamente que, de acordo com as tradições daquela aldeia e de todo o Crescente Fértil, aliás coincidentes com as da Bíblia, Cam, filho de Noé, havia tido um filho chamado Cush que desposara Semiramis. Cush e Semiramis tiveram então um filho chamado Nimrod (também conhecido por Ninus). Depois da morte de seu pai, Nimrod casara com a mãe e tornara-se um rei poderoso. Nimrod fora o construtor de diversas cidades (como Nínive) e da Torre de Babel (a Semiramis também foi atribuída a construção dos jardins suspensos da Babilónia). Enfim, gente pouco conveniente, viciada em investimentos públicos e em extorquir o dinheiro dos contribuintes.
Continuando a sua narração, a anciã, por entre sons sibilados, inevitáveis face à sua idade avançada e à ausência de recursos odontológicos na região, foi acrescentando que quando Nimrod foi morto, Semiramis proclamara que Nimrod tinha subido ao céu. Mais tarde, a patrocinadora deste blog, após alguns desregramentos domésticos que a decência e os bons costumes me impedem de revelar, tivera um filho, ilegítimo, concebido “sem pecado” (como Jesus), a quem chamara Tamuz, também conhecido por Baal. Para evitar falatórios, Semiramis pôs a correr que ele era Nimrod reencarnado. Quando Tamuz morreu, num acidente de caça, Semiramis igualmente proclamou que aquele havia subido aos céus e se tornara Deus. A sinceridade que a anciã punha nas suas palavras era garante seguro da veracidade da história. Nem por um momento tive dúvidas. Aquela história era credível. Tão credível como uma promessa de Sócrates.
A mãe, Semiramis, era figurada como A Rainha dos Céus com o filho, Tamuz, nos braços. Várias religiões antigas contam este facto. Os nomes podem variar mas a história é a mesma. Esta religião, começada com Semiramis, tornou-se mãe de todas as religiões do mundo oriental. Numerosos monumentos babilónicos mostram a deusa-mãe Semiramis com o filho nos braços. O culto desta figura (mãe e filho) disseminou-se, sob diversos nomes, por todo o mundo antigo. Semiramis e Tamuz, Isis e Hórus, Maria e Jesus.
O filho era exibido apenas como uma criança nos braços da mãe, enquanto que os artistas se empenhavam em favorecer a imagem da mãe, tentando mostrar a beleza exótica atribuída a Semiramis durante a sua vida. Beleza, força, sabedoria, orgulho indomável, resolução inquebrantável e voluptuosidade eram os seus atributos principais. Por exemplo, Catarina II da Rússia, talvez menos pela sua energia política que pela sua vida íntima, turbulenta e lasciva, foi rotulada como a Semiramis do Norte.
Foi então que veio a revelação que eu esperava, tremendo de emoção e de frio, que esta época torna as montanhas da Assíria um local inóspito e gelado. O 25 de Dezembro era celebrado como nascimento de Tamuz! Na antiguidade caldaica, 25 de Dezembro era conhecido pelo dia da criança, o dia do nascimento de Tamuz, o deus do sol. A noite anterior era a “noite da mãe”, em honra de Semiramis, hoje “véspera de Natal” e o Natal seria pois o dia do filho da mãe.
Continuando a ouvir o sussurro sibilado das velhinhas (não haveria um protésico na região?), soube que o nome Semiramis é a forma helenizada do nome sumério "Sammur-amat", ou "dádiva do mar." Também era conhecida por Ishtar que deu a palavra "Easter" (Páscoa) e Este (onde nasce o Sol). Os ritos da Primavera, 9 meses antes do nascimento do Sol do Inverno, foram os precursores da Páscoa cristã. Os Romanos chamavam-na Astarte e os Fenícios usavam Asher. Aquelas velhinhas tinham mais ciência sobre esta matéria que a Filomena Mónica sobre o D. Pedro V.
Em Israel era conhecida por Ashtaroth. A religião judaica, muito circunspecta e pouco dada a tratos de carnes, votava um ódio de morte à religião criada por Semiramis. Ao longo da sua história milenar centenas de vezes o povo de Israel caiu nas tentações idólatras atraído pelo suave e lascivo perfume da religião de Semiramis. E como é doce cair em tentações ... se foi para isso que elas foram concebidas!
Deixei as anciãs no seu tugúrio, após lhes ter dado um óbulo modesto, mas que as comoveu de satisfação (alguns dólares fazem jeito naquela terra de escassez e miséria), pensando na linha contínua que une a nossa história às remotas tradições daquelas terras.
A gestação do cristianismo foi um fenómeno longo no tempo e no espaço. Se os seus ensinamentos morais eram a resposta que os deserdados pretendiam face à crise social e de valores do mundo antigo, o seu ritual e os aspectos lúdicos da sua liturgia entroncam nas religiões do médio oriente, transplantadas para Roma após as conquistas.
Os Romans tinham a "Festa da Saturnalia" em honra de Saturno. Este festival era celebrado entre 17 e 23 de Dezembro. Nos últimos dois dias trocavam-se presentes em honra de Saturno. Em 25 de Dezembro era a celebração do nascimento do sol invencível (Natalis Solis Invicti). Posteriormente, à medida que as tradições romanas iam sendo suplantadas pelas tradições orientais importadas, os maiores festejos realizavam-se em honra do deus Mitra, cujo nascimento se comemorava a 25 de Dezembro. O culto de Mitra, o deus do sol, da luz e da rectidão, penetrou em Roma no 1º século AC. Mitra era o correspondente iraniano do babilónico Tamuz.
A data entrou no calendário civil romano em 274, quando o Imperador Aureliano declarou aquele dia o maior feriado em Roma. A data assinalava a festa mitraista do Natalis Solis Invicti. Com a quantidade enorme de feriados que então havia em Roma, ser considerado o maior feriado era uma proeza notável.
Aureliano ao acabar com a insurreição de Palmira e do Oriente e trazer a sua rainha Zenóbia para Roma, enterrou, em contrapartida e definitivamente, as tradições romanas do culto da família e das virtudes que haviam feito a grandeza da república, mas que foram perdendo influência à medida que o poder de Roma se estendia ao mundo conhecido. E ao ter destruído Palmira, permitiu que Volney, 15 séculos depois, invocasse aquelas ruínas (Je vous salue, ruines solitaires, tombeaux saints, murs silencieux!) para início das suas belíssimas meditações sobre a condição humana e a origem e o destino das sociedades, dos governos e das leis.
A escolha do dia 25 de Dezembro como data de comemoração do nascimento de Cristo nada teve, portanto, de arbitrária. Ao colocar, de uma vez por todas, o nascimento de Cristo a meio das antiquíssimas festividades pagãs do solstício do Inverno, a Igreja Cristã tinha a esperança de as absorver e de as converter, o que veio efectivamente a acontecer. Mas se a Igreja ganhou ao transformar aquela festividade na comemoração mais importante da liturgia cristã, teve que aceitar a aculturação resultante da importação de muitos símbolos das religiões antigas.
Foi assim que no século IV, o 25 de Dezembro passou a ser a festa do "Dies Natalis Domini", por decreto papal. A partir daí não há dúvidas e a história está tranquila.
E assim terminei a minha investigação e regressei a penates. E enquanto crepitava a lareira no conchego do lar, fui pensando no fio oculto que nos liga ao início da história da humanidade. Quando se fala da tradição judaico-cristã da nossa cultura eu penso menos nessa tradição como fé religiosa do que como matriz cultural. A gestação do cristianismo durou vários séculos num meio político que o hostilizava. A religião cristã acabou por incorporar na sua liturgia imensos símbolos das religiões que a precederam – a Virgem e o menino, o Natal, a Páscoa, o halo que se perfila por detrás da cabeça de Cristo (posteriormente alargado às representações dos santos), que representa uma reminiscência simbólica do sol invencível, etc..
O Natal, assim como outros eventos da liturgia cristã, começou há muitos milénios, no seio das primeiras religiões do médio oriente, ligado ao culto solar sob diversas formas e sentimentos. Continuou, adaptando-se ao sabor das alterações políticas e religiosas, incorporando ou rejeitando símbolos e conceitos, mas comemorando sempre o 25 de Dezembro e a sua véspera.
(Retirado, com a devida reverência, do semiramis.weblog.com.pt)

