Textos relacionados com os 'posts' do Ponte da Pedra

agosto 29, 2006

Tibério Antunes

Esta menina também não nasceu sem complicações: a placenta ficou aderente à costura da antiga cesariana (de 1970, na dramática estadia na Cruz Vermelha).
O que valeu é que na jogada estava um antigo guarda redes da Académica (vencedor da 1ª Taça de Portugal em 1939) que com “boas mãos” se encarregou de resolver o problema à moda antiga. Já o filho dele se haveria de atrasar, uns anos mais tarde, a um encontro no Particular. Felizmente não houve consequências.

agosto 18, 2006

O Pompeu dos frangos

In “Diário de Noticias”, 30 de Julho, 2006
João Fonseca, Tiago Lourenço (foto)



'Estação de muda' de leitão para frango

Na terra do leitão, o frango também faz história. Na Malaposta, meia dúzia de quilómetros a norte da Mealhada, nas instalações da 16.ª "estação de muda" da primeira estrada que ligou Lisboa e Porto. Nesta antiga mala--posta, restaurante há mais de 40 anos, há bom leitão, naturalmente. Mas não é ele, o bácoro assado à moda da Bairrada, que faz com que muitos automobilistas abandonem a auto-estrada e regressem, alguns minutos, à velha Nacional 1 (EN1/IC2). O motivo do desvio é o frango de churrasco do Pompeu.

O emblemático prato do Pompeu dos Frangos faz, frequentemente, esquecer as suas outras especialidades maiores: o arroz de miúdos e a costeleta bovina. Uma injustiça, reconhecem mesmo os incondicionais apreciadores do frango de churrasco. Como pouco justo será reduzir o res- taurante à cozinha. O acolhedor espaço, feito a partir dos aposentos da que terá sido a maior mala-posta (inaugurada em 1857) ao longo dos 300 quilómetros entre as já então duas maiores cidades do país, também é responsável pela fama da casa.

As suas salas, contando, em painéis de azulejos (fiéis cópias dos expostos no Museu dos CTT), a história das "estações de muda", também explicam a projecção do restaurante. E de espaço de tertúlia, cada vez, porém, menos cultivado, apesar da fidelidade que mantém ao seu ambiente, de granito e madeira, de amplas portas e janelas. Faltam Miguel Torga ou Fernando Valle, entre muitos outros. Mas felizmente ainda há quem continue a apreciar boa mesa em ambiente agradável.

O molho que tempera os frangos já não tem o dedo do Pompeu (1920-1992). Mas continua igual, garantem os clientes mais antigos e fiéis, lembrando que o filho do fundador do restaurante desde muito novo substituía o pai nessa e outras tarefas. O crescimento e decoração da casa, aliás, foram - sempre com o apoio do pai -, obra de Carlos Aires, que desde cedo revelou ter herdado do pai a extraordinária sensibilidade para a gerir.

Carlos Aires, 59 anos - embora lamentando não ter estudado, "pelo menos mais dois anos", no então emblemático Colégio de Nun'Álvares, em Tomar -, reconhece que a sua vida se confunde com a do pai, no restaurante, inaugurado em 20 de Novembro de 1963. "Mas na véspera, pressionados por alguns clientes, já servimos", recorda. Clientes antes de a casa abrir? Isso mesmo. A história do Pompeu dos Frangos começou antes, em Bustos, a 14 quilómetros da Malaposta.

O Pompeu "nunca gostou muito da agricultura e, assim que pôde, mudou de vida". Abriu um café na aldeia, que, então, tinha três médicos e era, por isso, bastante visitada pelos na altura designados delegados de propaganda médica. Uns e outros frequentavam o café, mas lamentavam não ter uns petisquinhos. O proprietário fez--lhes a vontade e o café acentuou a vocação de ponto de encontro de amigos. Um deles, uma noite, apareceu lá, com "um frango roubado", desafiando o dono da casa a assá-lo, no fogareiro doméstico, e a temperá-la com molhos africanos. Pela sua origem ou tempero, "o frango não ficou bom nem mau", mas Pompeu ficou com a certeza de que, corrigindo métodos e temperos, conseguiria melhor. E conseguiu. De tal modo que o frango, apesar de confeccionado artesanalmente, passou a ser referência do café.

