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fevereiro 12, 2008

D. Ximenes Belo

D. Ximenes Belo em visita particular à Figueira da Foz

D. Ximenes Belo esteve esta terça-feira na Figueira da Foz a convite de um amigo, para descontrair e respirar ar puro. O Prémio Nobel da Paz de 1996 visitou a Serra da Boa Viagem e a Igreja de S. Pedro.

Carlos Filipe Ximenes Belo nasceu em 1948, mas é como D. Ximenes Belo, bispo da Igreja Católica que fica na História.
Quinto filho de Domingos Vaz Filipe e de Ermelinda Baptista Filipe, Carlos Filipe Ximenes Belo nasceu na aldeia de Uailacama, concelho (hoje distrito) de Baucau, na costa norte do então Timor Português. O seu pai, professor primário, faleceu quando o jovem Carlos Filipe tinha apenas dois anos de idade. Os anos de infância foram passados nas escolas católicas de Baucau e Ossu, antes de ingressar no seminário de Daré, nos arredores de Díli, formando-se em 1968. Exceptuando um pequeno período entre 1974 e 1976 – quando esteve em Timor e em Macau –, entre 1969 e 1981, Ximenes Belo repartiu o seu tempo entre Portugal e Roma, onde se tornou membro da congregação dos Salesianos e estudou filosofia e teologia antes de ser ordenado padre em 1980.
De regresso a Timor-Leste em Julho de 1981, D. Ximenes Belo esteve ligado ao Colégio Salesiano de Fatumaca, onde foi professor e director. Quando em 1983 se reformou Martinho da Costa Lopes, Carlos Filipe Ximenes Belo foi nomeado administrador apostólico da diocese de Díli, tornando-se chefe da igreja em Timor-Leste, respondendo exclusivamente perante o papa. Em 1988, em Itália, foi consagrado como bispo.

As aparências enganam
A nomeação de D. Ximenes Belo foi do agrado do núncio apostólico em Jacarta e dos próprios líderes indonésios pela sua aparente submissão. No entanto, cinco meses bastaram para que, num sermão na sé catedral, Ximenes Belo tecesse veementes protestos contra as brutalidades do massacre de Craras em 1983, perpetrado pela Indonésia. Nos dias de ocupação, a igreja era a única instituição capaz de comunicar com o mundo exterior, o que levou D. Ximenes Belo a enviar sucessivas cartas a personalidades em todo o mundo, tentando vencer o isolamento imposto pelos indonésios e o desinteresse de grande parte da comunidade internacional e da própria Igreja Católica.
Em Fevereiro de 1989 Ximenes Belo escreveu ao presidente de Portugal, Mário Soares, ao papa João Paulo II e ao secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuellar, reclamando por um referendo sob os auspícios da ONU sobre o futuro de Timor-Leste e pela ajuda internacional ao povo timorense que estava “a morrer como povo e como nação”. No entanto, quando a carta dirigida à ONU se tornou pública em Abril, D. Ximenes Belo tornou-se uma figura pouco querida pelas autoridades indonésias. Esta situação veio a piorar ainda mais quando o bispo deu abrigo na sua própria casa a jovens que tinham escapado ao massacre de Santa Cruz (1991) e denunciou os números das vítimas mortais.

Prémio Nobel da Paz
A sua obra corajosa em prol dos timorenses e em busca da paz e da reconciliação foi internacionalmente reconhecida quando, em conjunto com José Ramos-Horta, lhe foi entregue o Prémio Nobel da Paz em Dezembro de 1996, “Pelo seu trabalho conducente a uma solução justa e pacífica para o conflito em Timor-Leste”. Na sequência deste reconhecimento, Ximenes Belo teve oportunidade de se reunir com Bill Clinton dos Estados Unidos e Nelson Mandela da África do Sul. Após a independência de Timor-Leste, a 20 de Maio de 2002, a saúde do bispo começou a esmorecer perante a pressão dos acontecimentos que tinha vivido. O papa João Paulo II aceitou a sua demissão como administrador apostólico de Díli em 26 de Novembro de 2002. Após ter-se retirado, D. Ximenes Belo viajou para Portugal para receber tratamento médico. No início de 2004, houve numerosos pedidos para que se candidatasse à presidência da república de Timor-Leste. No entanto, em Maio de 2004 declarou: “Decidi deixar a política para os políticos”.

Em Portugal
Desde que deixou Timor, D. Ximenes Belo está radicado em Portugal e reside no Colégio Salesiano de São João Bosco, em Mogofores (Anadia), onde estudou quando era jovem.
Actualmente a escrever um livro, D. Ximenes Belo “passa muito tempo fechado”, o que levou o amigo Fernando Rego a convidá-lo a passar um dia na Figueira da Foz.
“Estive muitos anos como militar em Timor, e é de lá que vem a nossa amizade”, contextualiza Fernando Rego, que sabia da vontade de D. Ximenes Belo “conhecer melhor a Figueira da Foz”, uma vez que só cá tinha estado ‘de passagem’.
Nesta visita, o Prémio Nobel percorreu, pela manhã, a Serra da Boa Viagem, tendo gostado particularmente do miradouro da Bandeira.
Ao almoço, no restaurante Forte de Santa Catarina, seguiu-se a visita à Igreja de S. Pedro, guiada pelo padre Carlos Noronha.
Em brevíssimas declarações aos jornalistas, D. Ximenes Belo disse estar a gostar do passeio. “A Figueira é uma cidade bonita. Tem mar, como Timor, mas aqui está tudo mais desenvolvido, mais arranjado…”, fez notar.

04/10/2007
Ano 89º
Edição N.º 5528


O Figueirense

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