outubro 12, 2005

Anadia Cidade

PROJECTO DE LEI N.º 530/ IX

ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE DA VILA DE ANADIA E POVOAÇÕES CONTÍGUAS (ALFÉLOAS, ARCOS, CANHA, FAMALICÃO, MALAPOSTA E VENDAS DA PEDREIRA, DA FREGUESIA DE ARCOS, E PÓVOA DO PEREIRO, DA FREGUESIA DA MOITA)

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

I. NOTA PRELIMINAR

É na região Centro (NUT II), no distrito de Aveiro e na sub-região do Baixo-Vouga (NUT III), que se localiza o município de Anadia, com os seus 217,13 km2 e 15 freguesias, onde residem 31.545 habitantes (Censos 2001), dos quais 26.629 são eleitores.

No contexto regional da Bairrada, onde é concelho rural de 1ª ordem, Anadia detém uma posição privilegiada de centralidade, confrontando com os concelhos de Águeda (a Norte), de Mortágua (a Este), da Mealhada (a Sul), de Cantanhede (a Sudoeste) e de Oliveira do Bairro (a Noroeste).

A sede deste concelho é a vila de Anadia, que se situa na freguesia de Arcos.

II. A VILA DE ANADIA: ANTECEDENTES / RAZÕES HISTÓRICAS

Foi Joaquim da Silveira quem veio esclarecer o significado do topónimo Nadia, que terá como étimo o latim nativa, e que, aplicado a aqua ou a fons, tomaria o significado de nascente. A história encarregou-se de deixar os mais diversos testemunhos sobre esta povoação, desde achados arqueológicos a menções registadas sobre pergaminho.

Prospecções arqueológicas realizadas no âmbito de trabalhos académicos conduziram à detecção de vestígios que poderão ser atribuídos ao Paleolítico e ao Neolítico. São menores as dúvidas no que respeita aos vestígios das Idades do Bronze e do Ferro: o Monte Crasto, em Anadia, poderá ter sido ocupado por um povoado fortificado, tendo-lhe sido associados alguns achados.

Claramente documentado está o período de domínio romano, que, neste território, se iniciou por volta de 50 a 40 a.C., com os esforços de conquista. Realizada esta, havia que consolidá-la, concorrendo para tal a construção de vias que facilitassem as deslocações entre locais estratégicos. Assim surgia a estrada Olisipo – Bracara Augusta (Lisboa – Braga), que, nesta região, assumiu um traçado paralelo ao do Rio Cértima. No caso específico de Anadia, esta via atravessava os campos situados entre a margem direita daquele rio e o Monte Crasto, vindo o seu traçado a perpetuar-se, mais tarde, no da chamada Estrada Real, a que, grosso modo, se sobrepõe hoje o da actual EN1/IC2.

Nos séculos seguintes, o povoamento desta zona ter-se-á mantido, mesmo nos anos conturbados das invasões muçulmanas e da posterior reconquista cristã. Os avanços e recuos da linha de fronteira foram aqui flagrantes, mas tal não impediu um esforço de ocupação efectiva do território, patente em diversas cartas que atestam a existência das povoações de Arcos (uilla de Arcus – 943), Anadia (illa Nadia – 1082), Alféloas (Almaphala de Rei – 1101) e do lugar do Montouro (Montem Aurem – 1140).