O sucesso do churrasco foi tal que Pompeu teve mesmo de ceder à pressão dos amigos e deslocar-se para junto da Nacional 1, para a "estação de muda" (então completamente abandonada) que dá o nome à povoação da Malaposta.

Dona Nina, sua mulher (recentemente falecida), resolveu, entretanto, dar utilidade aos miúdos que, em quantidades crescentes, sobravam. E nasceu o arroz de miúdos, melhor ainda, segundo algumas bocas, que os frangos que o sugeriram.

1.8.06

POMPEU SIMÕES AIRES. TOPONÍMIA DE BUSTOS EM FALTA

Em 9.10.1985 os CTT reconstituíram – com rigor histórico – o chamado ‘correio a cavalo’ no percurso Ponte Pedra – Aveiro. Numa sala do Restaurante ‘Pompeu dos Frangos’, (antiga Mala-Posta) funcionou a estação de correio, tendo sido posto à venda diverso material alusivo à XIV Exposição Filatélica Nacional. A correspondência aí recolhida foi transportada até Aveiro por «carteiro» montado em cavalo, estando equipados a rigor.
As terras de Oliveira do Bairro foram transpostas num ápice galopado até Aveiro.
A televisão recolheu imagens do evento ocorrido no «Pompeu», que devem constar em arquivo da memória da RTP e que poderiam constar em arquivo local ...
O Pompeu, ‘dos Frangos’, apesar da Fama o querer tratar por tu, manteve as raízes do seu chão sempre adubadas pelo convívio natural, franco e baerto, estivesse em que salão estivesse.
A qualidade de vida para o Pompeu não era palavra de discurso de circunstância ou de «banha de cobra». Quando preparou o parque de estacionamento do restaurante teve a preocupação de mandar adornar o espaço com vegetação. [ainda hoje aquela área é um exemplo vivo de qualidade de vida].
A memória das diligências e da mala-posta foi preservada e refrescada com os painéis de azulejo da Fábrica do Outeiro de Águeda (alguns assinados pelo Mestre Breda). E só o Pompeu sabe as voltas que teve de dar para conseguir reproduzir o cenário da época. Em «meia dúzia» de gravuras está a síntese da ligação terrestre entre Lisboa e Porto.
E quando Bustos batia à porta do Pompeu a solicitar ajuda?
Estava sempre disponível.
O Pompeu foi um Embaixador de Bustos por excelência e nunca desvirtuou o nome da sua terra.
O Pompeu tem direito e merece ter nome de praça, busto ou rua.
Senhores “manda-chuva” ou seus promitentes, o Pompeu Simões Aires nasceu em Bustos e deu lonjura a Bustos, por bons motivos.
No meu pv, tentar fazer esquecer o Pompeu é a forma mais comezinha de o perseguir. Só que o Pompeu não deixará de continuar a ser uma das prestigiadas Figuras de Bustos.

sérgio micaelo ferreira,
rossio da póvoa
in
http://noticiasdebustos.blogspot.com/2006/08/pompeu-simes-aires-toponmia-de-bustos.html

agosto 16, 2006

A água do rio

Segundo Platão (Crátilo), Heráclito teria dito que uma pessoa não se poderia banhar duas vezes no mesmo rio. Querendo com isto significar um movimento geral de todas as coisas, numa mudança permanente da própria matéria. Tudo se apresentando em perpétuo devir. Raramente se utiliza a frase nesta acepção. Pelo contrário, ficou a ideia da passagem do tempo, expressa na imagem de um rio. Numa visão trivial do fluxo temporal. Não se sabe ao certo o que queria Heráclito dizer, mas podemos considerar que estamos perante uma visualização da oposição entre o material e o imaginado. Como escrevem Kirk e Raven "a imagem do rio esclarece o género de unidade que depende da conservação da medida e do equilíbrio na mudança." Assim, pode Crátilo afirmar que nem sequer uma vez nos podemos banhar no rio. Pois tal acção implica, por si só, mudança. Recorro a esta proposição para clarificar que a presença irremediável não refere o estático, mas antes um perpétuo devir. Sendo que, para o que aqui nos interessa, o rio indica, não o imaginário, mas o social. O corpo ao banhar-se no social, provoca nesse simples acto, uma transformação radical do preexistente. Em rigor, é esse o sentido da palavra irremediável.

maio 31, 2006

José Cid

Uma Biografia de José Cid
A primeira fase da carreira de José Cid é pioneira na busca de soluções musicais, em ruptura com as correntes estéticas dominantes.
Enquanto líder e inspirador musical do Quarteto 1111, José Cid prima pela originalidade dos seus arranjos, próximos do psicadelismo do movimento hippye, e pela ousadia social das letras das canções. A Lenda de El Rei D. Sebastião e Os Faunos são alguns dos temas que geram polémica a par de um êxito indiscutível.
Quando o grupo lançou A Lenda de Nambuangongo, a censura não lhe perdoou e Cid chegou a ser proibido de entrar em território angolano.
"Ao Norte de Angola
rajadas de vento
tingiram o céu
de sangue cinzento"
eram algumas das palavras proibidas.
O Quarteto 1111, permanecerá em actividade até 1973, com o número recorde de 28 canções censuradas pelo regime.
José Cid iniciara uma carreira a solo em 1969, com Lisboa Camarada, igualmente censurado, e, em 1971, com José Cid, onde, qual homem dos sete instrumentos, toca órgão, baixo, guitarras, piano e faz diferentes vozes.
Utiliza pela primeira vez sons electroacústicos. Com o enorme êxito do tema 20 Anos, gravado já com os Green Windows, Cid abandona a fase mais interventiva da sua obra e envereda pelos lados mais ligeiros da música.
A partir de então, sucedem-se as participações nos Festivais da Canção RTP. Na memória de todos ficam ainda canções como No Dia em que o Rei Fez Anos e A Rosa Que Eu Te Dei, entre dezenas de outros discos.
Marcos principais da carreira:
1956 Funda Os Babies, um grupo especializado em cantar covers de rock´n´roll.
1960 Com José Niza, Proença de Carvalho e Rui Ressureição funda o Conjunto do Orfeão.
1967 Nasce o Quarteto 1111 e, com ele, um tema para a história: A Lenda de El Rei D. Sebastião.
1968 Balada para D. Inês classifica-se em terceiro lugar no Festival RTP da Canção.
1969 O primeiro disco a solo, Lisboa Camarada, é proibido pela Censura.
1973 Grava 20 Anos, com os Green Windows, a sua nova formação.
1974 Leva ao Festival RTP A Rosa que Eu te Dei e No Dia em Que o Rei Fez Anos, duas canções que se vão tornar, de imediato, enormes êxitos.
1978 Edição de A Minha Música.
1980 Triunfa no Festival RTP com o tema Um Grande, Grande , Amor. Classifica-se em 7° lugar no Eurofestival, a melhor classificação portuguesa até à data.
1981 A canção Morrer de Amor por Ti classifica-se em 2° lugar no Festival RTP.
1983 Conhece, de novo, o êxito, com as canções Como o Macaco Gosta de Banana e O Rock dos Bons Velhos Tempos.
1994 Edita Vendedor de Sonhos.