Ainda medievais, embora um pouco mais tardias, são as referências a Famalicão (Familicam – 1226), Pedreira (Vale d’ Aalen da Pedreira – 1329), Vale da Escura (monte que chaman Val d’ Escura – 1332) e Vale de Azar (poboa do Val do Azar – 1332). Posteriormente, a documentação revela-nos Três Arcos (1514), Póvoa de Roupeiro (1514), Fontela (Fatella – 1514), Canha (Vemdas de Canha – 1527) e Barrosa (1577). A Malaposta tem uma origem mais recente, associada à criação das carreiras de “mala-postas” que tinham, justamente neste lugar, uma das casas de muda (esta zona seria antes conhecida como Ponte da Pedra).
As cartas medievais devolvem-nos a preocupação de gestão dos bens aqui situados, sendo disso exemplo o aforamento outorgado, em 1333, pelo prior do convento do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra aos “nossos vassalos do nosso lugar de Anadia, daqueles casais que nós aí havemos”. Mas só em 21 de Agosto de 1514 este espaço será dotado dos mecanismos que lhe permitem ascender à condição de concelho “de jure“ (sendo plausível que já antes vivesse na condição de concelho “de facto”).

Anadia pertencia ainda ao mesmo mosteiro, mas é el-rei D. Manuel I quem lhe concede estatuto concelhio, na sequência da reforma da administração do reino. Saliente-se, no entanto, que o âmbito geográfico deste concelho de Anadia não corresponde ao da actual freguesia de Arcos – o foral apenas menciona os lugares de Anadia, Fontela e Alféloas. Por outro lado, 16 casais reguengos situados em Arcos e Três Arcos e 10 casais reguengos de Famalicão pertenciam ao vizinho concelho de Avelãs de Cima, enquanto uns moinhos de Alféloas eram mencionados no foral de Mogofores.

O concelho de Anadia, tal como a maioria dos concelhos portugueses, sofre transformações significativas durante o século XIX: em 1833, passa a pertencer ao de Avelãs de Cima, juntamente com os de Paredes do Bairro e do Pereiro; em 1835, desaparecem os concelhos de Aguim, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Ferreiros, Mogofores, Óis do Bairro, Sangalhos, Vilarinho do Bairro e Vila Nova de Monsarros, renascendo o de Anadia (com as freguesias de Arcos, Moita, Mogofores, Avelãs de Cima e Avelãs de Caminho) e mantendo-se o de S. Lourenço do Bairro (agora com as freguesias de S. Lourenço, Sangalhos, Óis do Bairro, Vilarinho do Bairro e Troviscal).

O concelho de Anadia cresce novamente em 1837, ano em que integra a freguesia de Vila Nova de Monsarros, e em 1853, quando se lhe juntam a freguesia de Tamengos e o extinto concelho de S. Lourenço do Bairro (que, entretanto, perde a freguesia do Troviscal, mas traz consigo a de Ancas). O século XX encarrega-se de introduzir as mais recentes alterações, com a criação das freguesias de Amoreira da Gândara, Paredes do Bairro e de Aguim.

III. BREVE CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA E DEMOGRÁFICA

As características do espaço onde se situa a vila de Anadia justificam claramente o respectivo povoamento: trata-se de uma área de transição do ponto de vista geográfico, que marca a passagem de uma zona plana (a Oeste) para uma zona acidentada (a Este), percorrida pelo Rio Cértima, no sentido Sul-Norte, pelo Rio da Serra (afluente daquele), no sentido Sudeste-Noroeste, e por outros cursos de água de menor dimensão.

Aliás, esta área de confluência dos dois rios corresponde basicamente à da freguesia de Arcos, que, ocupando a zona central do concelho, confina com as freguesias de Tamengos, Óis do Bairro, S. Lourenço do Bairro, Mogofores, Sangalhos, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Moita e Vila Nova de Monsarros.

Estamos, pois, perante uma área plana, situada entre a margem direita do Cértima e a margem esquerda do Serra, e que se prolonga um pouco para Norte do ponto onde estes rios se encontram.

Porque reúne, naturalmente, condições propícias à fixação humana, nela surgiram diversas povoações que, nos nossos dias, acabariam por originar um aglomerado populacional contínuo constituído por Canha, Malaposta, Famalicão, Alféloas, Arcos, Anadia, Vendas da Pedreira e Póvoa do Pereiro. Esta última pertence à freguesia da Moita, mas representa a principal área de expansão urbana de Anadia, juntamente com o Montouro, numa lógica de crescimento para Sul e Sudoeste. Ou seja, uma área urbana contínua com um total de cerca de 6,5 km2, onde residem mais de seis mil habitantes.

Está já dotada de todas as infra-estruturas básicas que garantem a qualidade de vida de um núcleo urbano desta dimensão e, dada a sua centralidade, encontra-se servida por algumas das principais vias terrestres regionais e nacionais: a auto-estrada A1, a estrada EN1/IC2, as estradas ENs 235, 333-1 e 334, bem como a Linha do Norte (cujo traçado foi, no século XIX, retirado da proximidade imediata da vila de Anadia para não prejudicar a povoação).

IV. PATRIMÓNIO HISTÓRICO-CULTURAL

A existência de património classificado é uma realidade neste aglomerado urbano, tendo ascendido à categoria de imóvel de interesse público o impressionante Palácio da Graciosa, em Alféloas (finais do século XVIII) e à de imóvel de interesse concelhio a Capela de S. Sebastião (século XVIII) e a Casa Sampaio (que pertenceu ao pintor Fausto Sampaio), ambas em Anadia.