De: http://www.cantodaterra.net


Outra Biografia
Nasceu na Chamusca a 4 de Fevereiro de 1942.
A fama chegou-lhe inicialmente através da sua participação como teclista e vocalista no Quarteto 1111, onde obteve grande êxito com a canção "A lenda de El-Rei D.Sebastião". Esta canção, inovadora para a época, apresentava sons diferentes daqueles a que o público estava habituado, com reflexos psicadélicos. Ainda com o quarteto, concorreu ao festival da canção de 1968, com "Balada para D.Inês".
Em 1973, a banda adopta o nome Green Windows, numa tentativa de internacionalização.
Uma das suas composições mais conhecidas, "Ontem, Hoje e Amanhã", recebe o prémio "outstanding composition" no Festival Yamaha de Tóquio, em 1975, certame a que tinha concorrido já em 1971 com "Ficou para Tia".
Em 1978 publica o álbum 10,000 anos depois entre Vénus e Marte, um marco na história do rock progressivo, que vem a obter mais tarde reconhecimento a nível internacional.
José Cid concorreu ao Festival da Canção de 1978 com três composições, alcançando o 2º lugar com "O meu piano". Em 1980, com a canção "Um grande, grande amor", vence este certame com 93 pontos.
No eurofestival da canção de 1980, José Cid conquista um honroso 7º lugar com 80 pontos entre 19 concorrentes.
É o autor de outros grandes êxitos, como "Olá vampiro bom", "A Rosa que te dei", "Como o macaco gosta de banana", "Mosca Superstar" ou "Cai neve em Nova York".
É monárquico e vive actualmente em
Anadia.
Em 2004, José Cid participou em anúncios de uma conhecida marca de chás gelados, nos quais se interpretou a si próprio, cantando e vindo do espaço, enquanto proferia a frase: "Olá malta! Tudo bem? Tá-se?"
Discos (selecção)
Com o Quarteto 1111
EP's
1967 - A Lenda de El-Rei D.Sebastião
1967 - Balada para D. Inês
1968 - Dona Victória
Singles
1968 - Meu Irmão
1969 - Nas Terras do Fim do Mundo
1969 - Génese / Monstros Sagrados
1970 - Todo o Mundo e Ninguém
1970 - Back to the Country
1971 - Ode to the Beatles
1972 - Sabor a Povo
LP's
1970 - Quarteto 1111
1973 - Bruma Azul do Desejado (com Frei Hermano da Câmara)
1974 - Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas - Obra-Ensaio de José Cid
Com Green Windows
1974 - No dia em que o rei fez anos (LP DECCA slpdx 538)
A solo
EP's
1971 - Lisboa Perto e Longe
1971 - História Verdadeira de Natal
1972 - Camarada
1977 - Vida (Sons do Quotidiano)
LP's
1971 - José Cid
1978 - 10,000 Anos Depois Entre Venus e Marte
1980 - My Music
1991 - Camões, as Descobertas e Nós
2003 - Nasci p'ra música (Antologia)
Citações
Frases interessantes proferidas por José Cid.
"Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu." in Pública, 2003
"Tentaram e conseguiram pôr-me na prateleira. Mas a verdade é que os outros artistas estão na prateleira e eu estou cá." in Pública, 2003
"A nova geração tem de descobrir qual é o seu dinossauro Todos os países têm o seu dinossauro. Os franceses têm o Johnny Halliday, os espanhóis o Miguel Rios. Ambos são uma porcaria ao pé de mim. Sou infinitamente melhor do que eles e tenho uma melhor estética." in Pública, 2003
"Usem e abusem de mim. Estou cá, canto e bem ao vivo. Façam de mim o que quiserem. Estou com uma grande voz." in Pública, 2003
"Adoro o «Cantor da TV», a canção menos comercial daquele álbum [Nasci prà música]. Dificilmente conseguiria escrever [outro] tema daquela maneira. É muito bem esgalhado e muito bem tocado." in Pública, 2003
"Essa canção [Como o macaco gosta de banana] foi um escândalo. As pessoas julgaram que era uma canção ordinária. (...) Divirto-me à brava quando a oiço, porque é uma canção que não se pode levar a sério. Tem um sentido de humor de abandalhar o sistema." in Pública, 2003
"Olá malta! Tudo bem? Tá-se?" in anúncio Lipton, 2004
"Dá-me favas com chouriço." in Cabaré da Coxa, 2004
"Se o Rui Veloso é o pai do rock português, eu sou a mãe." in Queima das Fitas do Porto, 2004
Retirado de: Wikipédia

fevereiro 10, 2006

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA BATALHA DO BUSSACO









A Batalha do Buçaco, numa gravura desenhada pelo major St.Clair


A batalha de Buçaco teve uma importância capital para o resultado da campanha pela acção moral que exerceu nos dois exércitos contrários.
O exército anglo-luso perdeu o medo às águias napoleónicas, que ameaçavam dilacerar a Península.
Os ingleses reconheceram que os soldados portugueses eram dignos émulos no valor e brio militar, com os quais podiam e deviam contar. O moral do exército dos aliados foi exaltado.
Os franceses reconheceram que não eram invencíveis ao medirem-se com as tropas inimigas, que até então tinham em pouca conta.
As desinteligências que lavravam entre os generais franceses mais se acentuaram, e a incapacidade de Massena, já apontada por Ney antes da batalha do Buçaco, tornou-se frisante.
Massena sentiu-se golpeado no seu amor próprio: a Vitória abandonava o seu filho querido.
E, quando este julgava fazer calar os descontentes e insofridos por um estrondoso triunfo, viu que, ao contrário, a sua derrota mais ia insuflar a indisciplina dos generais seus subordinados.
Não estava de todo perdido o exército, podia haver ainda probabilidades de uma vitória; mas era preciso proceder com ponderação.
No Buçaco vira ele quanto Wellington se soubera aproveitar das propriedades defensivas do terreno.
Atacar novamente em terreno análogo seria uma temeridade, porque uma nova derrota poderia trazer consigo uma capitulação, mancha vergonhosa que viria empalidecer e murchar os verdejantes louros do herói de Rivoli, de Zurique, de Génova, de Caldiero e de Essling.
Era necessário ser-se prudente, ponderado.
A derrota do Buçaco cortou as asas a Massena e impediu que voasse até aos cerros de Alhandra, do Sobral de Monte Agraço, de Torres.
Se não fora a derrota do Buçaco, Massena teria sido mais ousado em frente das Linhas de Torres, e quem sabe, se não teria saído vitorioso.
A vitória do Buçaco teve, portanto, consequências imediatas e materiais, e mais ainda, consequências morais e futuras.
Apreciando agora a batalha em si, vamos fazer algumas considerações relativamente aos dois partidos.
Os reconhecimentos mandados executar por Massena foram muito incompletos. Os oficiais que os realizaram não souberam desempenhar-se da sua missão.
Daí resultou o erro de Massena. Julgando o flanco esquerdo do exército anglo-luso em Sula, e ignorando que se prolongava até ao ninho de Águia, adoptara os dispositivos para envolver a posição de Sula, o que não sucedeu.












Cena alegórica alusiva às invasões francesas



O ponto escolhido para o ataque, do 2.º Corpo - a portela de Santo António do Cântaro - era judicioso e de uma grande importância, pois a posse daquela parte da serra separaria as forças anglo-lusas. Uma parte do exército seria lançado sobre o Mondego e retiraria nas mais precárias circunstâncias, a outra parte seria cortada da estrada do Botão a Coimbra, sendo obrigada a efectuar uma retirada excêntrica, e permitindo aos franceses chegarem primeiro àquela cidade que o exército anglo-luso.
Destas considerações resulta que o ataque a Santo António do Cântaro deveria ter sido o principal, porque era o decisivo, e para isso Massena deveria ter empregado o 6." corpo e não o 2.°, visto que aquele tinha três divisões e este duas.
O ataque a Sula seria secundário. Mas estes dois ataques deveriam ter sido simultâneos para deixar o inimigo na indecisão. Não sucedeu, porém, assim.
Ney atacou 1h 30 m depois de Reynier, e quando este já tinha sido derrotado.
Esta falta de coordenação de esforços resultou da falta de ligação entre os dois corpos de exército.
É certo que Massena ordenara que esses ataques fossem simultâneos; mas não bastava ordenar, seria necessário tomar as disposições necessárias para garantir a execução dessa ordem.
Reynier cometeu também a falta de só empregar uma divisão na 1.ª linha, deixando uma outra como reserva; e quando esta foi chamada a intervir, apenas uma brigada avançou.
No 6.° corpo a divisão, que servia de reserva geral não chegou a enviar força alguma a apoiar as outras duas. As reservas parciais das duas divisões avançadas também. não foram judiciosamente empregadas.
Houve, pois, da parte dos franceses: má preparação, boa concepção e má execução.