No entanto, o valor artístico do património de Anadia está igualmente patente na Igreja de S. Paio (Arcos, século XVIII), na Capela de Nossa Senhora das Febres (Anadia, séculos XVII-XVIII), na Capela de S. Mamede (Famalicão, século XVII?), no edifício da Mala-Posta da Ponte da Pedra (Malaposta, c. 1859), e nos cruzeiros de Arcos (1716), de Famalicão (1670) e da Póvoa do Pereiro (1677). Destaque ainda para os Paços do Município de Anadia e para os Palacetes dos Seabras de Castro (Anadia), da Condessa de Vinhais (Anadia) e dos Condes de Foz de Arouce (Famalicão).

No âmbito da arquitectura contemporânea, merecem realce a fachada arte nova do antigo estabelecimento comercial de Justino Sampaio Alegre (1908), bem como a Estação Vitivinícola de Anadia, o Palácio da Justiça de Anadia (projectado por Rodrigues Lima e com baixos-relevos de Leopoldo de Almeida, concluído em 1966), o novo edifício da Caixa Geral de Depósitos (projectado por Carrilho da Graça, entre 1983 e 1988) e as instalações do Museu do Vinho (um projecto de André Santos em co-autoria com Manuela Lara e António Lousa).

Finalmente, uma referência às artes plásticas, onde pontuam um fresco de Júlio Resende (Tribunal de Anadia, 1966) e vários quadros de Fausto Sampaio (pertença de diversos proprietários), peças de escultura religiosa (imagens em pedra dos séculos XV e XVI e figuras de madeira dos séculos XVII e XVIII), escultura funerária, retábulos (século XVIII), escultura comemorativa (Monumento aos Mortos da Grande Guerra e monumentos de homenagem ao Visconde de Seabra, a Fausto Sampaio e a Manuel Rodrigues Lapa) e azulejaria (referência especial aos painéis de azulejos da Igreja de Arcos, datados de 1747), entre outras.

V. ACTIVIDADES ECONÓMICAS

O sector primário ainda detém no concelho algum do seu peso tradicional (sendo a viticultura a principal actividade agrícola). Mas cabe demonstrar que no aglomerado de Anadia ganha preponderância o sector terciário por força da localização, neste centro urbano do concelho, de serviços relevantes. Cabe também admitir a importância da instalação, dentro e nas imediações do seu perímetro, de indústrias diversas bem como de estabelecimentos ligados à actividade turística.

A indústria remete-nos para duas vertentes principais. Por um lado, o sector vinícola (com a existência de cerca de uma dezena de caves e de um número considerável de produtores/engarrafadores de excelência) e, por outro lado, empresas ligadas à indústria cerâmica e dos materiais de construção, que tem aqui um peso considerável. Paralelamente, e com alguma tradição, encontramos actividades relacionadas com as artes gráficas, panificação e pastelaria, madeiras, carpintaria e mobiliário.

No que respeita ao comércio, há que reconhecer um predomínio da vertente tradicional, embora existam já diversas estruturas com dinâmicas e dimensões substancialmente diferentes, designadamente grandes superfícies pertença de importantes grupos económicos. O aglomerado conta, assim, com uma grande diversidade de estabelecimentos comerciais que suprem, no plano local, um vastíssimo leque de necessidades.

Também na área dos serviços há uma resposta eficaz e adequada às exigências do aglomerado, proporcionada por entidades ligadas à saúde, à justiça, à segurança e protecção civil, à educação, à administração, à banca, aos seguros, à construção civil e à contabilidade, entre outros.

No domínio do turismo, e apesar de ser na Curia que se concentram as grandes unidades hoteleiras do concelho, não poderemos deixar de mencionar a existência, em Anadia, de um moderno hotel de três estrelas, bem como de diversos restaurantes, pastelarias, cafés e agências de viagens.

VI. EQUIPAMENTOS E ACTIVIDADE SOCIAL, CULTURAL E DESPORTIVA

É em Anadia que se situam as principais infra-estruturas ao nível de:

· administração local: Câmara Municipal de Anadia, Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Anadia e Junta de Freguesia de Arcos;
· administração pública: Repartição de Finanças e Tesouraria da Fazenda Pública, Conservatórias dos Registos Civil e Predial e Cartório Notarial;
· justiça: Tribunal Judicial da Comarca de Anadia, Julgados de Paz e Instituto de Reinserção Social, para além de numerosos escritórios de advogados;
· segurança: Quartel da Guarda Nacional Republicana (Destacamento Territorial e Posto);
· protecção civil: Serviço Municipal de Protecção Civil e Bombeiros Voluntários de Anadia;
· saúde: Hospital Distrital, Centro de Saúde, clínicas e consultórios médicos com especialidades muito diversas, farmácias, laboratórios de análises e centros de reabilitação física, entre outros;
· educação: creches, jardins de infância (redes pública e privada), quatro escolas EB 1 (rede pública), uma escola EB 2/3, uma escola profissional, uma escola secundária (com 3º ciclo) e um colégio (com todos os graus de ensino); existem ainda escolas particulares para ensino de línguas, dança, expressão musical e artes plásticas;
· acção social: Serviço Local da Segurança Social, Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, Núcleo de Intervenção Precoce, Rede Social, Agrupamento n.º 221 de Anadia do Corpo Nacional de Escutas, Santa Casa da Misericórdia de Anadia, APPACDM de Anadia e outras instituições particulares com intervenção neste domínio;
· transportes e comunicações: estação de correios, praça de táxis e carreiras de transportes públicos;
· apoio aos sectores económicos: Comissão Vitivinícola da Bairrada, Estação Vitivinícola da Bairrada, Farmácia Agrícola, Cooperativa Agrícola, veterinários, delegações de associações comerciais e industriais e mercado municipal (encontrando-se um moderno e completo equipamento em adiantada fase de conclusão);
· comunicação social: um semanário regional, um quinzenário regional, uma delegação de semanário regional e uma rádio local;
· novas tecnologias: Fundação para as Novas Tecnologias da Informação e Espaço Internet;
· cultura: Biblioteca Municipal (encontra-se em construção um novo edifício, no âmbito da Rede de Leitura Pública), Centro Cultural (com Galeria Municipal de Exposições e Sala de Formação), Casa e Biblioteca Rodrigues Lapa, Museu do Vinho Bairrada, Museu José Luciano de Castro, Cine-Teatro (em construção), auditórios e anfiteatros (dando ênfase especial ao Anfiteatro do Vale Santo, na encosta nascente do Monte Crasto, que tem servido como espaço multidisciplinar, albergando variadíssimos eventos de carácter cultural, social, tempos livres e lazer, bem como de desenvolvimento económico, nomeadamente a Feira da Vinha e do Vinho); são numerosas as associações que desenvolvem iniciativas culturais da mais diversa índole (espectáculos musicais e teatrais, exposições, seminários e edição de publicações, entre outras);
· desporto: Complexo Desportivo (Estádio, Piscinas, Courts de Ténis, Campo Sintético, e um novo Pavilhão de Desportos, actualmente em construção), Pavilhão Gimno-Desportivo de Anadia, Campo de Futebol Pequito Rebelo (Anadia), Campo de Futebol José Mariz da Silva (Famalicão), polidesportivos descobertos (Anadia e Póvoa do Pereiro) e espaços desportivos enquadrados em recintos escolares; a prática desportiva é promovida por várias colectividades, algumas delas em actividade há longas décadas, sendo de destacar o Anadia Futebol Clube (futebol, basquetebol e hóquei em patins) e o Atlético Clube de Famalicão;
· espaços verdes: jardins públicos e privados (palacetes), Monte Crasto e Choupal, entre outros.

VII. NOTA FINAL
A importância deste espaço foi reconhecida ao longo dos séculos por todos quantos aqui interagiram, num esforço contínuo de investimento em prol do progresso e da qualidade de vida dos seus habitantes.

A presente caracterização revela a existência da dinâmica que tem sido o suporte do crescimento e desenvolvimento integrado que Anadia consolidou e vem ampliando.

Face ao exposto, considera-se demonstrado que o aglomerado urbano contínuo constituído pela vila de Anadia e povoações contíguas (Alféloas, Arcos, Canha, Famalicão, Malaposta e Vendas da Pedreira, da freguesia de Arcos, e Póvoa do Pereiro, da freguesia da Moita), reúne as condições necessárias à sua elevação a cidade.

Nestes termos, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis e atendendo ao facto de estarem reunidos os requisitos previstos na Lei n.º 11/82 de 2 de Junho, o Deputado do Grupo Parlamentar do PSD abaixo assinado, apresenta o seguinte Projecto de Lei:

Artigo único

É elevada à categoria de cidade a vila de Anadia e povoações contíguas (Alféloas, Arcos, Canha, Famalicão, Malaposta e Vendas da Pedreira, da freguesia de Arcos, e Póvoa do Pereiro, da freguesia da Moita).

Assembleia da República, 25 de Novembro de 2004.

O Deputado do PSD,
José Manuel Ferreira Nunes Ribeiro

julho 07, 2005

Bucintoro


Return of the Bucintoro to the Molo on Ascension Day 1732

Bucintoro
State barge. L/B/D: 143.7 × 23.9 × 27.6 (43.8m × 7.3m × 8.4m). Hull: wood. Comp.: 168 oarsmen. Built: Arsenale, Venice; 1728.
In 1100, the Venetian Doge Pietro Orseolo began the consolidation of Venetian power with the defeat of Dalmatian pirates who had long infested the Adriatic trade routes. As the power of the Most Serene Republic grew, her annual rite of the blessing of the sea evolved into a more complex and elaborate ceremony by which Venice was spiritually wed to the Adriatic. The sposalizia—literally, the wedding—annually took place on Ascension Day, the anniversary of the departure of Orseolo's fleet. The Doge, his retainers, members of the clergy, and the various ambassadors to Venice would put out in the Bucintoro, rowed by 168 oarsmen pulling on 42 oars. After the blessing of the ring by the Patriarch of San Elena, the Bucintoro would continue past the Lido, and the Doge would drop the marriage ring into the Adriatic with the words: "Disponsamus te, Mare, in signum veri perpetuique dominii" (We wed thee, Adriatic, as a sign of our true and perpetual dominion). The presence of ambassadors ensured that this was no idle covenant, and indeed the Holy Roman Emperor Frederick III, among others, sought permission for his ships to pass through the Adriatic.
Just when the sposalizia formally began is unknown. There was a ritual blessing of the Adriatic in Orseolo's time, and this would have taken on added importance following his victory over the pirates. Two centuries later, in 1177, the stature of Venice was further enlarged with Pope Alexander III's official recognition of her role in mediating a long-standing dispute between the papacy and the Holy Roman Empire. "Bucintoro" is also of uncertain origin. One theory is that it refers to a figurehead combining elements of a cow and a centaur. It may also be a corruption for either ducentorum, meaning a boat carrying 200 men, or cinto d'oro, meaning girdled with gold, as the later vessels certainly were. The last of the state barges to bear the name Bucintoro was built in 1728. In addition to the sposalizia, she was also used for important ceremonies of state. Her end came in 1797 when the French seized the Republic of Venice. In a rite of ritualistic humiliation, General Napoleon Bonaparte ordered his troops to melt down the gold decoration and destroy the barge's adornments. The hull was spared and fitted out as a floating battery in the Austrian Navy. The renamed Hydra may have remained in service until 1824.
Senior, "Bucentaur."