General britânico


Examinando agora o que se passou do lado do exército anglo-luso, vemos que Wellington, ainda que vencedor, não pôde efectuar a perseguição, última, mas imprescindível fase de uma batalha, para se tirar todo o proveito da vitória. Isto era consequência da posição ocupada; pois a posição do Buçaco não permitia tomar a ofensiva.
Por isso na própria Inglaterra se disse «que a batalha do Buçaco fora uma batalha política e não uma batalha militar».
Mas se Wellington não pôde efectuar a perseguição, ainda pior foi o deixar-se surpreender tacticamente, visto que foi forçado a abandonar a posição duma maneira precipitada, tendo de efectuar a retirada sem ordem, e vendo-se obrigado a abandonar grande parte das suas munições, fardamentos, víveres e feridos.
E incompreensível que um exército vitorioso não tivesse a energia suficiente para se ir opor nos desfiladeiros do Boialvo a um inimigo derrotado!
Enquanto que o exército de Massena retirava para Mortágua pelo mau caminho de Boialvo, o exército anglo-luso podia, por um caminho mais curto, ir ocupar o Boialvo e deter, se não aniquilar, o exército francês que ousava fazer uma marcha de flanco em presença dum inimigo vitorioso.
Wellington não julgava que Massena efectuasse a retirada pelo Boialvo e confiava que Trant com os seus milicianos tivesse ocupado aqueles desfiladeiros, como ele determinara. Trant, porém, só pôde chegar ao Sardão no dia 28 à tarde e apenas com 1.600 a 1.700 homens.
Wellington, porém, devia com a sua cavalaria, que estava sobre a estrada da Mealhada, procurar informar-se do que se passava para aqueles lados.
Na guerra devem ser previstas e prevenidas todas as hipóteses.
A retirada do exército anglo-luso fez-se sem consequências graves, porque o exército francês perdeu por várias vezes o contacto, em virtude da lentidão da marcha. As tropas francesas careciam de calçado, de fardamento, de víveres e tinham poucas munições.
Quando teve lugar a batalha do Buçaco, havia três ou quatro dias que o exército francês não comia pão. «N'avons pas de pain depuis quatre jours» dizia Junot em uma carta enviada no dia 28 de Setembro a sua mulher.
Há quem tenha também atribuído o triunfo do exército anglo-luso no Buçaco à superioridade da táctica inglesa sobre a táctica francesa, o que já se tinha evidenciado na batalha do Vimeiro.
De facto, o exército inglês tinha passado por uma grande transformação, desde que o duque de York fora nomeado comandante em chefe. O regulamento táctico mandado publicar em 1798, e que era o resultado dum profundo estudo do regulamento francês de 1791 e dos regulamentos alemães, era muito superior àquele.
Além disso tinham sido criados campos de instrução para se ministrar o ensino prático, tendo já muitos regimentos recebido essa instrução.
Enquanto a infantaria francesa formava ainda em três fileiras, a infantaria inglesa adoptou a formação em duas fileiras, o que permitia maior rapidez nos movimentos e aumento da reserva, quando se não queria aumentar as frentes de combate, ou cobrir a frente principal com fortes postos avançados.
Foi até este último dispositivo o adoptado por Wellington, que mandara ocupar os grupos de árvores e casas ou depressões de terrenos, ao alcance da artilharia, com postos avançados que sustentaram um fogo enérgico contra as colunas francesas, obrigando-as prematuramente a desenvolver-se e tornando mais difícil e perigoso o avanço pelas ásperas encostas da serra.
A artilharia, ocupando os salientes, cooperou de uma maneira activa e judiciosa com .a infantaria, o que não sucedeu aos franceses, cuja artilharia não pôde sustentar as colunas de ataque.
A artilharia anglo-lusa representou um papel importante na batalha do Buçaco.
A infantaria, coberta como dissemos, por postos avançados, formava à retaguarda da crista do terreno, sustentada nalguns pontos por artilharia, que ocupava os intervalos, ou os flancos.
Em geral, os postos. avançados eram constituídos pelas 2 companhias extremas dos batalhões (1.ª e 10.ª) que eram formadas de atiradores de elite - granadeiros e caçadores. Como cada batalhão tinha 10 companhias, segue-se que 1/5 do seu efectivo era empregado nos postos avançados da posição.
Foi com este dispositivo táctico que o exército anglo-luso teve uma manifesta superioridade sobre o exército francês. As colunas francesas, precedidas por atiradores, chegavam exaustas à crista, tendo consumido os atiradores as suas munições no combate contra os postos avançados, e, quando se julgavam senhores do terreno, eis que surgia a linha principal dos defensores, executando uma descarga a 20 ou 35 metros e carregando imediatamente à baioneta. As colunas francesas não podiam resistir a esse choque, desapoiadas como estavam da sua artilharia, que não podia tomar posição na zona de terreno batida pelos fogos dos postos avançados e da artilharia avançada que ocupava os salientes.
Enquanto as forças atacantes chegavam cansadas e desunidas, as tropas anglo-lusas que ocupavam a linha principal, estavam frescas, sob a completa acção . dos chefes, e não desmoralizadas pelo fogo, nem pela vista do campo de batalha, pois se conservavam até ao último momento a coberto das vistas e do fogo inimigo.
As cargas à baioneta eram violentas, especialmente as realizadas pelas tropas portuguesas, tornando-se surpreendentes as que foram executadas pelos nossos regimentos de infantaria n.°5 8 e 19, que ali se cobriram de glória.
Têm, pois, razão os que atribuem à táctica de combate do exército anglo-luso uma parte considerável para o seu triunfo.
Todas as tropas portuguesas que tomaram parte activa na batalha se comportaram com grande valentia. Wellington e Beresford assim o reconheceram e manifestaram nas suas ordens do dia. Foram especialmente elogiados os regimentos de infantaria n.º 9 e 21, que formavam a brigada do coronel Champalimaud, infantaria n.º 8, comandada pelo tenente-coronel Douglas; os regimentos de infantaria n.os 7 e 19 e o batalhão de caçadores n.º 2, formando a brigada do brigadeiro Colleman, os regimentos de infantaria n.os 1 e 16 e o batalhão de caçadores n.º 4, formando a brigada Pack, os batalhões de caçadores n.os 1 e 3, que faziam parte da divisão Craufurd, o batalhão de caçadores n.º 6, que entrara na composição da brigada Campbell, as brigadas de artilharia, sob o comando do major Arentichild, a brigada de artilharia, anexa à divisão Spencer e a brigada de artilharia de montanha.
Mereceram ser citados em especial os nomes dos coronéis Champalimaud, Xavier Palmeirim e Souto Maior, dos tenentes-coronéis Sulton, José Maria Bacelar, Douglas, Jorge de Avilez, Nixan, Luís do Rêgo Barreto, Sebastião Pinto de Araújo, Elder, etc.
Beresford, na sua ordem do dia 28 de Setembro, e Wellington na ordem do dia 30, elogiam e mostram-se reconhecidos para com as tropas portuguesas que tomaram parte na batalha do Buçaco.
A sua manifestação era um justo preito à bravura dos nossos soldados.







A Sopa de Arroios em 1810


Fonte:
Vitoriano José César,Batalha do Buçaco, 3.ª Ed., Lisboa, Imprensa da Armada, 1930, págs. 28 a 35 (1.ª Ed., Ferin, 1910)