junho 03, 2005

O pormaior


Jan Brueghel I - Latona and the Lycian Peasants 1605

Quanto tempo terá levado este quadro a fazer? E em que estaria a pensar o autor? E nós vamos viver para debaixo da ponte?

abril 11, 2005

História do Afrikaans

The language Afrikaans has its roots in seventeenth century Dutch but it has been influenced by many languages including: English, Malay, German, Portuguese, French and some African languages. Up until the 19th century Afrikaans acted only as the spoken language and Dutch was used as the formal and written language. On 14 August 1875 the GRA, an organization that promoted the Afrikaans language, was formed by Rev. S.J. Du Toit. The first complete translation of the Bible into Afrikaans was made in 1933. According to Act 8 of 1925 of South Africa it became the official language (incorporated into Dutch) together with English. The language was promoted alongside Afrikaner nationalism after 1948 and played an important role in minority white rule in Apartheid South Africa. With the new constitution of South Africa (1996) it was again accepted as one of the official languages of South Africa.
It is important to note that Afrikaans is spoken by all races and ethnic groups in South Africa and much has been done in recent years to promote varieties of this language that were suppressed during the years of Apartheid.
CLASSIFICATION:
Family: Indo-European
Group: Germanic
Subgroup: West Germanic
VARIETIES:
Eastern Cape Afrikaans (Oosgrensafrikaans - which became Standard Afrikaans), Cape Afrikaans (Kaapse Afrikaans) and Orange River Afrikaans (Oranjerivierafrikaans).
SPEAKERS:
Around 5 811 547 people use Afrikaans as their home language in South Africa. The language is also spoken in the Republic of Namibia.

março 15, 2005

A Chegada da Malaposta (ao Porto)


Mala-Posta de Lisboa a Coimbra, 1798.
(Reconstituição a óleo por J. Pedro Roque, 1968) Posted by Hello

A Chegada da Malaposta
Por JOSÉ MANUEL LOPES CORDEIRO, Domingo, 10 de Outubro de 1999

A inexistência de estradas capazes de garantir a regular comunicação entre as principais localidades do país constituiu um problema que só a partir de meados do século XIX começou a ser solucionado. A ligação por estrada entre as duas principais cidades, por exemplo, era ainda no final do primeiro quartel de Oitocentos um objectivo a alcançar. No século XVIII tinha-se iniciado a construção, a partir de Lisboa, da ligação entre estes dois centros urbanos, a qual, contudo, acabou por se quedar por Coimbra. Não obstante várias tentativas para alcançar o Porto, esse objectivo acabou por não ser concretizado, continuando-se a utilizar a antiga via - alvo de reparações constantes -, o que tornava a viagem longa, incómoda e onerosa.
Em 1835, após a vitória definitiva do liberalismo, foi projectada uma nova estrada que estabelecesse a ligação entre a capital e a Cidade Invicta e, finalmente, dois anos mais tarde, é celebrado o contrato para a construção da ambicionada via, assim como das correspondentes obras de arte, adoptando, sempre que conveniente, o então revolucionário método do engenheiro escocês John MacAdam para a construção de estradas, divulgado em 1820. Entre as obras de arte incluídas no contrato constava uma ponte sobre o Douro - a construir segundo o sistema de suspensão - a ponte pênsil.
Apesar das obras de construção da principal estrada do Reino avançarem com alguma regularidade, e da ponte pênsil ter sido aberta ao trânsito em 7 de Janeiro de 1843, foi necessário aguardar pela segunda metade do século XIX para que a nova estrada Lisboa-Porto fosse, definitivamente, uma realidade.
Para além de se procurar resolver o problema da ligação por estrada entre as duas principais cidades do país, um dos objectivos igualmente subjacentes à sua construção dizia respeito à possibilidade de se estabelecer o sistema de comunicações postais, tanto mais que Portugal vinha tomando importantes decisões nesta matéria: em 1844, celebrara uma Convenção Postal com a França; em 1852, tinha introduzido uma reforma postal que alterou profundamente a organização dos Serviços de Correios; e, em 1853, adoptara o selo postal adesivo. Impunha-se, portanto, garantir o funcionamento de um serviço de transporte regular de correio e, obviamente, de passageiros, então vulgarmente conhecido por Mala-Posta.
Importa sublinhar que, naquela época, a Mala-Posta portuguesa não constituía propriamente uma novidade. Embora com algum atraso relativamente a outros países europeus, tinha sido introduzida em Portugal nos finais do século XVIII, mais propriamente em 1798. Contudo, em especial nos seus primeiros anos de funcionamento, registou uma existência muito atribulada, com inúmeras interrupções, as quais também se deveram à instabilidade política por que o país passou ao longo da primeira metade do século XIX. Se exceptuarmos o curto período de 1798 a 1804, que correspondeu à primeira experiência da Mala-Posta entre Lisboa e Coimbra, praticamente só entre 1852 e 1871 - quando desapareceu o serviço da Mala-Posta, definitivamente substituído pelo caminho-de-ferro -, é que se pode afirmar, com propriedade, a existência entre nós daquele serviço de transporte regular de correio e de passageiros.
Em 1852, com a estrada Lisboa-Porto finalmente passível de ser utilizada sem grandes problemas - ainda em 1842, já com a nova estrada em construção, existiam troços "aonde a água chegava à barriga das cavalgaduras, por espaço de muitas braças" (uma braça correspondia a 2,2 metros) -, foi possível iniciar o serviço de Mala-Posta entre as duas principais cidades do Reino. Inicia-se assim, em 1855, a carreira da Mala-Posta entre Lisboa e o Porto, a única cuja exploração proporcionou, de facto, resultados proveitosos do ponto de vista económico.
No entanto, perante a incerteza do investimento, o concurso para a exploração de carreiras diárias em diligência, aberto em 1855, ficou deserto - na realidade, chegaram a apresentar-se dois concorrentes, mas, por motivos que não foi possível apurar, não lhes foi concedido o alvará - , tendo sido o Estado a encarregar-se do reatamento da exploração da carreira, inaugurando-se, em 21 de Maio daquele ano, o novo serviço de Mala-Posta, entre o Carregado e Coimbra. O correio e os passageiros saíam de barco de Lisboa, subindo o Tejo até ao Carregado, onde tomavam a diligência com destino à cidade do Mondego. Porém, no ano seguinte, este troço inicial até ao Carregado passou a ser efectuado de comboio, em virtude da inauguração do caminho-de-ferro ocorrida nesse ano de 1856. O trajecto entre Lisboa e Coimbra, de cerca de 180 quilómetros, efectuado em imponentes veículos de quatro cavalos, era então percorrido em aproximadamente 23 horas, ou seja, com a estonteante velocidade média de 7,8 quilómetros por hora.
No entanto, a ligação ao Porto continuava a constituir um problema, e a data inicialmente prevista (1856) era sucessivamente adiada. Refira-se, a propósito, que as diligências da Mala-Posta eram construídas em Inglaterra e dispunham de sete lugares, quatro no interior, correspondentes à 1ª classe, e três no exterior, consagrados à 2ª classe. Ao longo do percurso até Coimbra, paravam em 14 estações de muda - onde procediam a uma rápida troca de cavalos durante cerca de, mais ou menos, dez minutos, embora nas Caldas da Rainha e Leiria as paragens fossem mais demoradas, a fim de os viajantes poderem tomar breves refeições.
Durante a viagem, os cocheiros e os sotas - a parelha da frente - eram também substituídos em determinadas partes do percurso. O postilhão - o empregado dos Correios que acompanhava os cavalos da Mala-Posta - era o único que efectuava toda a viagem, cabendo-lhe a responsabilidade de zelar pela segurança do correio. Com a crescente procura do serviço da Mala-Posta e, consequentemente, com o aumento do número dos passageiros, foi necessário adquirir novas carruagens, de 12 lugares, mais o condutor, construídas na Carrosserie du Chemin Vert, em Paris.
A partir de 1857, ultimam-se as obras do troço da estrada entre Coimbra e Porto e, em 1859, a Mala-Posta passa a servir também a Cidade Invicta, mais propriamente o Alto da Bandeira, em Vila Nova de Gaia, onde se estabeleceu a estação "terminus" da carreira. A viagem era efectuada de uma forma ininterrupta, descontando as já referidas paragens nas estações de muda - agora em número de 23 - para troca de cavalos, descanso do pessoal e tomada de refeições, num total de 34 horas para vencer os cerca de 300 quilómetros que então separavam Lisboa da capital do Norte, aumentando a velocidade média para uns fulgurantes 8,8 quilómetros por hora.
O acontecimento foi efusivamente saudado pela população nortenha, embora também se ouvissem algumas vozes mais comedidas, como se constata na leitura de "O Comércio do Porto" de 17 de Maio de 1859, quando refere: "Chegou ontem finalmente a Mala-Posta ao Alto da Bandeira e partiu de tarde levando quatro passageiros. Consta-nos que percorrera toda a estrada desde o Pinheiro da Bemposta até àquele sítio sem o menor inconveniente. Gozamos pois de mais este melhoramento. Agora poder-se-á fazer a viagem entre Lisboa e o Porto sem interrupção e com a maior comodidade. É preciso, porém, que a estação seja no Porto e não no Alto da Bandeira e para isso não se deve deixar de empregar toda a actividade, para que no menor espaço de tempo possível se consiga a conclusão da estrada até à ponte pênsil", desiderato que só foi alcançado em 16 de Outubro de 1861.
Entre 1859 e 1864 - quando o caminho-de-ferro chegou às Devesas - a Mala-Posta serviu o Correio e os passageiros sem grandes problemas, embora os viajantes mais endinheirados preferissem efectuar a viagem servindo-se de um outro meio de transporte, o barco a vapor. Apesar destas "conquistas da civilização" nos parecerem hoje irrisórias, para a época constituíram um significativo melhoramento, que só o caminho-de-ferro, um pouco mais tarde, veio ultrapassar. Como sublinhou Fontes Pereira de Melo, num discurso em 18 de Janeiro de 1875, "acima do cavalo da diligência está o trâmuei, acima deste a locomotiva e acima de tudo o progresso".

março 04, 2005

A história da Ópera


Letra e Música de Chico Buarque, 1979 Posted by Hello

A história da Ópera
Mas como resistiu ao tempo esta elegia a uma boémia carioca perdida, misturada com uma mensagem política em tempos de ditadura? CharlesMöeller , o encenador-prodígio do momento, disse à VISÃO que deu «uma enxugada» no texto, com a aprovação de Chico: «Quando o musical estreou, vivia-se uma ditadura.
O texto e as canções tinham muito cheiro de entrelinhas, de intervenção. Sentia-se muito o peso de Brecht , os microfones junto ao palco, os actores a interromperem a acção para cantarem... O que eu fiz tem mais a ver com a tradição do musical americano, onde as canções comentam ou fazem avançar a acção.» Realmente, os tempos eram outros: Chico já tinha sentido o peso da censura aquando da estreia da peça musical Calabar – O Elogio da Traição. Estava-se em 1973, no auge da ditadura militar brasileira, e o regime tudo fez para adiar ou anular a sua estreia. O 25 de Abril em Portugal tornou as coisas ainda mais complicadas, e Calabar (que incluía canções como Bárbara ou Ana de Amesterdão) apenas estreou em 1977. Com a Ópera do Malandro, o episódio repetiu-se, com a censura a proibir a versão original da canção
O Meu Amor, por ter a palavra «sexo» num dos versos – Chico foi obrigado a substituí-la por «ventre». Mas a produção foi em frente, e logo nessa altura conheceu um êxito desmedido: inspirada na Ópera dos Três Vinténs, de Brecht e KurtWeill , e na Ópera do Mendigo, do autor inglês do século XVIII JohnGay , o elenco original contava com Marieta Severo, então casada com Chico Buarque , e Tânia Alves, para além de uma jovem actriz e cantora chamada Elba Ramalho. Logo no ano da sua estreia conquistou o prémio Molière para o melhor espectáculo. Um ano depois surge o álbum duplo com a banda sonora, que contém excelentes interpretações de ZiziPossi , MPB4, Elba Ramalho, Moreira da Silva e do próprio Chico Buarque . Em 1986, surge o filme de Ruy Guerra, com EdsonCellulari no papel principal e com novas canções do autor. A Ópera do Malandro teve ainda outras encenações, incluindo uma bizarra adaptação de Gabriel Villela , em 2000, que trouxe elementos do faroeste americano para a Lapa carioca dos anos 40.
Em Portugal, o libreto completo da Ópera foi publicado logo em 1981 (a edição original é de 1978) pelas Edições O Jornal, com um longo e precioso prefácio do maestro João de Freitas Branco.

Dupla de perfeccionistas
O enredo do musical é simples, como convém: Max Overseas (interpretado nesta produção por Alexandre Schumacher ) é o arquétipo do antigo malandro carioca: um pequeno marginal, mulherengo e contrabandista, que vive um amor proibido com Teresinha, filha de um dono de bordel, e se vê encurralado por um casamento forçado. Toda a acção se situa no bairro boémio da Lapa, entre prostitutas e demais personagens de vida duvidosa. Pelo meio, surgem figuras inesquecíveis como a de Geni .
O encenador quis reforçar esse hino a um mundo perdido, onde havia inocência e romantismo: «A boémia perdeu-se.
O malandro foi assassinado culturalmente pela violência mundial, que passa pelas guerras, a Internet ou as multinacionais. Não existe já esse mulherengo marginal que faz toda a gente feliz.»
O actor Alexandre Schumacher concorda: «Já não existe essa poesia do malandro, a não ser na música, no samba. O malandro, hoje, é mais estético do que outra coisa, porque os verdadeiros marginais dedicam-se ao tráfico e ao assassínio», disse à VISÃO. Então o que move o Max Overseas de 2005? «Desejo», responde prontamente Schumacher , «desejo e nada mais. Acaba por ser, aliás, o seu próprio calvário, porque a sua gula de desejo vai aumentando.» CharlesMöeller vai mais longe: «A Ópera, vista nos dias de hoje, tem a ver com o poder e com a guerra pelo poder, e como toda a gente se transforma quando lá chega. Há uma gravura de Escher em que um tubarão está a comer uma sardinha, que por sua vez come outro peixe e por aí fora, sem fim. É assim que eu vejo este texto: uma luta em que o mais fraco exerce o poder sobre o ainda mais fraco.»
Quem tenha assistido à versão de 1978 vai ficar surpreendido com o que é, agora, uma megaprodução . O que era antes uma estética da pobreza brechtiana constitui, agora, uma encenação digna de qualquer palco da Broadway . Alguns factos e números, só para impressionar: três palcos giratórios, uma orquestra de 12 músicos que toca ao vivo, um equipa de cerca de 70 elementos e 75 figurinos especialmente concebidos para este espectáculo. A dupla Möeller e Botelho – que literalmente revitalizaram o musical brasileiro, assinando êxitos de bilheteira como Cole Porter , Ele Nunca Disse Que Me Amava (2000) – é perfeccionista e por isso não é de espantar que tenham sido gastos quase 800 metros de tecidos para os figurinos, de crepes a veludos, passando por linho e cetim. Todas as peças foram recriadas rigorosamente à maneira dos anos 40. Os dois auto-intitulados « buarquemaníacos » escolheram judiciosamente o elenco, baseados na excelência das vozes e na capacidade de representação. É essa extraordinária harmonia que faz a diferença ao longo das 20 canções que o espectáculo contém. Infelizmente para nós, um membro do elenco original não pode vir a Portugal por razões de trabalho: é Lucinha Lins, que os portugueses conhecem bem das novelas e que dava voz e vida a Vitória, mãe de Terezinha . Para os que quiserem prolongar o palco até casa, existe já o CD da banda sonora desta produção.

Um homem feliz
No meio de tudo isto, Chico Buarque é um homem feliz. Möeller e Botelho tiveram a aprovação total do autor para esta versão, e até mais: «O Chico, hoje, é aquele tipo meio recluso, que raramente sai. Mas ele foi a um ensaio e adorou», conta o encenador. «No final estava muito emocionado, chegou mesmo a chorar. Não veio à estreia, mas veio depois e esteve com o elenco antes e depois do espectáculo. Veio ao camarim antes de começar e rezou connosco, foi incrível!» O único pedido que Chico fez foi o da utilização da versão original de O Meu Amor, o que naturalmente foi atendido. O resultado foi o que já aqui se relatou e que agora nos preparamos para confirmar. Percebe-se que o espectáculo só pode ser um sucesso quando se ouve a emoção na voz de Möeller : «Eu nunca pensei que viria a dirigir a Ópera do Malandro. Já me posso aposentar.»

© Copyright VISÃO / Edição nº 624